Valley Of The Kings

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Discussões são comuns em todo meio social, mas, naquele momento, a desunião era torturante. Evitando se olhar, Jon e Samwell se enfurnavam cada um num canto, fitando direções opostas. À orla de uma pequena e solitária fogueira, Yasmin limpava a sujeira da pele e dos ferimentos, os quais suas cartas verdes fechavam e suavizavam sem muita dificuldade. As cartas de cura da cigana eram espetaculares, mas não eram muito úteis para tratar danos psicológicos, obrigando Yasmin a simplesmente esperar até que a raiva de um dos dois amainasse para que eles decidissem se resolver de uma vez, de modo a continuar a viagem.

Estava tão silencioso naquela planície de pedra que Yasmin teve um sobressalto quando ouviu Samwell falar repentinamente:

- Você é um lixo, necromante. - Uma cusparada catarrenta no chão. - Você nos traiu. Tenho certeza de que nos trocaria por um saco de ouro se tivesse a chance.

- Eu? - indagou Jon, ríspido. - Não sou eu quem está nessa apenas pelo ouro e pela cabeça do dragão. Se você não quer continuar, apenas vá embora. Mas não espere receber uma moeda sequer.

- Eu só não vou embora por causa da Yasmin - o bárbaro lançou a ela um olhar rápido, então voltou-se ao necromante: - Eu vou pegar a cabeça do dragão e você me pagará; então, eu matarei você e entregarei sua cabeça a Lydavasta. Simples.

- Conseguir chegar perto de mim já seria seu maior sucesso, bárbaro.

- Chega, porra! - gritou Yasmin, erguendo-se com um pulo. - Nós estamos exaustos, fodidos, no meio de um cânion, mas próximos a Draconia, isso posso sentir. Eu morri, o Jon foi enfeitiçado, o Sam está fraco... Vamos apenas descansar e nos preparar para seguir em frente. Fim!

- Você... morreu?

Silêncio.

- É, Jon, ela morreu. Por um momento. - Outra cusparada. - Por culpa sua, aliás.

- Fraca! - rosnou o necromante. - Ela estava contigo, bárbaro. Se você não conseguiu protegê-la, a culpa é sua. Não tenho nada a ver com isso.

- Você é quem foi lá comer a elfa e nos entregou!

- Não era eu, caralho! Era um morto vivo, uma réplica minha, já sob efeito do feitiço dela. Eu estava escondido tentando me recuperar. Parece que você não presta atenção no que acontece ao seu redor!

- Ah, mas que você estava secando o corpo daquela elfa maldita, estava, não é?

- Você cale a boca! - gritou Jon, finalmente olhando para Samwell. - Se não vai nos ajudar, bárbaro, então se retire. E você, cigana, se não aguenta uma simples tortura, é melhor desistir também. Vamos enfrentar coisa muito pior nesse trajeto.

Samwell fervilhou de raiva e até fez uma pequena menção de avançar contra ele, mas parou quando viu Yasmin abaixar a cabeça e seguir em frente, submissa.

- Certo, Jon. Vou prestar mais atenção.

- O quê? - disse Samwell. - Vai abaixar a cabeça para esse metido mimado?

- Sabe, bárbaro, eu posso te matar agora mesmo.

- Tente! Vou explodir sua cabeça com os dentes. Você vai ter que seguir em frente sem mim a partir de agora, seu merda. Me pague e eu vou embora agora.

- O trato era: você me ajuda a matar o dragão e depois recebe seu pagamento. Se desistir agora, não vai receber nada.

Foi possível ouvir os dentes do bárbaro rilhando.

Draconia - Trilogia Gjallarhorn, Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora