The Saviour

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A manhã seguinte chegou fria e chuvosa. A tensão acumulada das batalhas consecutivas fora embora toda de uma vez, causando um abatimento colossal no corpo de todos, impedindo que a noite fosse prazerosamente relaxante — seus corpos colapsaram de cansaço ao invés de adormecer naturalmente. Mesmo assim, todos conseguiram ao menos descansar.


O primeiro a acordar, logo antes do primeiro raio de sol coroar as muralhas de Eaglovor, foi Jon. Enquanto a luminosidade começava a entrar pelas janelas do quarto, ele remexia o interior de bolsas e mochilas que trouxera consigo de algum jeito. Tirou um bolo de tecido preto que, ao se desenrolar, revelou ser um sobretudo quase idêntico ao outro, um pouco mais surrado, mas ainda assim muito bonito. Vestiu-o e saiu do quarto, vendo, por uma janela do corredor, Yasmin do lado de fora da casa, caminhando até a sauna onde deixara suas roupas para secar, encolhida com o frio. Na sala de estar, Kristy dormia em Samwell, jogada sobre ele; três garrafas esvaziadas pingavam suas últimas gotas sobre o tapete. Jon os encarou com desprezo, mas sentiu uma certa vontade de rir ao ver que Kristy ainda vestia seu sobretudo.

Sem fazer barulho, o necromante saiu pela porta e rumou até o palácio. Caminhou devagar sobre o terreno molhado, aproveitando as aprazíveis gotas geladas que pingavam sobre seu corpo e rosto. Sentiu o olhar dos transeuntes pesar sobre ele quanto mais ele se aproximava de seu destino, e se irritou precipitadamente ao chegar em frente aos portões fechados, ladeados por dois guardas que tremiam de frio.

Jon apenas bufou e deu um passo.

— Saiam da minha frente.

Duas lanças se cruzaram sobre seu peito.

— Nosso rei está em seu momento de descanso e não pode ajudá-lo agora.

Ele pôs a mão sobre as lâminas.

— Não quero ajuda. Quero entrar.

— Não podemos permitir...

Então, uma voz familiar:

DEIXEM-NO PASSAR!

Ao olharem para cima, viram Cedric apoiado no parapeito da sacada de uma torre próxima aos portões. Vestia um elegante roupão branco de pele e parecia ter acordado há pouco tempo. Assentindo para os guardas, bebeu um gole de uma caneca fumegante e entrou de volta nos aposentos.

Um pouco a contragosto, mas sem questionar, os guardas retraíram as lanças, deram um passo para o lado e empurraram os portões. Jon, com uma expressão nula, atravessou o caminho de pedregulhos ladeado por magnólias podadas e subiu os degraus do palácio. O próprio rei o aguardava à porta principal, e o recebeu dentro do salão sem muita cerimônia.

— O que deseja aqui tão cedo, necromante? — Cedric sentou-se em seu trono com uma expressão sonolenta e com os ombros contraídos de frio.

— A garota que devemos encontrar — disse Jon. — É provável que haja uma eventual... resistência por parte dela?

— Ah. — Cedric bebeu o que restava na caneca e a encarou desapontado. — Mya é uma garota inteligente e observadora, mas, mais importante do que isso, é nossa aliada. Não teria por que não nos ajudar.

— Se ela resistir, não vou pensar duas vezes antes de matá-la. Quem não se opõe a Hersa automaticamente a apoia; não há meio termo. E eu não permito a vida de alguém que apoia aquela mulher ou seus ideais.

Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora