8. O filho pródigo

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— Já faz quase um ano que você não frequenta as consultas, Taehyung, então presumo que algo aconteceu para voltar "do nada". — A mulher de blusa de alfaiataria branca indicou aspas com os dedos e cruzou as pernas, tomando cuidado para não subir demais a saia lápis justa no corpo. — Houve algum gatilho que fez os traumas voltarem?

— Não, não, não tem nada a ver com isso.

Vante estava andando pela sala da Dra. Morgan como se fosse apenas um visitante apreciando objetos curiosos no consultório: os quadros de arte abstrata, as fotografias de família em porta-retratos e os livros sobre psicologia e psicanálise nas estantes ao redor.

— Por que não se senta? — A terapeuta perguntou com simpatia. Havia conseguido um encaixe naquele dia após a ligação repentina do antigo paciente que disse precisar de ajuda para conversar.

E como sempre, Vante nunca recebia um "não".

Parecia até um homem abençoado, mas ele sabia muito bem que era o contrário.

Respirou fundo, colocou as mãos nos bolsos da calça reta cinza e se sentou em uma das poltronas brancas, de mesma cor das paredes.

— E então? — Morgan perguntou outra vez.

— Hm? — Vante arqueou as sobrancelhas, fingido estar confuso.

— Por que veio me ver, Taehyung?

Vante não gostava de ouvir seu nome de batismo, mas a terapeuta só o chamava assim. De acordo com ela, isso servia para ajudá-lo a superar o trauma em relação à terra-natal.

— Não pode me chamar de Vante?

— Por que gosta tanto desse nome?

Bufou um pouco irritado. Não estava lá para falar sobre seu nome.

— Não me lembro de você tão irritadiço. — A terapeuta se controlou para não rir. — O que anda acontecendo, Taehyung?

Continuou sem resposta. Vante apenas juntou uma mão na outra e mexeu as pernas, ansioso.

Morgan já entendia como funcionava o temperamento do homem. Ele havia se consultado com ela todas as semanas durante dois anos, e só começou a realmente falar de verdade depois de quase quatro meses indo ao consultório particular.

Vante era uma pessoa difícil de conversar e expor a própria vida. Morgan sequer sabia aonde o homem morava, quantos anos tinha e sabia menos ainda sobre seu marido, por mais que ele gostasse de falar sobre o quanto havia se apaixonado perdidamente por Jeon.

Kim Taehyung poderia falar muito, e ao mesmo tempo estar dizendo nada.

— Você vai realmente ficar calado a consulta inteira? — Perguntou um pouco mais enfática. — Voltamos à estaca zero de 79? — Referiu-se ao ano em que Vante iniciou a terapia.

— Eu vim mais para pensar, não consigo fazer isso na minha casa. — Conseguiu dizer, mesmo que com uma careta. — Parece que até falar está difícil lá.

— O que mudou desde a última vez?

— Tem uma pessoa conosco. — Revelou de imediato e Morgan ergueu as sobrancelhas.

Meretrício | TaekookminOnde histórias criam vida. Descubra agora