Capítulo 15 - Cirurgia

1.2K 152 12
                                    

No dia seguinte, no consultório do doutor, meu irmão não parava de fazer perguntas enquanto ele estudava os exames que havíamos feito no dia anterior. Eu me sentia ansioso para saber logo o resultado de todos os exames. Eu não queria ter falsas esperanças, mas era difícil não tê-las após alguns comentários dele.

- Eu tenho uma boa noticia e uma ruim – anunciou o doutor se dirigindo a nós.

- Qual é a boa? – perguntou Porsche.

- Porchay tem, sim, possibilidades de voltar a enxergar.

- Mas há um problema – continuou o doutor – Olhe, Sr. Porcshe, a partir do exame que fiz do nervo óptico percebi que há algo obstruindo o nervo. Creio que, no acidente, quando os vidros explodiram, pequenos cacos de vidro penetraram os olhos de Porchay e esses cacos pararam exatamente no nervo óptico que é responsável em transportar as sensações visuais para cérebro. Esse é o motivo da cegueira dele. – Ele fez uma pausa – Há um caco maior, nos dois olhos, que pressiona o nervo. O senhor pode ver aqui no exame. É por esse motivo que ele sente dores, talvez quando chora ou coça muito os olhos... Acontece que esse caco não sairá sem cirurgia e a cirurgia é arriscada. Pelo que eu posso ver, o olho direito está mais em perigo que o esquerdo e é por esse motivo que eu recomendo a cirurgia. Se os cacos começarem a pressionar mais os nervos, Porchay pode, sim, vir a perder a visão para sempre.

- É arriscado – murmurou meu irmão com a voz tremula.

- Sim, é arriscado.

- Eu estou disposto, Porcshe.

- Eu não sei Chay...

- Che... Se a cirurgia der errado, não vai ser muito diferente do estado em que eu estou agora. Eu vou continuar cego. Não é doutor?

- Basicamente, sim.

Mordi os lábios, nervoso. Era uma situação complicada, mas a decisão devia ser minha e apenas minha e ele já estava tomada.

- Chay, eu não tenho certeza... – murmurou ele com a voz tremula e um pouco ansiosa.

- Eu quero arriscar – afirmei segurk.

- Não vou permitir que você faça uma cirurgia tão arriscada sem termos 100% de certeza que você ficará bem.

- Essa decisão não cabe a você!

- Não vamos discutir isso aqui, Chay – Ele arrastou a cadeira e se levantou, eu fiz o mesmo – Vamos conversar em casa doutor e assim que tivermos uma resposta lhe comunicaremos.

- Fique tranquilo Sr. Porsche, levem o tempo que precisarem. Sei o quanto esse assunto é delicado.

- Bem, até qualquer dia, doutor – ele se despediu e pegou em minha mão – Vamos embora.

- Tchau doutor.

O caminho do consultório a minha casa foi feito em total silencio. Meu irmão parecia contrariado e receoso e eu sabia que se tocasse no assunto ali, no carro, começaríamos a discutir.

Ele tinha medo de que algo ruim acontecesse comigo, isso eu podia entender, mas ele não iria ficar cuidando de mim, como se eu fosse uma criança, para o resto da vida. Eu não iria permitir que isso acontecesse.

Soltei um suspiro irritado e cruzei os braços sobre o peito, sentindo o carro deslizar suavemente sobre a rua. Eu preferia me arriscar a fazer a cirurgia e voltar a ficar cego definitivamente do que permanecer como estou e não ter ousado fazer nada. Eu me sentiria impotente se isso acontecesse.

Ao estacionar na garagem de casa, Porsche não fez movimento nenhum para sair do carro. A porta continuava trancada.

- Nós não vamos conversar aqui... – eu disse querendo abrir a trava do carro.

- Vamos, sim.

- Porsche, eu não sou uma criança para você ficar me dizendo o que é certo ou não fazer.

- Eu só quero o que é melhor para você!

- Você não sabe o que é melhor para você nesse momento!

- Porsche, qual é o risco que eu estarei correndo?

- Você vai ficar cego!!!! – ele exclamou desesperada. Começou a lacrimejar, mas, nem mesmo isso, me fez sentir pena.

- Você esqueceu de uma coisa – eu disse baixo e entre dentes – Eu já sou cego. Você não pode mudar esse fato.

Ficamos quietos.

Nós nunca havíamos discutido dessa maneira e, de alguma forma, discutir com ele me fez lembrar de minha discussão com Kim na tarde de domingo.

Eu precisava sair dali. Sair daquela casa, daquela rua. Eu precisava ficar longe.

Quando desci do carro, a primeira coisa que fiz foi chamar Skoop que, de pronto, veio correndo até mim.

- Vamos dar uma volta.

- Aonde você vai, Chay? – perguntou ele descendo do carro.

- Para longe – respondi andando até a porta da frente para pegar a coleira no hall.

- Você não vai sair! – ele me seguiu.

- Vou, sim! Estou cansado de ficar ouvindo você me dizer o que fazer. Me deixe em paz!!!

- Aonde vai??

- NÃO-TE-INTERESSA! - gritei colocando a coleira no cachorro e andando em direção a rua - E não tente me seguir!

Be My Eyes - KimChayOnde histórias criam vida. Descubra agora