Os três senhores de Enseada rubra

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Entrei no escritório elegante sozinho pois assim que o secretário me viu ele abriu a porta para mim, mas não passou por ela.

O dono de tudo aquilo estava atrás de uma escrivaninha de madeira escura e polida na parede oposta da porta e me olhou assim que pisei porta adentro. Ao me ver, ele assentiu suavemente em alguma espécie de satisfação interna e logo se ergueu dando a volta na grande mesa e se escorou na ponta dela. Eu parei no meio do cômodo e praticamente em cima do tapete de centro que formava um símbolo, uma espécie de escudo circular cortado por duas cabeças de tigres, ou o que pareciam aquilo. Olhei ao redor, mas não vi aquele símbolo em outro lugar.

— Esse é o brasão da minha família. Os Balkit – Ele disse calmamente antes de me olhar de forma levemente curiosa – Como se sente essa noite? Melhor?

— Sim, acho que finalmente eu dormi bem... – Comentei o olhando de frente do mesmo modo que ele me encarava, de novo era algo um pouco intenso, mas não desconfortável. Nada ao lado daquela pessoa era desconfortável. O que me levou a acreditar que além de eu ser mesmo sensível a pessoas e suas emoções, ou a falta delas, eu também sabia ler um ambiente. A ideia de que eu fosse alguma espécie de médico mental ficava mais e mais forte dentro da minha mente ao decorrer das horas e dos acontecimentos... – Você me chamou.

— Sim, eu fiz. Venha, sente-se, devemos conversar.

Ele apontou a poltrona de frente a escrivaninha e eu fui até ela, me sentei e voltei a olhá-lo.

Cai estava usando outro terno, dessa vez um terno claro, de caimento perfeito e gravata azul escura, porém o que me chamou a atenção foi o relógio, não era como o de antes, clássico, de ponteiros, agora era um digital e que parecia ter mil funções...

— Está é uma tecnologia nova, um relógio conectado com meus smartfones e pcs. O seu chegará em alguns dias.

— O meu!?

Tirei meus olhos do aparelho e o encarei confuso, como assim o meu...?

— Sim, o seu. Primeiro que você não pode ficar incomunicável, e se algo acontecer? E se precisar de alguém, já pensou no risco de andar por aí sem um meio de comunicação? E como sei que tem uma espinha dorsal por baixo desse temperamento quase afável, quero me precaver de futuros problemas.

— Espera, você acabou de dizer que eu vou andar por aí?

— Não quer? Prefere ficar trancado em casa para sempre ou passear sempre com escolta? Achei que seu gosto por caminhar na praia e olhar cada prédio desta cidade fosse um pequeno indício que gosta de passear... Futuro senhor Balkit – Eu ia rebater sobre a coisa do futuro senhor Balkit, mas ele logo emendou outro assunto – Mas não foi sobre esse assunto que te chamei aqui antes do jantar e sim para lhe dizer que eu transferi todos os meu negócios de amanhã para os demais dias para que tenhamos tempo de ir até a praia do mangue traiçoeiro, segundo seu relato foi lá que caiu o seu monomotor e de acordo com o terreno daquela região as poças de terreno movediço não são muito profundas, é possível recuperarmos o seu veículo e procurar pistas da sua vida de antes nele. Já mobilizei uma pequena equipe para nos acompanhar amanhã assim esteja pronto para sair as sete da manhã.

— Nós vamos recuperar meu avião!?

— Devemos ajudar seu cérebro, concorda? Se temos essa pista, por que ignorá-la?

— Cai... – Eu me senti tão, mas tão agradecido que mesmo antes de refletir sobre o que eu fazia, eu me ergui da poltrona e fui até ele o abraçando forte completamente agradecido. Aquele homem... – Eu não sei como agradecer!

— Eu sei – Ele disse baixo e logo senti um dos braços dele cercando minha cintura e me puxando mais para junto do corpo dele e quando falou outra vez, a voz soou baixa e ao pé do meu ouvido – Fidelidade, Temps. Seja fiel a mim, me diga todos os seus pensamentos e desejos, não me esconda nada, sempre converse e exponha suas dúvidas, seja fiel, completamente fiel e tudo o que quiser será seu.

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