༺۵༻
— Você parte meu coração falando assim comigo — disse a garota por trás da ofuscante luz azul. Era possível ver apenas seus olhos luminosos e seus cabelos lisos da mesma cor que a luz, embora tivessem mechas roxas aqui e ali.
— Eu não dou a mínima para isso, garota — disparou Jon.
— Vai mesmo me abandonar?
— Se veio até aqui para me impedir de partir, desista.
— Jon, use seu cérebro! Você não sairá impune de seus atos! — exclamou a garota ao se aproximar do rapaz, que, pelo canto dos olhos amarelos, a encarava com o olhar de desprezo mais fustigante que ela já recebera na vida.
— Não existe um homem neste mundo que possa me derrotar.
— Não sou um homem. — Ela respirou fundo. — Você é... prepotente, egoísta, metido e extremamente... encantador. Sem dúvida alguma, o erro mais lindo da minha vida — completou, colocando as mãos nas costas dele.
Jon respirou o mais fundo que pôde, soltando o ar com força. Milhares de coisas se passavam pela sua cabeça naquele momento, tantas quanto as estrelas no céu noturno sobre os dois.
— Me perdoe, mas eu não posso ficar — murmurou ele, virando-se para encarar a garota.
Quando aqueles dois pares de olhos se encontraram, o choque entre o dourado e o azul, ambos reluzentes, criou um bonito clima de romance e melancolia que pareceu espantar o frio daquela gélida noite. A delicada mão da moça se ergueu e tocou o rosto do rapaz, e ela derramou uma lágrima.
Céus, era tão linda. A pele pálida impecável cobria todo o seu rosto, e linhas pretas da maquiagem escorriam dos olhos cerúleos conforme mais lágrimas caíam, atravessando a macia bochecha, passando pelo fino nariz desenhado e pela boca de lábios rosados que se contraíam com o choro acabrunhado. A umidade excessiva do ar fazia seus cabelos azul-claros e roxos ficarem escorridos ao lado do rosto divino, descendo até seu peito, que era coberto por um agasalho de couro preto com mangas compridas, repleto de botões e adereços prateados, assim como suas calças e botas.
Com a mão livre, ela pegou a de Jon.
— Por que não posso ir com você?
— Você é fraca — respondeu ele, simplesmente. — Não em questão de poderes, mas sentimentalmente. Fraca.
— Sou fraca por amar?
— O que você sente não é amor. É uma dependência que você mesmo criou e da qual não consegue se livrar — afirmou Jon, tirando a mão gelada, porém macia, da garota de seu rosto.
Ela suspirou, abriu os olhos marejados de lágrimas e o encarou pela última vez.
— Nem mesmo um beijo de despedida? — Mais um pedido do que uma pergunta.
— Não sou do tipo que se despede.
— Então... adeus?
— Nos encontraremos novamente um dia — disse Jon. — E, quando isso acontecer, me mate. Ou eu matarei você.
A garota arregalou os olhos e sentiu seu coração murchar. Mais lágrimas começaram a escorrer de seus belos olhos conforme seu amado se distanciava. Em um certo ponto, ele parou e olhou para trás, surpreendendo-se por não sentir nenhuma emoção ao ver uma pessoa que o amava mais do que qualquer coisa de joelhos no chão, coberta por amargura e angústia. Então, ela ousou tirar as mãos do rosto e fitá-lo nos olhos — terrível erro.
Apenas um lampejo vermelho naquele maldito par de olhos, e o feitiço recaiu sobre seu corpo vulnerável como um raio, inundando sua mente fragilizada com imagens tão terríveis que palavras não poderiam descrever. Cada contração muscular irradiava uma torrente de dor insuportável por todo o seu ser, como se cada um de seus ossos estivessem sendo quebrados ao mesmo tempo, triturando sua sanidade.
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Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. I
FantasíaJon Hansen, um necromante de poder inimaginável, tem um objetivo definido e imutável que perseguirá com determinação absoluta até que o concretize completamente: provar ao resto do mundo que é o ser vivo mais poderoso . No entanto, realizar tal feit...