O dia dos namorados esse ano tinha caído num sábado e, quando vi, dei graças a Deus porque, como sempre acontecia nos fins de semana, eu sairia do trabalho mais cedo e poderia passar num supermercado para comprar tudo que precisaria. Eu tinha dito ao Rodrigo que faria um jantar especial e pedi que ele chegasse ao meu apartamento por volta das nove da noite. Mas ele estava atrasado.
Me levantei do sofá e dei mais uma olhada no que eu havia preparado. A lasanha, prato preferido dele, já estava pronta, mas resolvi deixar dentro do forno para não esfriar. Em contrapartida o vinho que eu havia comprado estava tão gelado que uma leve camada esbranquiçada cobria toda a superfície da garrafa. Conferi também as velas aromáticas que estavam sobre a mesa e sorri ao me lembrar de quando as comprei há meses atrás num site da internet junto com o presente que o daria hoje, por medo de não chegarem a tempo.
Voltando à sala peguei o celular que tinha deixado sobre a mesa de centro e liguei para ele. Com poucos toques Rodrigo atendeu e eu não tive tempo de dizer nada antes de ouvi-lo falar:
— Já estou subindo.
Logo depois a chamada foi encerrada e eu corri para dar uma última olhada no espelho. Era a primeira vez que eu usava esse conjunto de pijama, uma calça folgadinha feita com um tecido confortável e estampada com várias pequenas bolinhas. A parte de cima também era confortável, no mesmo tecido que a calça, mas sem estampa. Passei os dedos entre os cabelos e no momento em que me lembrei de passar um gloss ouvi a campainha, então deixei a ideia de lado e fui atender.
Quando abri a porta, Rodrigo passou rapidamente os olhos pela roupa que eu usava e entrou no apartamento. Pisquei algumas vezes ao perceber que ele ignorou o fato de que eu havia me inclinado para lhe dar um beijo e fechei a porta.
— Você demorou, achei até que tinha acontecido alguma coisa... — Comecei a falar quando fiquei de frente para ele e o vi suspirar como se ouvir apenas aquela frase já acabasse com toda a paciência que tinha.
— Nós precisamos conversar. — Rodrigo disse e eu passei por ele indo em direção ao forno.
— Pode falar. Eu acho que vou ter que esquentar de novo a lasanha...
— Melissa para. Me escuta. — Sua voz estava séria e eu me virei para vê-lo. — Eu demorei porque não queria vir.
— O quê? Como assim? — Franzi o cenho confusa. — Nós combinamos de jantar aqui, inclusive eu comprei... — Fui até a mesa e peguei a sacola de papel pardo onde estava o perfume caríssimo que eu tinha comprado para ele, mas a soltei assim que ouvi sua voz irritada e alguns tons mais alta dizer:
— Não vai ter jantar! — Eu me calei no mesmo instante e apenas o encarei. Rodrigo então respirou fundo, colocou as mãos nos bolsos da calça e me olhou nos olhos. — Eu quero terminar.
Continuei calada processando o que tinha ouvido e ele voltou a falar.
— Pra mim não está mais dando certo. Já tem um tempo que eu queria te dizer, mas simplesmente não via o momento certo... Então é isso.
Eu ainda estava parada como uma estátua apenas olhando para ele. Rodrigo então apenas acenou com a cabeça e se virou para sair.
— Espera. — Minha voz saiu tão estranha aos meus ouvidos que me surpreendi. Meu agora ex-namorado se virou para mim e me olhou com tédio. — Você está me dizendo que já queria terminar nosso namoro há algum tempo e mesmo assim me deixou planejar esse jantar como uma idiota?
— Mel, eu...
— Você simplesmente resolveu esperar até a porra do dia dos namorados pra terminar comigo? — O interrompi e dessa vez não fiquei surpresa com a raiva que carregava cada palavra que saia da minha boca por que era isso que me queimava por dentro: raiva.
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De Repente Amora
RomanceEsperando receber flores e chocolates de presente no dia dos namorados, Melissa fica sem chão quando a única coisa que recebe do homem que acreditava que a amava é um pé na bunda. Magoada com o término inesperado e revoltada pelos absurdos que ouviu...