Capítulo 6

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Hyde Park era um parque mais movimentado nas temporadas. Havia muitos turistas, no século de Lizzy. Mas, ela não esperava encontrar o mesmo movimento de pessoas naquela tarde, ao caminhar de braços dados ao lado de Georgiana Darcy. Havia cavalheiros e damas de todas as classes sociais. Carruagens e cavalheiros montados em cavalos passavam por um trecho apenas designado para veículos. Pessoas ao lado caminhavam, tranquilamente. Devia ser o clima agradável do verão. Afinal, um dia ensolarado era uma benção para os londrinos.

Lizzy cantarolava a melodia que ouvira Alexander assoviar perto da residência dos Darcy. Ela queria se lembrar da música, mas não conseguia se recordar.

— O que esta cantando, senhorita Elizabeth? – Georgiana perguntou, ao lado dela.

E lhe deu um sorriso adorável, que fazia covinhas em suas bochechas. Foi então que Lizzy notou que estava cantando a melodia da música e ficou ruborizada.

— Me desculpe – ela disse, sem graça – Eu não me lembro. Mas, gostaria de me recordar.

— Alguma composição de Mozart? – ela incentivou – Ou Bach?

— Não, não – Lizzy negou, achando engraçado o fato de que habitantes daquele tempo somente escutariam música clássica, ou música popular que deveria existir entre as classes baixas – Não é tão sofisticada assim.

— Parece uma melodia triste – Georgiana comentou – Se a senhorita canta-la para mim, eu posso tentar toca-la no piano.

— Ó, isso seria maravilhoso – De fato, Lizzy queria ter mais contato com o seu tempo. E adoraria ver um piano de perto, apesar de já ter tido contato com o instrumento. Mas, nunca teve tempo para apreciar – Então, a senhorita sabe tocar?

— Sim, eu sei tocar, dançar, bordar e pintar – ela enumerou seus talentos com orgulho. Lizzy riu internamente pensando que ela seria um fracasso como uma dama. Pois, a única coisa que sabia fazer era trabalhar com o proletariado e escrever. E ela sabia que a palavra proletariado, além do seu conceito viria muito mais tarde – E a senhorita? Com certeza já deve saber dessas coisas.

— Bom, minha educação não foi como a sua, senhorita Georgiana – ela respondeu, sendo o mais sincera possível.

— Ó, não mesmo? A senhorita sabe falar e se articular. Parece vir da nobreza – ela disse, de forma sincera.

Lizzy queria rir daquele comentário.

— Não, não mesmo, senhorita. Sou apenas Elizabeth Bennet. Meus pais eram pessoas comuns. Meu querido pai era advogado e minha mãe era...- Era dentista, mas aquela profissão não seria executada por mulheres. E foi então que ela se perguntou se existiam esses profissionais. Ela esperava muito que sim. E que não fossem bárbaros – Era dona de casa.

— Dona de casa? – Georgiana repetiu, confusa – Acredito que todas as mães ficam em casa, cuidando dela para seus maridos.

— Sim, sim – Lizzy percebeu que havia cometido um erro ao falar daquele modo. Afinal, as mulheres não fariam mais nada a não ser ter filhos e cuidar da casa – Mas, há mulheres que trabalham como costureiras ou lavam roupa para famílias, não há? Ou aquelas que são governantas, criadas. Entre outras profissões.

— Ah, sim, mas isso é para famílias pobres. E sabia que meu irmão ajuda essas famílias? Além de é claro, emprega-los em Pemberley.

Então o senhor Darcy era filantropo? Lizzy pensou consigo mesma. Ao menos, ele não era um dândi que não se preocupava com a situação social das pessoas.

— Isso é muito bom, senhorita. Sabe que nem todos nascem com as mesmas condições que nós – ela disse.

— Infelizmente, não. Mas, seria um castigo divino, senhorita Elizabeth? Sempre vou a igreja, escuto isso do reverendo dizer isso.

Perdida no século XVIII - Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora