Eros estava angustiado. Não era comum que Demônios ficassem de tal forma, mas ele conseguia. Era esse um dos motivos de acreditar que ainda possuía uma alma.
Ou talvez fosse sua mente não-humana tentando lhe pregar peças.
A lareira estava por pouco, próxima de se apagar por completo. Eram sete horas da manhã, um período cedo demais para a população de Las Vegas, quando o Demônio desceu as escadas depois de uma noite conturbada.
O dono da casa observava o fogo, inexpressivo.
Vante estava tão imóvel no sofá que poderiam confundi-lo com uma estátua.
Eros o achava intrigante demais. Por vezes, era extremamente cortês, animado e com certa curiosidade pelas coisas. Então, de repente se fechava em seu próprio mundo e não revelava mais nada.
Mas o Demônio sabia ser insistente.
— Posso te fazer companhia? — perguntou delicado ao homem, que pareceu sair do transe ao virar o rosto ao loiro e acenar.
— Claro, claro. Bom dia, Eros. — tentou sorrir.
— Bom dia, senhor Vante, acordou cedo ou ainda não dormiu? — perguntou curioso assim que se acomodou no sofá mais longe do homem.
— Estou com uma cara tão ruim assim para mostrar que não dormi? — Acabou rindo baixo e o loiro fez o mesmo.
— É culpa minha, sou observador. — disse singelo, até demais, e passou a olhar para o fogo crepitando.
— Eu notei isso. — Riu soprado e apoiou o cotovelo no braço do sofá. O queixo descansou na mão levantada e passaram alguns segundos em silêncio, apenas olhando a lareira.
Se Jeon estivesse ali, já teria desengatado em uma conversa. O marido possuía uma oratória e domínio para manter assuntos excelente, enquanto Vante era calado demais.
Contudo, queria se esforçar para melhorar isso e ser mais próximo de Eros.
— Você tem alguma expectativa? — arriscou um assunto sobre algo que rondava sua cabeça já há algum tempo, desde que aquela pessoa estava ali em sua casa.
— Que tipo de expectativa? — perguntou ainda sem olhar para Vante.
— A de viver sua própria vida, ser independente, não precisar mais fazer as coisas que fazia antes.
— Eu não sei viver de outra forma, senhor Vante. — comentou inexpressivo.
— A Casa 2 é exclusiva para acompanhantes de luxo. — Começou a explicar de repente e Eros passou a encará-lo. — Quando Meretrício fechou, foi deprimente ver o descaso do governo com as vítimas. Eu só possuía a Casa 1 na época, então resolvi abrir uma nova para ajudar as pessoas que estavam nas últimas embarcações.
— Não consigo ver a diferença de sair de uma prostituição para entrar em outra. — Rebateu sem nenhum temor na voz. Vante se impressionou com aquilo. — O corpo é usado da mesma forma.
— É claro que não estava nos meus planos financiar isso, mas elas pensavam exatamente como você, então foi minha alternativa mais fácil. — disse com o olhar vidrado no loiro, sério e firme. — Também acreditavam que só sabiam viver de uma forma.
Eros respirou fundo. Não havia argumentos contra aquilo.
— Você está tentando me dizer de uma forma implícita que espera que eu melhore de vida e não entre nesse mundo outra vez. — O loiro falou o mais gentil possível.
Tão gentil que beirava a ser falso.
— Todos merecem uma segunda chance, é no que acredito. — Vante cruzou as pernas e colocou as mãos em cima da própria coxa.
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Meretrício | Taekookmin
FanficSobrenatural | BDSM | Não-binariedade Em 1981, Vante se tornou o homem mais rico e misterioso de Las Vegas. Ninguém sabe seu verdadeiro nome, sua origem, quantos dígitos possui sua conta bancária e sequer o nome do belo rapaz que está sempre ao seu...