Capítulo 4 - Jantar

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Após voltar do instituto, eu ia direto para meu quarto, tentando, em vão, ler os livros em braile que me eram comprados, mas minha cabeça parecia estar sempre viajando para lugares distantes.

Constantemente, eu pensava em Macau e nos momentos que passávamos juntos. Pensava também que no isolamento em que me meti, parecia me sufocar, mas quanto mais eu pensava sobre isso, mais eu me isolava.

Os pesadelos à noite, apareceram algumas vezes durante as semanas e muitas vezes, após acordar sentindo o mundo desabar sobre minha cabeça, eu chorava sozinho.

Eu não sabia o que se passava comigo. Em apenas um encontro, com uma desconhecido, tudo parecia ter vindo à tona novamente, de uma forma catastrófica. Meu irmão parecia preocupada todas as vezes que me dirigia à palavra, eu sorria, dizendo que estava tudo bem, mas não estava... Nada estava bem.

Na noite passada, Porsche foi a um "jantar" de negócios com o novo vizinho. Ele precisa de um emprego, e ao descobrir que a família novata no bairro possuía uma empresa de eletrônicos, não perdeu tempo.

Antes do acidente, meu irmão trabalhava em um bar, mas depois, teve que se demitir para ter tempo pra cuidar de mim. Me sinto culpado as vezes.

Levantei-me, arrumando a alça da bolsa no ombro, indo em direção à porta que levava para dentro de casa, acompanhado por Skoop.

- Porsche! Sabe onde está a coleira de Skoop? - perguntei entrando na sala.

- No hall de entrada - ele gritou do 1° andar - Em cima, na parte direita do cabide.

- 10 passos - murmurei cruzando a sala - três degraus, três passos para a esquerda.

- Porchay - ouvi passos descendo as escadas.

- Fala...

- Os vizinhos virão jantar aqui essa noite.

Permaneci quieto. Não era um costume meu comer na frente de estranhos, principalmente se eram pessoas que eu vinha tentando evitar a algum tempo. Não seria agradável para mim e muito menos, para eles. Pensei por um tempo e percebi que não havia como contestar uma decisão já tomada.

- Tá. - concordei dando de ombros, segurando a corrente com força - Mas por que eles viram?

Pude ouvir Porsche suspirar.

- Eu os convidei. Será bom para Kinn conhecer a gente antes de me contratar - ele disse se aproximando de mim - Não se preocupe, ele sabe sobre você, e não terá problema nenhum. Apenas seja você mesmo.

Vamos Skoop, vamos passear garoto.

Andávamos lentamente ouvindo o barulho dos carros que passavam na rua e das crianças que brincavam em um parque próximo dali. Era agradável sentir o vento bater tão livremente em mim, nas arvores que balançavam suas folhas.

- Hora de voltar para casa, Skoop.

Se eu pudesse, permaneceria andando até terminar o jantar que teria aquela noite... Se eu pudesse, eu gostaria de voltar a enxergar...

Cheguei em casa minutos depois e fui direto tomar banho. A roupa que eu deveria usar, já estava em cima de minha cama. Meu irmã sempre escolhia minhas roupas quando a ocasião pedia.

Passei a mão pelo tecido fino de uma blusa de mangas longas. O tecido era confortável, macio.

- Está pronto? - perguntou batendo na porta.

- Só mais um minuto.

Vesti a blusa e as calças, indo até a penteadeira para pegar a escova e pentear os fios escorridos.

Antes do acidente, meus cabelos eram tingidos em um tom de azul. Mas depois, pedi para que Porsche pintasse de preto novamente.

Meus pertences em cima da minha penteadeira eram arrumados corretamente toda para manhã, para que eu sempre soubesse onde encontrar o que eu queria, assim, não havia perda de tempo procurando algo que eu necessitasse.

- Eles chegaram. - anunciou meu irmão pegando minhas mãos e me tirando do quarto.

Be My Eyes - KimChayOnde histórias criam vida. Descubra agora