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ATENÇÃO

O capítulo a seguir contém cenas de gatilho emocional e diálogos autodepreciativos. 



Pandora


O cheiro de torrada e bacon despertou os meus sentidos fazendo o estômago roncar alto em protesto ao jejum a que foi forçada desde a noite passada quando...

Não queria pensar no que havia ocorrido. Não queria mais ter que reviver toda a dor e desesperança que estar nos braços de Adam fez retornar ao meu coração, já resignado.

Ceder a ele fora um erro monumental e não só por saber que não passaria de um interlúdio diante a guerra que travávamos, mas também porque minha fraqueza levou à traição.

Eu havia enganado Keeran. Justo a única pessoa disposta a aceitar toda a merda de bagagem que me acompanhava. O único a realmente ver minha maldição com bons olhos. No fim, não valia tanto quanto pensava. Era igual ou pior a todos os outros que tanto julguei.

— A fruta realmente não cai muito longe da árvore. — recitei para meu reflexo, dando total razão à comparação que Esmery sobre eu ser como Chad.

Eu era exatamente como ele. Egoísta, pretenciosa, inconsequente e desleal. Não havia nada de bom que merecesse ser salvo aqui, não mais.

Aceitando o inevitável, levantei da cama confortável de Moira e caminhei para o banheiro. Ela havia me dado uma escova nova e uma toalha limpa depois da minha chegada tempestuosa e não perguntou nada, apenas permitiu que eu ficasse e me abraçou até a exaustão obliterar as lágrimas e a dor.

A água morna pareceu remover toneladas dos meus ombros fazendo todos os músculos do corpo mais relaxados. Fechei os olhos e me deixei apenas sentir. Quando enfim terminei, todo o lugar estava envolto na névoa formada pelo calor. Enrolei a toalha em volta do corpo e a fixei firme antes de desembaçar o espelho para contemplar meu triste reflexo.

Eu odiava a minha figura. Odiava o cabelo ruivo natural, os olhos verdes chamativos, a pele sedosa cujas sardas lhe davam um ar inocente e odiava os lábios cheios e rosados que sempre atraíam toda a atenção. Odiava todo o quadro harmonioso porque era um invólucro que servia de isca para uma grande armadilha, assim como o queijo servia à ratoeira.

Quando olhavam para mim, as pessoas viam a bela embalagem e se deixavam seduzir, mas eu conseguia ver o que os atributos escondiam com perfeição: um ser em avançado estado de decomposição tal como Dorian Gray e seu retrato. Alguém nocivo, decrépito e contagioso. Alguém que invocava nojo e distanciamento. Essa era a verdadeira Evangeline Atwood. Tão parecida com o pai quanto a serpente com o diabo.

— Que você viva para sempre. — falei ao meu verdadeiro eu como uma forma de invocar toda uma vida de punição, dor e vergonha por todos os erros cometidos e que jamais seriam perdoados antes de sair do cômodo.

O cheiro vindo da cozinha continuava a enfeitiçar meu estômago quando adentrei o recinto para encontrar James, já completamente vestido, à beira do fogão.

Ele realmente havia crescido em músculos desde que saíra da universidade para o treinamento dos Trojans e o ganho, assimilado ao eterno bom humor, só contou a seu favor.

— Bom dia, maninha. Chegou na hora certa. As panquecas acabaram de ficar prontas. — o loiro falou com a animação mais irritante do mundo.

— Maninha? — questionei arqueando uma sobrancelha.

PANDORA ||Livro 2||Onde histórias criam vida. Descubra agora