Raining Blood

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— Rafhyr, a minha irmã foi levada para a prisão de segurança máxima?

O soldado engoliu em seco ao observar cada mancha de sangue na arena. Cada resquício de morte que Lyfallia Vallenne, rainha dos elfos, se certificara de deixar ali como um lembrete histórico de seu golpe contra o reino.

O corpo de Rhys ali ficaria, empalado e caído, até que se tornasse pó. Nas escadas internas da arena, os restos dilacerados de Annallee não foram e nem seriam removidos. Aquela arena serviria como um memento cruel de que apenas ela, Lyfallia, tinha direito ao poder. E todos saberiam disso.

— Sim, majestade — disse Rafhyr. — Deseja vê-la?

— Em instantes — respondeu Lyfallia.

Ela deslizou do mezanino para as escadas. Com um nó no estômago, o soldado a seguiu sem hesitar. Acompanhou-a até o ponto em que a antiga rainha jazia jogada contra a parede, cheia de marcas de dentes podres pelo corpo indiscernível. A única coisa identificável naquela massa de carne ensanguentada com uma vaga forma humana era a coroa dourada, ainda firme sobre a cabeça.

Lyfallia se agachou e a apanhou, então suspirou como se algo a incomodasse.

— Rafhyr — disse —, onde foi forjada esta coroa?

— Majestade... — Ele pareceu se esforçar para lembrar. — Se bem me recordo, creio que foi forjada em Eindhelm.

— Uma coroa élfica forjada em terras de anões — murmurou a rainha. — Patético.

— Você não gosta da coroa, Majestade?

— Ela simboliza um antigo reinado. Uma antiga rainha... e uma antiga era.

— Podemos pedir para que forjem uma nova.

Um sorriso mostrou que ela gostara da ideia.

— Apenas exijo que a coroa seja forjada aqui, em Nylvellion, por ferreiros do nosso povo. Aquele que a trouxer até mim terá minha gratidão.

— Comunicarei a forja.

Lyfallia retornou ao topo da escadaria, e Rafhyr a seguiu. Mesmo em meio a tanta sujeira, podridão e morte, ela permanecia absolutamente garbosa, perfeita e límpida. Não havia outra explicação além de magia e encantos.

Ela voltou ao mezanino da arena e arremessou a coroa de lá. O tilintar do ouro contra o solo rachado foi seco e melancólico.

⊱◈◈◈⊰

Dois guardas parrudos barravam a porta de bronze que levava à prisão de segurança máxima. Era uma única cela cavada na própria rocha de uma montanha, sem brecha ou rota de saída alguma além da principal. E um dos guardas sentiu os joelhos fraquejarem ao perceber de muito longe o perfume e a aura poderosa da nova rainha. Quando a viu fazer a curva na esquina da rua de pedra, ladeada por Rafhyr, sentiu um aperto afiado no coração e uma singela falta de Rhys. De um reinado não comandado por uma ditadora.

O guarda ao lado dele, no entanto, parecia sentir apenas raiva daquela aparência celeste. Quando ela se aproximou, as mãos entrelaçadas no abdômen, ele torceu o nariz e disse:

Lyfallia. Posso ajudar?

As sobrancelhas douradas se arquearam para ele.

— É Majestade para você.

— Me recuso.

Primeiro Lyfallia o encarou com incredulidade, depois riu.

Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora