Prólogo - Em consequência dos meus erros

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O acordo que meu pai fez com nós três naquelas férias era bem simples: se fizéssemos todas as nossas tarefas e seguíssemos as regras, poderíamos ir para a viagem

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O acordo que meu pai fez com nós três naquelas férias era bem simples: se fizéssemos todas as nossas tarefas e seguíssemos as regras, poderíamos ir para a viagem.

A viagem era algo organizado pelo internato, do fundamental II ao Ensino Médio, e isso englobava Allyssa, eu e Alinna. Então nós três prometemos que faríamos tudo direitinho.

O meu interesse na viagem era um só: conseguir a melhor avaliação de liderança do acampamento e assim adquirir um bônus para quando fosse concorrer à representante da minha classe.

Para Allyssa era fácil seguir as regras, aquilo fazia parte da natureza dela. Para mim e Alinna aquilo era algo mais complicado mas que, na verdade, funcionou muito bem até uma noite antes da viagem.

Por algum motivo que nunca vou entender, achamos que era uma boa ideia explorar o antigo quarto do vovô. Então lá estávamos nós, bem depois da hora em que Allyssa tinha passado para ver se estávamos dormindo, investigando todas as velhas estante e bugigangas que nosso avô acumulava.

O quarto era proibido para nós por motivos óbvios: provavelmente quebraríamos metade das coisas lá só de entrar. Mas tudo o que proibido é mais legal. Então fomos.

Quando estávamos lá dentro, acabei puxando uma lança que achei interessante, sem ver que ela estava apoiando um monte de outras coisas e tudo caiu no chão, fazendo um barulho horrível. Corri para longe daquilo bem rapidinho e Alinna pegou a lança para conseguir passar. Foi quando papai abriu a porta.

Ele olhou de mim para ela, tentando entender o que estava acontecendo. E quando exigiu explicações, fui mais rápida.

Inventei uma história toda elaborada. Disse que acordei e não vi Alinna na cama e sabia que ela queria olhar as coisas do quarto, por isso fui atrás dela e isso teria sido pouco antes de papai chegar ali.

Alinna tentou se defender, gritou, chorou, fez o maior escândalo tentando provar que a ideia tinha sido minha e que fizemos tudo juntas. E eu fiquei com medo que ele acreditasse, porque todo mundo sabia que Alinna era sua favorita. Mas permaneci firme na minha história, mentindo sem nem piscar. Ele acreditou em mim.

O castigo era claro e quando voltamos para o quarto, Alinna se recusou em sequer me olhar. Ela chorou até dormir. E eu não consegui pregar o olho. Muito tempo depois de ela ter dormido, seu corpo ainda tremia com os soluços das lágrimas derramadas.

E ver aquilo fez eu me sentir a pior pessoa do mundo. E talvez eu fosse naquele momento. Quando não suportei mais a culpa, levantei da cama como se o quarto me sufocasse e fui até o quarto de meu pai.

Ele acordou confuso quando o chamei.

- Papai, preciso falar uma coisa. - Eu disse, sem encara-lo, apertando as mãos à frente do corpo. - Eu menti. Linna estava dizendo a verdade.

- Como assim? - Aquilo pareceu desperta-lo.

- A ideia foi minha e fui eu que fiz aquela bagunça. Ela não teve culpa dessa parte. Só foi lá porque sugeri.

- Por que você mentiu, Angel? - A voz do meu pai soou firme, sem nenhum sono. Me encolhi.

- Porque se não perderia a viagem. E eu queria muito ir por causa dos projetos que me ajudariam com a eleição de representante da turma.

Meu pai ficou em silêncio por um momento em que o encarei, ele olhava-me, incrédulo.

- Angel Demitrion Récler, saiba que estou profundamente decepcionado. - Aquelas palavras me atingiram muito mais forte que o peso do castigo. - Você mentiu para mim, sem sequer mudar o tom de voz, sabendo que isso prejudicaria a sua irmã e ainda contestou quando ela tentava dizer a verdade. - Cada palavra me feria como uma lâmina, ainda mais porque conforme prosseguia, ele soava mais magoado. - Sou seu pai e você olhou nos meus olhos e mentiu apenas para alcançar as suas ambições. Não esperava isso de você, filha.

- Desculpe... - Respondi, com a voz embargada. - Na hora eu não pensei nisso. Eu só... Achei que não era nada demais, mas quando eu vi a Linna chorando... Desculpe, papai. 

- Você sabe o que vem agora, não é?

Assenti, enxugando o rosto, ainda sem encara-lo.

- Sim. Vou pedir desculpas a ela de manhã. E... Não vou para a viagem.

- Exato. Quero que volte para o seu quarto e durma. Está tarde. Amanhã conversamos.

- Sim, papai.

Virei-me sem olha-lo e voltei para o meu quarto, mas não consegui dormir.

Na manhã seguinte, quando Alinna acordou, pedi desculpas e contei que já tinha falado com nosso pai, mas ela ainda saiu do quarto irritada e seu rosto ainda estava um pouco vermelho. Eu não quis tomar café à mesa com todos, envergonhada.

Às 08:00, minhas irmãs estavam saindo e papai e eu fomos para a porta, nos despedir delas enquanto as mais novas ainda dormiam. Observei enquanto o carro passava pelo portão, pensando nos meus erros. Meu pai apoiou a mão no meu ombro.

- Vamos caminhar um pouco. - Falou, indicando o jardim.

Descemos os degraus e começamos a andar entre as plantas, ouvindo os passarinhos e o mar, reparei em nossas sombras lado a lado e em como nosso andar era parecido, os dois com as mãos nos bolsos e a mesma postura altiva. Então meu pai começou a falar.

- Sabe, Angel, fiquei muito decepcionado com o que você fez ontem. Mas já lhe disse isso e acho que sua punição já foi suficiente. - O encarei, perguntando-me se ele fazia ideia de como aquilo era verdade. - Mas queria te dizer que fiquei satisfeito por você ter confessado. Isso... Mostra ao menos um pouco de maturidade. Sabe, filha, se há algo que admiro em você, é a sua ambição. Você sabe o que quer e luta para conseguir. E isso é bom. Mas você tem que aprender a diferença entre ambição e ganância. Porque uma coisa está muito próxima da outra. A ambição é essencial para você alcançar qualquer coisa, mas quando para isso você passa por cima de tudo e todos, sua ambição torna-se ganância. E nada consegue ser mais destruidor que a ganância. - Ele apoiou as mãos nas costas e olhou-me com atenção. - Quero que você prospere, minha filha, nunca duvide disso, mas que faça isso com justiça e misericórdia. Você tem muita ambição e, se não tiver cuidado, isso pode te destruir um dia. Estamos entendidos?

- Sim, papai.

Papai me ofereceu o braço e enlacei o meu ao dele, então subimos para o Gabinete onde passei o dia com ele, aprendendo um pouco sobre o seu trabalho sem saber que aquela lição seria muito valiosa dali a quatro anos, quando o reino de Arabelle estava em minhas mãos e minhas ambições eram claras e arriscadas.

Papai me ofereceu o braço e enlacei o meu ao dele, então subimos para o Gabinete onde passei o dia com ele, aprendendo um pouco sobre o seu trabalho sem saber que aquela lição seria muito valiosa dali a quatro anos, quando o reino de Arabelle esta...

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Rainha Imprudente [REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora