Your Love Is Evil (Pt. 1)

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Os queixos de Samwell e Yasmin despencaram no mesmo momento. A cigana engoliu em seco, singelamente inclinando a cabeça para a frente.

— Você não pode fazer isso.

— Eu posso fazer o que eu quiser — retorquiu o necromante.

— Jon, Yasmin está certa — disse o bárbaro. — Você não pode simplesmente matar o governante de um reino porque não gosta dele. Na verdade, não pode simplesmente matar pessoas só porque não gosta delas.

— Matando o rei e suas filhas — começou Yasmin, cuidadosamente —, quem assume?

Jon sopesou por um momento.

— Podemos condenar os elfos. Fazê-los me seguir — disse ele, vagamente, contemplando a lareira que crepitava.

— Do nada você virou um conquistador tirano? — disparou Samwell, os músculos imensos tensionados.

O rapaz deu de ombros, ainda fitando o mesmo ponto.

— Se vocês não pretendem me seguir, sinto muito.

A cigana levantou-se do sofá e pôs-se, destemidamente, em frente ao necromante.

— Do nada você desaparece e depois volta sem mais nem menos com planos ditadores? — indagou ela, as mãozinhas tremendo aos lados do corpo. — Me preocupa.

— Lyfallia me mostrou o caminho — disse Jon.

— E agora você decide matá-la? — disse Samwell, levantando-se também e parando ao lado da garota.

Jon enfim os encarou nos olhos.

— Vocês são rasos demais para entender — falou, baixinho, erguendo-se do sofá. — Amanhã, talvez, vocês entendam.

Então ele caminhou até o quarto mais próximo e bateu a porta. Trancou-a.

Por um breve segundo, o necromante ficou parado no silêncio da penumbra, arfando, os olhos amarelos arregalados em meio ao escuro. Depois ele xingou baixinho e arrancou com violência os anéis dos dedos, enfiando-os no bolso do sobretudo e jogando-se de costas na cama ao lado. A magia negra fluiu pelo seu corpo uma vez mais, preenchendo cada veia, cada artéria, cada célula, exalando por cada orifício, por cada poro. Seu sangue podre tornou-se tão frio quanto a neve do pico mais alto de Gjallarhorn, e sua cabeça começou a girar, a rodopiar como um bambolê na cintura de uma dançarina do ventre.

Então o cansaço o acometeu derradeiramente — os efeitos desgraçados do que quer que aquela elfa desgraçada tivesse feito com ele — e Jon dormiu.

⊱◈◈◈⊰

Samwell lançou à garota um olhar decisivo e definitivo. Não foi preciso discutir verbalmente sobre o que fariam — estava claro como um raio. Depois de um aceno curto e mútuo e após brevemente espevitar a porta do quarto de Jon, de onde aquela energia escura emanava, os dois saíram então atrás de Lyfallia.

Já era noite. A cidade era iluminada puramente pela luz do luar, que entrepassava pelas folhas altas e, naquela noite de lua cheia, clareava perfeitamente as ruas desertas. Bem, faria total sentido as ruas estarem desertas, visto que a madrugava começava a surgir.

Eles desceram pelos degraus que circundavam um dos troncos grossíssimos, com passos silenciosos e suaves. Logicamente, não faziam a mínima ideia de onde encontrar Lyfallia, mas dariam um jeito. Sempre davam.

Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora