Anastasia
Abro os meus olhos com dificuldade, piscando para me acostumar com a claridade e gemo baixinho. Meu corpo está dolorido e eu me sinto uma merda.
Aperto meus olhos fechados e respiro fundo, me mexendo minimamente em busca de uma posição que não machuque tanto a minha coluna. Sinto uma ferruada sutil no meu braço e faço uma careta para o acesso preso à minha veia.
Ouço uma canção de ninar sendo cantarolada baixinho e olho em direção ao som, sorrindo mesmo em meio ao incômodo.
Christian balança de um lado para o outro enquanto canta e sorri para o bebê de touca rosa firmemente colocado nos seus braços.
Vejo uma lágrima rolar mas ele parece não se importar, sua atenção é totalmente voltada ao bebê.
Ao nosso bebê.
Minha bolsa estourou às duas da manhã e Christian entrou em pânico. Nossa médica ficaria decepcionada de ver todo o drama que ele criou depois de várias semanas de cursos e preparação para o parto.
Christian quase teve um ataque do coração enquanto eu tentava lidar com as contrações e a dor de expulsar um bebê de quarentena e nove centímetros para fora da minha vagina.
Foi estressante, mas nós conseguimos milagrosamente chegar ao hospital sem bater o carro durante o trajeto e eu fui encaminhada diretamente para a sala de parto.
Foi difícil, em alguns momentos achei que não conseguiria mas depois de quinze horas a nossa filha finalmente chorou com toda a força que ela pôde juntar nos pulmões.
E depois disso eu simplesmente apaguei.
— Olha só quem acordou, filha. — ouço a voz doce do meu marido murmurando baixinho e olho para ele com um sorriso cansado.
Christian caminha até mim e me dá um beijo na testa. Fito a nossa menina nos braços dele e pisco para afastar as lágrimas que se formam os meus olhos mas elas rolam assim mesmo.
— Eu quero segurar ela. — minha voz sai rouca e ele assente, apertando um dos inúmeros botões que ainda não tinha percebido.
A cama se move até uma posição inclinada, me deixando quase sentada e a pressão na minha coluna alivia um pouco.
— A enfermeira me explicou que precisamos firmar a cabeça dela. — assinto e coloco meus braços na posição que a médica nos ensinou a algumas semanas atrás.
Christian chega mais perto e passa a nossa bebê para os meus braços com cuidado. Ela resmunga um pouco mas logo vira o rostinho e pressiona o nariz minúsculo no meu peito.
— Vou chamar alguém para te ajudar a amamentar ela. — balanço a cabeça e continuo encarando a ser pequeno e frágil no meu colo.
Ela é tão indefesa mas ao mesmo tempo parece ser tão forte.
Deus sabe o quanto eu sonhei com essa criança e tê-la agora, sentir o peso dela nos meus braços e o seu cheirinho gostoso parece uma utopia.
— A bebê já conheceu o colo da mamãe. — levanto a minha cabeça e sorrio para a mulher toda de branco que entra no quarto. — Meu nome é Ewa, serei a enfermeira de vocês. Como se sente, querida?
— Um pouco dolorida mas nada preocupante. — a senhora que deve ter mais ou menos uns sessenta anos assente e tira o estetoscópio do pescoço, pressionando-o no meu peito.
— Seus batimentos estão bons, sua pressão regular. As dores infelizmente fazem parte do pacote mas não devem durar muito, por amanhã você já sentirá um alívio. — sorrio para ela e respiro fundo. — Seu marido me disse que precisa de ajuda com a amamentação.
— Sim, por favor. Nós fizemos cursos durante as últimas oito semanas mas estou com medo de fazer alguma coisa errada.
Ewa ri e acaricia os cabelos loiros da minha bebê com delicadeza.
— Nenhum curso ensina totalmente sobre a maternidade, querida. Isso nós aprendemos no dia a dia. Eu por exemplo tive quatro filhos, quatro experiências completamente diferentes.
— Meu Deus, eu estou apavorada. — minha voz treme um pouco e Christian vem para perto e mim, colocando as mãos nos meus ombros.
— É normal sentir medo no início mas passa rápido. Só não deixe que ninguém dê palpites na criação dos seus filhos, as pessoas adoram dar opiniões não solicitadas.
Ewa faz uma careta e eu rio, meu medo dissipando um pouco.
A conversa rapidamente muda de rumo e ela me enche de recomendações sobre como amamentar e métodos que posso usar caso sinta alguma dor ou incômodo nos primeiros dias.
Christian escuta tudo atentamente, enchendo a pobre mulher de perguntas.
A bebê resmunga no meu colo e começa a chorar alto. Ewa me ajuda a ajeitá-la corretamente nos meus braços e desabotoo a camisola hospitalar, oferecendo o peito para ela.
Demora um pouco e demanda paciência, mas ela finalmente pega e suga forte.
Sorrio para Christian com os olhos marejados e ele parece maravilhado enquanto acaricia a mãozinha. Nossa bebê abre os dedinhos e agarra o indicador dele com força enquanto suga o meu seio de olhos fechados.
Ewa pede licença e sai do quarto, nos deixando sozinhos na nossa própria bolha.
— Nós precisamos de um nome para ela. Não conseguimos decidir em nove meses mas agora não tem como fugir mais. — Christian sussurra divertido e eu rio, olhando para o pacotinho nos meus braços.
— Se algum dia eu tiver uma filha colocaria o nome dela de Phoebe. Acho um nome tão bonito e forte, não sei explicar bem.
As palavras de Elliot vem à minha mente inexplicavelmente.
Me lembro de quanto falamos sobre isso, foi algumas semana antes dele se matar. Acredito que Antonella já estava grávida nessa época e por mais que ele não sabia, acho que Elliot sentia.
Ele sempre foi extremamente sensível em relação a determinadas coisas e pessoas, era como se enxergasse a áurea de cada uma e pudesse saber quem era bom ou mal.
Infelizmente não funcional quando ele colocou os olhos na minha irmã.
Uma saudade aperta o meu peito e eu soluço alto.
Eu queria que o meu amigo estivesse aqui agora. Tenho certeza que ele amaria a primeira sobrinha mas também sei que ele cuidará dela do céu.
— Ana, tudo bem? — Christian pergunta preocupado e seca meus olhos, beijando a minha testa.
— Phoebe. Eu quero que ela se chame Phoebe. — olho para o nosso pequeno milagre e volto a fitar o meu marido com um sorriso. — Era o nome favorito do Elliot e eu quero homenageá-lo.
Os olhos do Christian brilham e ele encosta a testa na minha.
— Obrigado, Anastasia. Obrigado por me dar tudo isso, toda essa felicidade, por permitir que eu faça parte da sua vida. Obrigado por existir, baby. Eu te amo.
Ele me dá um beijo suave nos lábios e meu coração se enche de alegria novamente.
Eu perdi uma parte de mim quando Elliot se foi, mas ganhei duas pessoas capazes de me fazerem feliz novamente.
Ele vai me fazer falta enquanto vida eu tiver, mas sei que meu melhor amigo sempre vai estar olhando por nós, esteja onde estiver.
— Eu também te amo, Christian. Mais do que você imagina.
Fim.
[•••]
E é aqui que eu digo tchau.
🥺🙏🏻
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lo Imperdonable
RomanceAlguns erros são esquecidos com o tempo, mas outros são imperdoáveis...