1. Pedi e dar-se-vos-á

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Olá amades, estou repostando Meretricio e pra quem já leu, vai notar que os capítulos se juntaram. A versão anterior era bem extensa com capítulos curtinhos, então os mais curtos eu juntei, mas não alterei o conteúdo deles.

Esse livro também vai possuir uma versão estendida em ebook (ou físico se Deus permitir aleluia), em breve darei mais detalhes sobre ele :)

Boa leitura!

(...)

Só haviam três coisas que prendiam a atenção de Vante de tal forma que tudo se tornava irrelevante para ele.

A primeira, era a música. Gostava de passar horas em seu piano de cauda, cantarolando blues famosos ou tocando clássicos de Beethoven e Mozart. Sempre se transportava para o passado nesses momentos e sentia uma emoção saudosista, como se sua alma fosse mais antiga do que sua própria idade — como uma foto em preto e branco eternizada, parada no tempo.

A segunda coisa era, bom, não exatamente uma coisa; mas uma pessoa. Seu esposo era o único na Terra capaz de influenciar-lhe numa decisão. Se a palavra de Vante era lei, a de seu marido estava acima dele — e tamanha era a proteção e zelo para com o amado que o homem sequer pronunciava seu nome em público, a todos era apenas o "seu esposo". O segundo de maior prestígio em suas casas e o assento prioritário na ausência do dono.

Por fim, a terceira coisa da qual Vante mais gostava era ganhar dinheiro.

Não que ele fosse um homem avarento, pelo contrário: era um anfitrião generoso em sua Casa principal e sempre agradava seus clientes fiéis com presentes, drinks e acompanhantes exclusivos em épocas especiais. Suas ações eram sempre bem vistas por onde passava, e não só isso: como passava também era importante. Sempre impecável, fazia pessoas de todos os níveis sociais ansiarem por um momento a sós com ele. Os ternos de cores terrosas, as gravatas coloridas e os cabelos sempre para trás e bem arrumados deixavam qualquer um bem impressionado. Ele não se importava em gastar grandes quantias em prol do próprio visual e do olhar de admiração e inveja alheia.

No fundo, não era o dinheiro que chamava sua atenção, mas sim a ideia de ser capaz de conquistá-lo e usá-lo como bem entendesse, para satisfazer seus caprichos e de quem mais quisesse.

Por isso, ao final, o que mais prendia a atenção de Vante era o poder.

Poder este que ele recebia de forma ímpar, ao se tornar um dos únicos estrangeiros respeitados em Las Vegas. Era o segundo ano da década de oitenta e ele teria sido deportado — ou mesmo jogado em uma vala qualquer por puro ódio, depois de meses à beira da sobrevivência por não conseguir um mísero emprego decente —, mas seu grito por socorro foi ouvido por quem ele menos esperava, e desde então tudo caminhava no seu rumo.

E por falar nisso, naquele momento suas mãos rumaram em direção aos cabelos tingidos de rosa do marido ajoelhado ao seu lado, que recebera a ordem de esperá-lo enquanto terminava de assistir ao show da Casa 3.

Afinal, um matrimônio era diferente de uma reunião de negócios, e mais diferente ainda de um encoleiramento. Seu marido poderia estar ao seu lado na ascensão social, mas se ajoelhava ao estilo de vida libertino que levavam.

Em outro contexto, ser um imigrante poderia ser desastroso. Contudo, Jeon era protegido por Vante e seus seguranças das Casas, então usufruía da sua própria liberdade e também exercia seu próprio poder para com os outros; ajoelhava-se apenas para o marido. Literalmente.

Vante se movia pouco, os olhos mais saltitavam de um lado para o outro do que seu corpo. A mão livre do cigarro acariciou a parte de trás da orelha do esposo submisso, que não escondeu a satisfação por ter recebido o carinho— mais ainda, por poder ser livre naquele lugar, aos cuidados do próprio dono. Ele sabia que muitos, ao sairem dali e voltarem para sua vida monótona, precisavam colocar a máscara tradicional diante da família e esquecer sua essência.

Meretrício | TaekookminOnde histórias criam vida. Descubra agora