Capítulo 18

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Lizzy pela quinquagésima vez, ou talvez mais, se perguntava como ir embora daquele lugar. Sentia falta da sua escova de dente. Algo tão simples e eficaz. Ela odiava aquela escova com cerdas de pelo de porco. Aquilo realmente machucava suas gengivas. E o único modo de escova-los era com hortelã amassada com pilão. E era melhor do que nada, mas nem assim ela conseguia conter a irritação.

Por não ter algum modo de sair daquele lugar, passou a se acostumar com aquela rotina de higiene precária. Era a única maneira que tinha para não enlouquecer. Ela aproveitou que as crianças já estavam dormindo, pois eles não paravam um segundo, demandando sua atenção e preparou um banho para ela. Munida de óleo de cozinha, óleo de lavanda, ela fez uma mistura, para passar nos seus cabelos. Ela acrescentou também folhas de laranjeira a água do banho, que foram esquentada gentilmente pelos criados e então, ela mergulhou na banheira. Com o cabelo já lavado com o sabonete, ela aplicou o óleo e deixou-o todo melecado, em um coque. Era o único tratamento de beleza que tinha no momento, a sua disposição. Então, pensou sobre a tarde de domingo que tivera com Darcy. No dia seguinte, ela se encontraria com ele e Georgiana no teatro. E pensar nisso deixou-a animada. Ela gostava da presença de Darcy, apesar de não saber se ele realmente a apreciava. Às vezes, ele sorria, às vezes, estava sério, contemplativo. Ela não conseguia decifra-lo e começou a sentir o coração de apertar. Por que estava se importando com aquilo, afinal? Seu lugar não era ali, entre eles. E jamais um homem como o senhor Darcy casaria com ela. Era certo que ele se casou no livro Orgulho e Preconceito com uma dama muito abaixo dele socialmente, mas Lizzy não podia nem ser classificada assim, afinal, nem família ela tinha naquele lugar. Então, seria realmente um completo desastre se ela ficasse com ele.

Dentro da banheira, ela sentia os aromas agradáveis da laranjeira e relaxava totalmente. Poderia ficar assim o dia inteiro. Então, nem percebeu que tinha dormido sentada na banheira. Então, escutou uma voz aveludada, perto do seu ouvido:

— Elizabeth, quando você vai sair dessa banheira e deitar nada comigo?

Ela sentiu todo seu corpo se acender. Era Darcy, mas como? Como ele poderia estar ali. Ela abriu os olhos e podia ver ele, parado ao lado da sua banheira, agachado, com um daqueles sorrisos de tirar o folego.

— Da...Darcy? – ela gaguejou.

— Sim, sou eu – ele respondeu – Quem achou que fosse?

— Eu não...como entrou aqui? – ela perguntou.

— Eu esperei por você, mas precisei entrar e ver como estava – ele disse, levando uma mão ao rosto dela – Eu a amo ardentemente, Lizzie. Você é a mulher da minha vida.

Ele aproximou os lábios do seu, beijando-os e ela sentiu que estava queimando por dentro. Então, ela sentiu como se estivesse caindo e estremeceu. Piscou os olhos, olhou para os lados, mas não havia ninguém com ela. Estava sozinha no quarto.

— Foi tudo um sonho? – ela perguntou a si mesma, frustrada.

Era comum ter aquele tipo de sonho. Mas, ela não imaginava ter com Darcy. Bufou irritada, sentindo que a água estava muito fria, para ficar lá. Devia ter dormido por muito tempo. Então, lavou os cabelos, retirando o excesso do óleo e saiu da banheira. Secou-se com a toalha e enrolou na cabeça. Passou parte da noite acordada, pois os cabelos não secaram como queria. Mas, fez o que Lucia a ensinou, colocando vários tecidos enrolados nas mechas dos cabelos, para deixa-los encaracolados.

No dia seguinte, estava expectante para o teatro. Não sabia se era pela expectativa de fazer algo novo, ou por poder ver Darcy. Sonhar com ele deve ter mexido no seu subconsciente. Ela pensou que deveria estar carente, também. Fazia muito tempo que não tinha um namorado. Quando estava próximo do horário de se arrumar, precisou insistir com as crianças que deveria se aprontar, mas eles não deixavam.

Perdida no século XVIII - Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora