Fazia muito tempo que eu estava caminhando com Skoop ao meu lado. Eu não sabia onde estava ou como voltar, mas meu desejo era continuar.
De vez em quando, algumas lagrimas atravessavam meu rosto em direção ao chão e eu logo as secava. Não havia o porquê chorar, eu estava certo!
Durante um ano e meio eu vivi como se eu não fosse eu mesmo, tive que ouvir comentários a respeito da minha cegueira e aceita-los como se fossem comentários da novela na noite passada.
As pessoas tinham pena de mim e logo me ofereciam ajuda até para andar em minha própria casa. Eu estava cansado de me isolar de todos por ter vergonha de mim mesmo e desses óculos gigantes que cobrem meu rosto.
E agora... Agora tinha Kim e eu o quero, mesmo meu coração estando em pedaços. Respirei fundo, segurando um soluço indesejado. Eu o quero...
Alguns passos próximos me fizeram voltar ao presente e lembrar de que eu estava caminhando.
- Er... Com licença – fiz um gesto com as mãos, para que a pessoa parasse e ele parou – Você poderia, por favor, me oferecer as horas?
- Um segundo... – Era um rapaz. A voz era familiar. – São 19 horas.
- Já? – murmurei mordendo os lábios – Er... Você poderia me dizer aonde estamos?
- Bem, estamos a uma quadra, virando a esquerda, do parque da cidade.
- Muito obrigada – ofereci um sorriso fraco.
- Precisa de ajuda para chegar lá?
- Não. Obrigada. – O homem murmurou alguma coisa e voltou a andar.
Eu estava andando por duas horas e meia, constatei surpresa. Meu irmão devia estar louco atrás de mim. Eu nunca fiquei tanto tempo fora, sem companhia e ainda por cima, estava perdida. Skoop sentou-se, vendo que eu parei e soltou um gemido baixo.
- Sim, Skoop. Estamos perdidos.
O parque era a uma quadra virando a esquerda, lembrei. Isso não ajudava muito, mas era o único ponto de referencia que eu tinha.
- Vamos Skoop.
Quando chegamos ao parque, percebi que muitas pessoas, apesar de estar noite, estavam ali conversando. Era reconfortante saber que eu estava no meio de pessoas. Skoop me guiava lentamente, pois nunca tínhamos ido àquele lugar juntos... Eu tinha ido com Kim.
-Certo... Vou ter que arranjar algum lugar para podermos sentar – murmurei.
Meu Deus! O que eu estava fazendo nesse lugar a essas horas?
- Olá, olá, olá... – ouvi uma voz masculina logo atrás de mim – Está perdida meu lindo?
Me senti gelar ouvindo a pergunta.
- Não, não estou – respondi seco continuando a andar.
- Pois parece – uma mão tocou minhas costas e eu me afastei assustado – Calma!
- Me deixe em paz – murmurei respirando fundo.
Skoop que percebeu minha aflição postou-se a minha frente e latiu.
- Ah! O cachorrinho é bravo – o garoto riu – Você acha mesmo que pode me assustar com um cachorro?
Skoop latiu novamente, fazendo com que eu percebesse que o garoto tentou se aproximar. Dei mais um passo para trás, trazendo-o comigo.
- Você devia saber que o parque a essas horas não é feito para uma garotinho cego como você.
Me limitei a ficar quieto, ouvindo o coração bater a mil por hora e a respiração acelerar. Novamente um braço tocou minhas costa e Skoop latiu.
- Cala a boca cachorro dos infernos! – exclamou o garoto irritado.
- Me solta – pedi me afastando novamente, mas sua mão me puxou pelo braço – Me solta! – gritei tentando empurrar ele com a outra mão.
- Que garoto revoltado. Para uma cego, você até que é bonito! – ele riu novamente, se divertindo com o que disse e apertou mais forte o meu braço. Eu gemi de dor – Isso é para você aprender a ficar quieto.
- Solte ele.
- Kim – murmurei sentindo as primeiras lágrimas rolarem pelo rosto.
- Oh o super homem! – exclamou o desconhecido irônico – Sai fora, eu achei o ceguinho primeiro.
Passos se aproximaram e a mão que segurava meu soltou rapidamente. Skoop começou a latir desesperadamente e eu fiquei parado, sem saber o que acontecia. Eles estavam brigando?
- Kim? – chamei sem obter resposta. Skoop continuava latindo – Fique quieto – exclamei puxando a coleira. Ele se calou – Kim?
Uma mão voltou a pegar forte no meu braço e começou a me fazer andar.
- Kim... – repeti assustada.
- Fique quieto – ele pediu com a voz cheia de raiva – Você não tem cabeça nenhuma!
- Desculpe, eu..
- Fique quieto! – a mão dele apertou mais meu braço, mudando de direção.
- Você está me machucando.
- Você merece mais do que isso. Tem o degrau do meio fio na sua frente. Eu tenho vontade de... – emitiu um grunhido estranho de frustração e parou – Entre no carro.
Kim tirou a corrente de Skoop da minha mão e abriu a porta para mim.
Após ter me sentado, ouvi a porta de trás do carro sendo aberta e Skoop entrou todo animado. No outro instante, a porta ao lado oposto da minha abriu e Kim entrou, fechando a porta com força e dando a partida.
- Kim... – murmurei receoso.
- Porsche esta pirando atrás de você! O que você tem na cabeça de sair assim? – Ele parecia realmente irritado.
- Não foi minha intenção... – tentei me desculpar.
- Nunca é! – Kim exclamou – Ele e Kinn quase ligaram para a policia! Como você pode ser tão egoísta para fazer esse tipo de coisa sabendo que eles se preocupam com você? Sabendo que seu irmão está se acabando de chorar porque disse que vocês discutiram minutos antes de você pegar o cachorro e sair??
- Pare de gritar comigo! – pedi sentindo vontade de chorar – O que você tem a ver com essa história?
- Eles me procuraram para me perguntar se eu sabia onde você estava. Irônico, não? – Senti que o carro parou devagar, mas não tínhamos chego em casa. Kim respirou fundo, contendo a irritação. – Nunca mais faça algo parecido!
- Eu não tenho culpa se me perdi.
- Se você não sabe para onde ir quando tem alguma crise, fique no seu quarto, mas nunca mais faça isso!
Senti meu queixo tremer.
- O que você acha que eu senti quando vi aquele cara querendo se aproveitar de você?! Você é completamente louco e egoísta Porchay!
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Be My Eyes - KimChay
Fanfiction[CONCLUÍDO] Há um ano, eu havia sofrido um sério acidente de carro. Meu amigo, que dirigia, havia morrido no caminho para o hospital de parada cardiorrespiratória. Foi difícil. No começo, tudo me irritava, principalmente a morte de Macau. Era difíci...