Meretrício | Taekookmin

16. A salvação é individual

Quando Jungkook chegou à Mansão de Vante no final de 1979, o dono da casa precisou dispensar seus empregados nos primeiros dias. O motivo era apenas um: o coreano recém-chegado não suportava se aproximar de ocidentais, principalmente homens.

O primeiro dia foi o mais assustador.

Jungkook era semelhante a um filhote de coelho fofo e indefeso. Os cabelos pretos estavam mal cortados e tentava a todo momento cobrir os próprios braços com as mãos para esconder os machucados.

Demorou para entender que estava em local seguro. Sequer conseguiu dormir no primeiro dia, pois os olhos ficaram atentos a qualquer movimentação estranha ao seu redor.

No segundo dia, recebeu todos os cuidados possíveis por Vante: foi banhado, teve os machucados cuidados e aprendeu aonde ficava cada tipo de alimento na cozinha. Vante apresentou o jardim, o escritório, a sala com a estante de livros e até o cômodo adjacente ao seu novo quarto, vazio na época e que poderia ser montado qualquer coisa que o novo morador quisesse.

Contudo, no terceiro dia, Jungkook fugiu.

Todo aquele luxo fazia parte de um paraíso ao qual ele acreditava não merecer. Rapidamente se afeiçoou a Vante e temeu se apaixonar demais e não ser correspondido. Além disso, não se sentia dono de nenhuma daquelas coisas, estava mais para um invasor naquela casa.

Vante entrou em desespero ao voltar da Casa 1 e descobrir por sua faxineira que o coreano havia desaparecido.

Foram horas de buscas até encontrá-lo, deitado e encolhido num dos becos do centro de Las Vegas.

Jeon e Vante evitavam falar sobre aquele fatídico dia. A sensação de não-merecimento do antigo escravo de Meretrício era algo que o acompanhava desde sempre. Sentia o gosto amargo da vergonha ao tocar em tais assuntos, mesmo ciente de que nada daquilo era sua culpa.

Contudo, Jeon viveria aquela mesma sensação em 1981, agora em situação inversa.

Quando o rapaz de cabelos coloridos voltou da Casa 2, soube que havia algo errado quando encontrou Vante parado no sofá, com o olhar fixo no chão e os braços cruzados.

Não havia sinal de Eros.

— Vante... — falou o nome do marido com desespero explícito. — Me diga que não é o que eu acho que é.

— Mas é. — Vante pressionou os olhos com as pontas dos dedos, em estado de fadiga. Jeon começou a andar depressa até ele pelo saguão.

— E por que você deixou?! POR QUÊ?! — falou alto demais e caminhou rápido até se colocar de frente para o marido. — Era isso que você queria, não é?!

— Claro que não!!! — Vante se levantou, chocado com o rumo dos pensamentos do esposo. — Acha que não me afeiçoei a ele também?! Não tenho culpa se não sou capaz de demonstrar tanto quanto você!

— Você ao menos se esforçou?!

— Claro que me esforcei!

— Não estou falando de colocá-lo na mesa e tentar ser o Dominador dele! — Jeon cuspiu e os olhos de Vante se arregalaram. — Estou falando de sentimentos!

— Acha que não sinto nada por ele, Jeon?! — Estreitou os olhos e deu um passo à frente. — Você está se ouvindo? Somos um casal que está falando sobre sentir algo por uma terceira pessoa!