Rainha Imprudente [REVISADO]

33 - Algumas tradições de Agnes Demitrion

Josh não mandou mensagem e eu também não falei com ele. Não era minha culpa, eu só estava realmente fazendo o meu trabalho, se ele queria ficar irritado com isso, que ficasse, eu tinha mais o que fazer e isso incluía os últimos detalhes da organização da festa de Annabelle. Seu último aniversário antes do anonimato, o primeiro em que usaria saia longa e tiara e o dia em que receberia o diário de mamãe. E eu ficara responsável por entregar, já que, então, era a mais velha.

Sendo o seu décimo aniversário, muitas coisas mudariam para ela, muitas conversas difíceis e constrangedoras viriam por aí, mas essas eu deixaria para Allyssa ou para papai, bem, para quem se responsabilizasse por isso, eu já teria que aguentar possíveis lágrimas com a parte do diário.

Enquanto embalava com papel seda o pequeno caderno com a flor entalhada na capa de couro, não conseguia parar de recordar-me do meu próprio aniversário de dez anos.

Fazia quase um ano desde a morte da nossa mãe. Três anos desde o décimo aniversário de Allyssa e eu ainda lembrava nitidamente de como Agnes Demitrion preparara sua primogênita para a ocasião e lembrava-me também de como ela não estaria ali para fazer isso comigo. Não haveria uma rainha para passar à princesa todas as tradições preservadas por gerações e gerações de moças da nossa família. Mas havia uma herdeira. E, diga-se de passagem, uma herdeira muito dedicada.

- Muito bem, está tudo perfeito. - Disse Allyssa quando acabou de escovar meu cabelo pela vigésima vez naquele dia. - Ah, não, espera. Onde está aquele colar que papai te deu?

- Josie guardou junto com os outros. - Respondi, cansada daqueles preparativos.

Allyssa saiu e me deixou sozinha na penteadeira, encarando a caixa de veludo preta onde estivera a tiara prateada que agora se destacava entre os fios vermelhos do meu cabelo. Minha irmã voltou com o colar que trazia um pequeno pingente com uma pedrinha de diamante, algo que remontasse nossa descendência com a casa de Demitrion e suas rosas brancas.

- Angel, não fica fazendo bico assim. - Ela alertou, quando olhou para minha imagem no espelho.

- Não estou fazendo bico.

- Está, sim. - Allyssa colocou algumas mechas do meu cabelo para frente, ajeitando algo que não precisava de ajustes. - Olha, eu sei que não é fácil, não é como queríamos, mas é o que temos. Não vou pedir que não fique triste, só não quero que passe a festa toda emburrada. É seu aniversário de dez anos, você vai experimentar todas as coisas novas das meninas grandes, não era isso que queria?

- Eu queria a minha mãe.

Allyssa suspirou.

- Sei disso. Mas mamãe está morta e mesmo que nós desejemos algo diferente, continuará assim. Lembre-se do que ela disse: para seguirmos em frente. Faça isso por ela, ok? Será que pode ao menos tentar?

Apenas assenti, mas ainda fazia uma cara feia. Allyssa balançou a cabeça e saiu do quarto, deixando sobre a cama um embrulho de papel seda listrado em branco e vermelho, como uma bengala de natal.