༺۵༻
— Jon, por favor...
— Eu não volto atrás em minhas decisões.
— Você pelo menos está bem?
— Sem perguntas — disse o necromante, a mão pousando sobre a maçaneta enferrujada. — Estou de saída para minha nova missão. Se pretende continuar me acompanhando, seja rápida.
— Mas nós acabamos de chegar! — falou Yasmin, a voz falhando com a revolta. — Acabamos de conseguir um lugar para morar! Não acha que devemos descansar antes de sairmos novamente nos aventurando pelo mundo?
— Como eu já te disse, garota, estou descansado. E se quer que eu repita mais alguma coisa, aqui vai: se pretende continuar me acompanhando, seja rápida. É agora ou nunca.
— E como eu já te disse, moço — rosnou a cigana, caminhando até o homem com passos tão lentos quanto ameaçadores, mesmo que ele mal houvesse movido um músculo —, preciso descansar, porque eu ainda não descansei. Ainda estou sentindo os efeitos da exaustão sobre meu corpo. Se você e sua mágica esquisita conseguiram eliminar todo esse efeito definitivamente, então parabéns para vocês. Mas eu ainda preciso me recuperar. Estou exausta e mal consigo andar direito!
Jon virou o pescoço singelamente, apenas para conseguir ter uma mínima visão da companheira pelo canto dos olhos. Ele pareceu ponderar por alguns segundos, a mão ainda sobre a maçaneta, e Yasmin quase respirou aliviada, pensando finalmente ter conseguido convencê-lo a deixá-la descansar nem que fossem por algumas horas.
Mas o necromante apenas voltou a olhar para a frente, abriu a porta e disse:
— Então eu partirei sem você. — E saiu.
Assim que deixou a casa, deparou-se com uma rua movimentada, diferente de como estava quando ele chegou ali. A situação das construções ali era, no geral, precária e rústica se comparada a Lydavasta, assim como os cidadãos, que trajavam vestes um pouco dignas de pena. Jon sentiu asco ao ver a forma como as mulheres eram tratadas ali: sempre encolhidas ao lado de homens com semblantes autoritários e asquerosos, cabisbaixas, submissas. Quando não eram assim, eram prostitutas trajando pouca coisa e exibindo suas ofertas e preços. O necromante crispou os lábios e mais uma vez sentiu repulsa pela situação da vila em que agora vivia, e por um lapso de segundo sentiu vontade de retornar a Lydavasta. Pelo menos era mais bonito lá.
Ele escutou um breve rangido da porta seguido de passos suaves. Uma breve olhadela para o lado foi o suficiente para ver Yasmin parada ali, ao seu lado, o rosto nada alegre. Ela passou a mão pelos cabelos um pouco sujos e também encarou com reprovação as cenas que ocorriam pelas ruas, sempre divergentes uma das outras, mas igualmente desconfortáveis e repulsivas.
— Eu estou triste com você — disse a cigana.
— Não te dei motivos para se chatear comigo — falou Jon, sereno. — Se está tão absurdamente exausta, então volte e descanse. Só não tenho tempo para te esperar antes de partir. Imagino que entenda.
Yasmin tomou um fôlego profundo. As pálpebras pesavam, mas ela poderia aguentar. Mesmo que cada centímetro de cada músculo de cada membro de seu corpo pequeno implorasse de joelhos para que ela apenas se deitasse e apagasse por quanto tempo seu organismo considerasse necessário, havia algo em Jon que ela não conseguia explicar desde que o conhecera: uma aura tão encantadora e atrativa quanto repulsiva e terrífica. Bem, fazia no máximo dois dias desde que ela o conhecera, e mesmo assim os dois já passaram por tantas coisas que pareciam se conhecer há anos. Os eventos dos últimos dias ocorreram com velocidade e intensidade tremenda, e seu cérebro ainda não terminara de processar tudo. Entretanto, mesmo que cansada, Yasmin já se sentia pronta para mais. Só precisava comer alguma coisa antes e certamente se daria bem.
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Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. I
FantasyJon Hansen, um necromante de poder inimaginável, tem um objetivo definido e imutável que perseguirá com determinação absoluta até que o concretize completamente: provar ao resto do mundo que é o ser vivo mais poderoso . No entanto, realizar tal feit...