PANDORA ||Livro 2||

3

Pandora

─ Obrigada por me trazer aqui. ─ Moira falou após um longo período em silêncio.

Depois de se jogar em meus braços de forma tão desamparada, percebi que ela precisava dar um tempo e a trouxe para seu lugar preferido em Berkeley: a praia.

─ Uma vez você me falou sobre seu amor pelo o mar e sobre o poder que ele tem de lhe acalmar então achei que era exatamente do que precisava.

Moira pareceu triste ao sorrir, mas logo voltou a contemplar as ondas que se chocavam contra as pedras à nossa volta.

─ De quanto tempo é a gravidez? ─ questionei indo direto ao ponto.

─ De acordo com o aplicativo de idade gestacional, estou para terminar a vigésima primeira semana.

Meus olhos despencaram para sua barriga em assombro tentando enxergar alguma protuberância, mas o vestido azul solto disfarçava muito bem, já que ela não engordara muito.

─ Então foi por isso que você passou o verão inteiro sem ir a São Francisco. ─ constatei entendendo sua ausência durante as férias. Não que eu tenha passado cada minuto na mansão para saber o que acontecia, mas tinha sabido de seu afastamento e do quanto isso havia magoado Sônia. Moira não estava aceitando bem o noivado com Thomas e o relacionamento mãe-filha só piorou.

─ Uma olhada e ela saberia que algo estava acontecendo então fingi ter conseguido um emprego que me ajudaria com um apartamento razoável em New Raven, já que havia perdido o prazo para a solicitação dos dormitórios, antes de decidir não ir.

Ficamos em silêncio por alguns instantes até que ela retornasse a fala:

─ É do Dylan, caso esteja se perguntando. ─ ela limitou a dizer, ainda fitando o mar. ─ James e eu nos protegíamos sempre e mesmo assim paramos de transar depois do acidente de Adam.

─ Eu imaginei já que os vi juntos pelo campus após o dia dos namorados.

─ Você deve estar pensando que sou uma boba, não é? Voltar com o cara que me traiu e ainda por cima engravidar. ─ ela questionou, enfim me encarando. A postura ereta e pronta para a luta.

─ Não importa meu julgamento sobre sua vida amorosa, mas sim o que você pensa em fazer de agora em diante.

Moira deixou os ombros cair e abaixou os olhos antes de sussurrar que não fazia a mínima ideia.

─ Moira. ─ chamei atraindo o seu olhar novamente para o meu. ─ Você quer ficar com o bebê?

As lágrimas retornaram aos seus olhos enquanto uma mão viajou delicadamente ao abdome e acariciou uma - agora delineada no vestido largo - protuberância.

─ Eu tive muito tempo para pensar sobre isso e cheguei à conclusão de que não irei abortar. Com a gestação avançada, seria um risco enorme e, mesmo que não sendo o caso, ele não pediu para ser gerado e eu não poderia lhe negar a vida. Eu quero mantê-lo. Quero ter esse filho... O problema é que não faço a mínima ideia de como contar a Dylan e a minha mãe.

Eu entendia o seu medo. Dylan já havia abandonado Moira em vários momentos e quem poderia garantir que não o faria agora?

Quanto a Sônia, a coisa também era complicada. Ela foi abandonada pelo namorado quando anunciou a gravidez e sofreu o inferno ao criar a filha sozinha, já que seus pais, altamente conservadores, a expulsaram de casa. Moira fora criada envolta a muito amor e confiança, mas existia uma única regra: Não repetir os mesmos erros de sua mãe. Ter que lhe notificar sobre essa nova realidade não seria nada fácil.