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PANDORA


Suor mistura-se com as lágrimas que escorrem livremente e inundam o lençol enquanto firmo o rosto com as mãos. Meus olhos estão fechados com força em uma tentativa de encerrar as imagens que a mente projeta.

Todas as noites é a mesma coisa. Os gritos, as súplicas, a lama, o lodo e eles. O sorriso deles rasga o meu peito com garras afiadas e me rouba o ar.

Eu preciso de ar. Preciso sair daquele mundo. Preciso de Adam.

Ele nunca será seu.

É o que o fantasma de Lianne me expressa com os olhos, enquanto me vê afundar no mar lamacento da minha própria desgraça. O choro fica mais forte. Quase incontrolável. Minha mente ganha poder e me aprisiona naquele sofrimento. Olhos abertos ou fechados, as projeções eram as mesmas: Adam tinha ido embora.

O toque estridente do celular me traga de dentro da minha caixa infernal e traz à lucidez do dia claro. Respirando pesado, atendi a chamada, com voz apática só para ser bombardeada por Esmery e sua preocupação maternal.

─ Estou bem, mãe. Só bebi demais na festa de ontem.

Mentira.

Mal havia levado aos lábios uma dose de tequila, mas aquela desculpa seria melhor do que lhe falar sobre balinhas alucinógenas ou mesmo a verdade.

─ Querida, sei que o período universitário é uma experiência única na vida, mas, por favor, não se exceda. Coisas ruins acontecem quando deixamos o álcool falar mais alto.

─ Relaxa, Esmery. Não vou ficar super louca e acabar abrindo as pernas para um cara, cuja namorada inocente e apaixonada esteja há quilômetros de distância cuidando da mãe adoentada. Não atingirei esse nível de falta de caráter, não importa o número de shots que possa vir a ingeri.

O silêncio magoado do outro lado da linha despertou o remorso em mim. Não queria esfregar aquele erro que abalou tantas vidas em sua cara, mas odiava quando ela vinha bancar a incorruptível mesmo tendo sua cota de merdas à vista.

Me mexi na cama passando a língua pelos lábios desidratados e reprimi um gemido por conta do dolorimento no corpo causado pelo ecstasy. Minha boca parecia um deserto e o gosto característico do entorpecente dominava o paladar de forma intensa me levando a considerar se o dia seguinte compensava todo o prazer da 'viagem' que o produto produzia.

A resposta era não, mas eu pouco me importava.

─ Você está precisando de algo? ─ questionei quando a mudez se prolongou.

─ Sim. ─ ela assumiu com a voz trêmula. ─ Eu preciso de você.

E com aquela declaração dos infernos, Esmery quebrou mais uma parte da minha alma dilacerada.

Por que ela tinha que ser assim? Por que permanecia insistindo em me resgatar de um buraco que faço questão em continuar aprofundando? Por que ela simplesmente não desiste e vai ser feliz? Por que tinha sempre que partir meu coração ao me transformar na vilã desprezível e cruel?

Abri a boca para expor todos os meus questionamentos, mas as palavras simplesmente morreram na garganta e não consigo confrontá-la porque que no fundo, queria que alguém lutasse por mim. Mesmo que fosse uma batalha perdida.

Esmery coça a garganta antes de retomar a fala, talvez ciente do quão forte fora a sua declaração ou simplesmente para encerrar o silêncio esquisito.

PANDORA ||Livro 2||Onde histórias criam vida. Descubra agora