Capítulo 39

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Lizzy olhou para o lago em frente à mansão, sentindo o peito oprimido, como se algo ou alguma coisa estivesse prestes a acontecer. Sentia a presença de Darcy as suas costas. Uma presença silenciosa e reconfortante. Mas, nem a presença do seu noivo fazia com que ela se sentisse melhor.

- Uma moeda por seus pensamentos - ele disse, com certo humor, tocando o ombro dela de forma leve, quase imperceptível.

Ela suspirou apenas por sentir aquele mero toque. Sentia falta dele, tanta que um toque tão singelo não iria aplacar o desejo que sentia por ele. Queria abraça-lo, beija-lo. Se fundir a ele, de uma forma que um fizesse parte do outro, fosse a extensão do outro. Sentia-se uma tola romântica. Apenas de pensar isso, ela conseguiu aplacar um pouco da ansiedade que sentia, desde que saiu da sala do café da manhã.

- Eu estou com a sensação inquietante de que algo vai acontecer, Darcy - ela confessou.

- E o que seria? - ele perguntou, sem fazer julgamentos, apenas acariciava o ombro dela, enviando arrepios por todo seu corpo.

- Bom...hum...como posso pensar quando me toca dessa maneira? - ela brincou.

O toque cessou de imediato e ela se arrependeu por ser tão aberta e expansiva com ele. Virou-se para Darcy, que tinha as mãos dentro do bolso da calça de equitação em tom bege. Ele parecia um pouco desconcertado e ruborizado. O que ela achou muito doce e inocente. Darcy não parecia ser um homem acostumado a demonstrações de afeto, em público. E também, não se encaixava no perfil de um libertino. Parecia ser um homem tímido e contido. Apesar de ter se permitido a ter arroubos de paixão, quando se declarou para ela e quando fizeram amor. Ela queria que ele fosse dessa maneira a todos os momentos, mas isso seria pedir muito dele. Teria que se acostumar com o fato de que Darcy apenas iria demonstrar afeto nos seus aposentos. Fora deles, seria um perfeito cavalheiro.

- Ainda não sei, mas não parasse bom - ela respondeu a ele. Lizzy nunca acreditou em sua própria intuição. Contudo, a sensação estranha que a rondava, desde que viu Lorde Clifton não desaparecia. Parecia que com aquele homem, viriam sérios problemas.

O olhar de Darcy se tornou preocupado. E ele retirou as mãos dos bolsos, apenas para pegar as mãos nuas de Lizzy e apertou-as com carinho.

- Eu tenho certeza de que nada de ruim vai acontecer. Eu prometo a você, Lizzy. Estarei aqui para protegê-la.

Ouvir aquilo era reconfortante, mas não alterou o sentimento estranho que a envolvia. Eles voltaram para dentro da mansão, depois de caminharem em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos.

*

O casamento de Bingley e Jane fora muito alegre e simples. Ao que parecia, o casal não gostava de extravagâncias. A decoração da igreja fora feita com poucas flores e a noiva entrou com um vestido em tom perolado, com véu e grinalda, parecendo um anjo, flutuando até a nave da igreja. Era possível ver Bingley conter as lágrimas, enquanto via sua noiva entrar e quando ela disse aceito, os dois sorriram um para o outro de forma doce e tranquila, trocando as alianças de forma desajeitada. Darcy estava ali o tempo todo, presente, como padrinho do seu melhor amigo e entregou as alianças. E claro, a madrinha de Jane era Lizzy, que se sentiu honrada por ser escolhida.

Lizzy teve a oportunidade de conhecer Charlotte Lucas, que também estava no casamento. Ela era a madrinha junto com Lizzy e as duas trocaram as primeiras impressões. Era possível ver o quanto a jovem Charlotte era divertida e tranquila. Lizzy descobriu que ela estava noiva do clérigo, o Sr. Collins. Não parecia triste, mas feliz por finalmente sair da casa dos pais, afinal, já contava com vinte oito primaveras. E ela sabia que era uma solteirona. O que Lizzy discordou veemente. Ela queria tanto dizer a Charlotte que uma mulher não deveria se preocupar com isso, mas como explicar a ela, se toda a sociedade vigente pensava assim? De que a mulher deveria se casar e se não se casasse, algo estava de errado com ela e seria vista como uma solteirona. E viveria para sempre da renda dos parentes, o que de certo modo, não era algo agradável.

Perdida no século XVIII - Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora