7

1.4K 175 27
                                    



Pandora

O quarto estava mergulhado nas trevas quando abri os olhos novamente. Pisquei algumas vezes tentando ajustar a visão ao ambiente e elevei o tronco para me sentar, mas logo voltei à posição inicial ao sentir as pontadas excruciantes na minha cabeça. Alguém estava tocando rumba lá dentro e pela animação, não iria parar tão cedo. Com cuidado, levei a mão ao criado mudo e tateei em busca da gaveta para alcançar os analgésicos, mas esbarrei em um objeto leve que, pela colisão, encharcou minha mão com um líquido denso e viscoso.

Liguei a luminária e me deparei com o copo contendo algo semelhante a um shake, mas da cor de cimento e dois comprimidos ao lado de um papel escrito beba até o final. Eu conhecia a grafia. Era de Adam.

Dando de ombros, coloquei a medicação na boca antes de entornar a gororoba cinzenta. Deus, aquilo era horrível!

Seguindo a orientação, me forcei a engolir até a última gota e voltei a cair na cama desejando estar morta. O ecstasy de Esposito era muito mais potente do que os de Keeran, porém seus efeitos também. A noite fora terrível. Descontrole, excitação sensorial, tátil e sexual seguidas de episódios de vômitos e intensos calafrios antes do apagão total me levou a decidir jogar o restante na privada e dar a descarga assim que possível. Minha experiência com esse tipo de entorpecentes havia chegado ao fim com toda a certeza.

Fechei os olhos para voltar a dormir, mas o abre e fecha de portas no corredor eliminou a possibilidade. Aquelas vacas não sabiam que um moribundo precisava de silêncio para morrer em paz?

Risinhos baixos ecoaram levando embora a pouca paciência que me foi concedida, mas antes que eu forçasse qualquer movimento do meu corpo destroçado em direção ao mercado que o corredor havia se transformado, o trinco da porta balançou e ela se abriu. Era Adam. Com Kasey.

Permaneci de olhos fechados e tentei controlar minha pulsação ao ritmo mais próximo do de alguém em repouso. Não queria ter que encará-lo depois das confissões da noite passada e muito menos ter que ver o sorrisinho desdenhoso daquela víbora peçonhenta.

─ Ela conseguiu tomar aquela gosma pavorosa que você chama de remédio. ─ Adam sussurrou para Kasey e eu tive que reprimir a vontade de vomitar.

─ Sou obrigada a reconhecer que ela é durona. A receita da vovó Monroe não é para qualquer um.

Ela estava próxima, pude presumir. Se eu fosse rápida o suficiente daria para voar na sua jugular e arrancá-la. Seria lindo, embora nojento, ver o sangue jorrar.

─ Espero que ela esteja bem para comparecer ao jantar essa noite. Esmery não terá outra oportunidade de conseguir encontrá-la depois de ontem.

Mamãezinha fuxiqueira já foi derramar suas lágrimas no colinho do filhinho postiço.

─ Ela estará um pouco mal-humorada, mas isso não será grande novidade.

Kasey estava fazendo valer cada fantasia mórbida que minha mente produzia naquele momento. Nem a Águia de Sangue mostrada em Vikings faria frente aos planos que eu tecia.

─ Eu ficaria aqui até ela acordar, mas preciso resolver umas coisas em São Francisco.

─ Não se preocupe. Vou pedir a Miranda que venha dar uma olhada de vez em quando já que as duas parecem ter se dado bem. Vá trabalhar e descanse um pouco, para variar. Quase não dormimos noite passada.

Procurei na mente algo que remetesse à sua presença reptiliana em meu quarto durante a noite, mas não me veio nada. Eu não conseguia compreender como ela poderia ter ficado insone na calmaria do seu quarto.

PANDORA ||Livro 2||Onde histórias criam vida. Descubra agora