Rainha Imprudente [REVISADO]

1 - A nova corte de hortências

Observei meu reflexo no espelho enquanto Josie prendia meu cabelo numa trança embutida, cantarolando alguma música que eu desconhecia.

- Está nervosa? - Ela perguntou, vendo que eu a encarava.

- Um pouco. - Admiti, observando-a. - Acho que estou prestes a fazer uma loucura, Josie.

- Pensei que já tivesse feito uma ontem. - Ela disse, com um sorriso. - A senhorita está em todos os jornais.

Tentei não pensar no anúncio que estampava a maioria daquelas manchetes, algo como "Princesa herdeira de Arabelle dá um pé na bunda do seu noivo e pode iniciar uma guerra", deveria ser algo mais ou menos assim que Josie vira.

- Aquilo foi só o início do que estou prestes a fazer.

- Bom, então espero apenas que não faltem folhas para a impressão dos jornais. - Concluiu, no tom bem-humorado de sempre. - Não se preocupe, querida, estarei sempre aqui no fim do dia para te preparar um banho morno e pentear seu cabelo como se a senhorita ainda fosse criança. Eu gostava quando conseguia fazer seus penteados altos sem ter que ficar na ponta dos pés. - Comentou a moça que cuidava de mim desde a infância e que eu não trocaria por ninguém.

- Nos conhecemos há muito tempo, não é, Josie?

- Ah, sim. Vi a senhorita desse tamanhinho. - Ela mostrou mais ou menos a altura que eu deveria ter. - Vossa alteza tinha oito anos. A rainha me escolheu dentre as outras garotas para cuidar da senhorita e da sua irmã.

- Eu e Alinna dávamos muito trabalho.

- A rainha nunca disse que meu trabalho seria fácil. - Concluiu, deixando meu cabelo e apoiando as mãos nos meus ombros. - Pronto, acabei. Vou escolher um par de sapatos bonitos para a senhorita.

Ela saiu e eu me vi sozinha na frente do espelho, pensando um pouco no que faria naquele dia, em todas as coisas que tinha que organizar para os próximos dias, queria pôr meu plano em prática antes do fim da semana e isso exigia muito esforço.

Calcei meus pés com as sapatilhas pretas que Josie trouxe e finalmente saí do quarto, seguindo pelo corredor e escadas antes de parar numa porta e bater. Quando entrei no quarto, Allyssa, minha irmã, estava sentada numa poltrona com seu bebê no colo, ela levou o dedo aos lábios e eu fiquei calada. Esperei enquanto ela colocava o pequeno Thomas adormecido no berço e saímos, encostando a porta.

- Era o que? - Ela perguntou.

- Queria saber se você não quer ser minha conselheira temporária. O que me diz?

- Papai não deixou alguém para isso?

- Deixou o Fernando, mas eu prefiro você.

- Você não pode mudar o conselheiro assim.

- Posso. - Dei de ombros. - Eu sou a rainha. - Aquela frase era doce aos meus lábios. Ela balançou a cabeça.

- Eu aceito, para te vigiar. Mas pare de abusar do seu poder absoluto. - Ela alertou, enquanto caminhávamos pelo corredor. - Por que sinto que você vai fazer alguma coisa que eu não faria?