Hail To The King

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O brilho amarelo nos olhos do necromante se esvaiu como estrelas ao alvorecer, adquirindo uma tonalidade cinzenta, dessaturada.

Sua pele, já pálida por natureza, tornou-se absolutamente branca.

Yasmin ainda não conseguia gritar. Estava integralmente paralisada e com o coração gélido de susto e confusão — principalmente depois de ouvir a besta rugir para o céu, triunfante.

A única coisa que a tirou daquele tipo de transe em que entrara foi uma silhueta redonda e imensa voando em sua direção: uma pedra, arremessada pelo titã restante.

A cigana pulou para o lado o máximo que pôde, mas o impacto, que acertou o chão, foi tão intenso que ainda assim a fez tombar de novo.

Não podia ser. Um homem como Jon não morreria daquela maneira.

Ainda parada, rugindo, a besta parecia tão distraída pela excitação da vitória que Yasmin considerou seriamente atacá-la enquanto sua guarda estava baixa, mas o pânico ainda a impedia de agir com esmero.

Não. Não, não, não. Havia algo de errado.

Foi então que as coisas começaram a ficar estranhas.

Os olhos de Jon, antes cinzentos e sem vida, retomaram sua cor dourada e brilharam com a intensidade do sol.

A ilusão da realidade em volta dele e da besta e de Yasmin tornou-se absolutamente negra antes de se estilhaçar como vidro quebrado e dar lugar ao mundo real.

O corpo de Jon, empalado pelas garras da besta, era apenas um zumbi pútrido e insignificante.

O verdadeiro necromante estava parado atrás da besta, as duas mãos segurado uma estaca feita de matéria negra que atravessava o peito dela.

Yasmin sentiu-se estúpida por ter presumido que Jon morreria de uma maneira tão idiota.

Havia uma terrível aura extremamente maligna ao redor do rapaz, e a estaca sombria jorrava raios negros para todos os lados. Os fios de cabelos brancos pareciam estar maiores, e até mesmo as pupilas e as escleras dos olhos de Jon estavam inundadas pelo amarelo refulgente. Em seus dedos havia agora um único anel; os demais haviam desaparecido.

A cigana conseguiu ver a ponta da estaca voltando para dentro do peito da besta conforme o necromante a tirava de suas costas sem dificuldade.

— Jon! — exclamou Yasmin, involuntariamente, um mero impulso de seu corpo ao recobrar a completude de sua consciência. O necromante não respondeu.

A besta grunhiu, caindo de costas num estampido surdo, tossindo um borrifo de sangue. Seus olhos se encontraram com os de seu assassino, e foi mais do que suficiente para seu corpo se contorcer e tornar-se imóvel quando uma fumaça arroxeada deixou sua boca e se armazenou no anel no dedo do rapaz.

— Jon, você está bem? — insistiu a cigana, cambaleando na direção do amigo.

Ele a ignorou uma vez mais, seu olhar se voltando ao titã que caminhava lentamente em sua direção, deixando Yasmin de lado. Então, o rapaz estendeu a mão ao monstro de pedra.

Um som abafado e indefinível soou pelo descampado, e foi como se a própria gravidade tivesse alternado seu curso e puxado o titã para a frente. Ele caiu de joelhos, fazendo o chão tremer, mas os passos de Jon não oscilaram. O titã se apoiou no chão com o braço que lhe restava, emitindo algo parecido com um gemido.

Sua cabeça de pedra recebeu o suave toque da mão do necromante.

E a mão do necromante recebeu o suave toque da alma do titã, separando-se do gigantesco corpo de pedra.

Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora