Powersnake

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O sol brilhava forte, aquecendo a tarde úmida em Marine. Os mercantes portuários cessaram suas conversas quando viram a sombra de um colossal veleiro despontar do horizonte. Feita de madeira branca adornada com ouro, a embarcação imponente rasgava as águas portuárias, as imensas velas estampadas com o brasão Goldstein projetando sombras nas docas, fazendo todos os transeuntes sentirem-se pequenos.

O veleiro atracou graciosamente, pilotado com maestria. Alguns curiosos se reuniam ao redor da embarcação, enquanto outros se afastavam, um pouco receosos. Os que chegaram perto não tardaram a ver uma silhueta surgindo a estibordo do convés, emoldurada e encimada pela luz solar, apenas o dourado de seus cabelos e vestes brilhando como fogo. Um serviçal indefinido apareceu ao seu lado e prontamente desceu a rampa, permitindo a surrealmente elegante figura de Hersa Goldstein descer com passos equilibrados e firmes até a doca. A luz que a consumia revelava um par de botas formosas e finas.

Quem havia se reunido agora se afastava para reverenciar a Rainha Dourada, que não dignou um único olhar a ninguém além da outra figura que descia agora do barco: ao contrário da rainha, esta parecia absorver a luz do sol e a repelir em seguida, imersa no que lembravam trevas mágicas. O vestido vermelho e preto cobria todo o seu corpo, e o capuz negro ocultava a maior parte de seu rosto, revelando apenas a pele mortalmente pálida abaixo, contrastando com o batom escuro. Bellatriz também desceu do veleiro, juntando-se à rainha com uma expressão desagradável, parecendo desejar apagar o sol e a felicidade que rondava aquele ambiente.

Conforme atravessavam o porto, Hersa fez questão de parecer bondosa e agradável, cumprimentando alguns poucos sortudos selecionados e não se esquecendo de uma única criança — mas logo elas recuaram, com medo, tremendo. Confusa, Hersa olhou para trás e viu que Hallgor havia chegado, aquela montanha monumental de músculos grotescos, e engoliu em seco, deixando a cordialidade para trás e acompanhando Bellatriz, que, irritada pela lentidão com que se moviam, pisava pesado na direção dos portões da cidade.

As pedras da muralha continham notáveis subtons em verde marinho e pareciam estar todas úmidas. Os portões arqueados tinham decorações em madeira que os faziam parecer o leme de um navio, referenciando e reforçando que Marine era uma cidade portuária, com um grande tráfego de embarcações, baseando suas economias nisso. Os dois guardas que ladeavam o portão, ambos trajando armaduras azuis, reverenciaram a rainha de imediato, afetados por sua presença soberana, e não fizeram objeção alguma à sua entrada, prontamente abrindo caminho para a sua passagem. Ainda assim, Hersa endireitou a gola do vestido garboso e disse:

Viemos ao encontro do rei.

— Certamente que sim, majestade — disse um dos soldados, intensificando a reverência. — Nós acompanharemos a senhora. Esses dois estão com você?

— À exceção da criatura grotesca ali, sim — resmungou Hersa, relanceando um olhar para Hallgor, que se distraía com um grupo de mulheres passando e não lhe deu atenção. — Levem-no até algum lugar onde ele não seja uma ameaça. Antes de partir, eu volto buscar o animal.

O soldado indicou ao outro que acompanhasse o brutamontes. Com medo, ele se aproximou e tocou o braço imenso, fazendo menção de puxá-lo, mas Hallgor grunhiu e o empurrou com força.

— Homenzinho azul encostou em Hallgor! Não encoste em Hallgor!

— Hallgor — chamou Hersa com uma voz sedutora. — Ele vai te levar a um lugar com bastante bebida e javali. Você gosta de javali, não gosta?

O meio-orc maldito coçou a barriga.

— Gosta. E Hallgor tem fome!

— E-Então pode vir comigo — titubeou o soldado, indicando um caminho, mas não ousando tocá-lo de novo. — Tem... bastante javali. Pode vir.

Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora