Quinta Estrela - Um ombro amigo

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Acabei me levantando na hora quase derramando o milk-shake

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Acabei me levantando na hora quase derramando o milk-shake. Cocei os olhos sem querer acreditar no que já estava mais do que óbvio diante de mim.

Senti meu coração acelerar de raiva, quase socando meu peito. Inflei as narinas e fui disparado até aqueles dois pronto pra exigir uma explicação mesmo que lá no fundo eu soubesse muito bem o que estava rolando.

— Camille — chamei com a voz mais rígida do mundo, o que não só interrompeu a troca de saliva entre eles como também a deixou pálida da cabeça aos pés.

— T-T-Tyler... — Ela desgrudou depressa de Marcel, que por incrível que pareça também estava em choque com a minha presença. — E-E-Eu...

Ela abriu um sorriso nervoso e umedeceu os lábios, borrando boa parte do batom sempre impecável que ela usava.

— Ele é o seu projeto pra amanhã? — Apontei com repugnância para o maldito Marcel Byron, que deu alguns passos para trás como se previsse a briga que com certeza ia rolar.

— Olha, sei que é difícil entender. — Camille pigarreou com os olhos cheios de lágrimas que em nada me comoveram. Essas lágrimas de crocodilo não iriam fazer meus chifres diminuírem. — M-M-Mas eu sentia que você estava cada vez mais distante. O Marcel estava comigo, me incentivando a pintar, ouvia o que eu dizia sem parecer fora do ar. Sei que passou por muita coisa, mas...

— Mas nada — interrompi sua desculpa sem pé e nem cabeça. — Você acha que o fato de eu estar mais distante é motivo o suficiente pra traição?

— A verdade é que nunca amei você — ouvir aquilo doeu muito mais do que deveria, tanto que alguma coisa pareceu esmagar meu coração ao ponto de minha respiração acelerar com o impacto sinistro. — O CCH...

— Nem menciona a droga desse nome. — Sacudi a cabeça porque sequer ouvir sobre essa maldita cura gay me fazia querer gritar.

— Nunca achou estranha a forma como entrei na sua vida? — Ela ousou chegar perto de mim mesmo eu sentindo um nojo surreal não só dela como do poste ridículo parado ao lado dela. — No seu momento mais frágil, com todos ao redor dizendo que você nunca iria me amar e tendo razão sobre isso.

— M-M-Mas eu amo. — Mesmo eu dizendo em voz alta, eu sabia que era inútil. Em Grande Sunshine, se você já esteve com um homem todos diriam que você era gay e ponto final. Ninguém entendia que sexualidade tinha um leque absurdo de possibilidades. Eles insistiam em enxergar um mundo cinzento mesmo que houvesse diversas cores do arco-íris bem diante de seus olhos.

— O CCH queria um parecer sobre o seu estado. — Ela tentou tocar meu ombro, mas é óbvio que recuei. — Saber se sua situação ainda estava crítica para poderem agir e depois daquilo que disse para o Marcel eu...

Sua careta enojada me desarmou porque de fato pensei que ela respeitasse minha sexualidade e que soubesse que naquele momento eu estava apenas irritando Marcel, até porque eu jamais tentaria qualquer coisa com alguém que fazia da minha vida um inferno.

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