O plano de Channy deu meio certo, porque quando voltei para o quarto e acordei os três dizendo que tinha encontrado um amigo da minha infância que estava justamente tentando voltar para casa agora que a mãe tinha morrido e tudo o mais, Daniel e Jeff acabaram concordando em dar carona para ele, mas Cai... Bem, Cai me olhou seriamente, de maneira um pouco estranha e eu que nos últimos dias tinha meio que ficado com o foco no meu próprio umbigo por causa da gravidez e de pensar em como ia achar o meu parteiro, notei que talvez... Ele estivesse mais por dentro de todas as coisas não ditas, do que as coisas escondidas.
Na noite seguinte seguimos viagem com Channy a bordo e então Cai me chamou para uma conversa em privado na poupa do navio praticamente no meio da madrugada, quando todos estavam dormindo a não ser Bárbara que pilotava distante de nós dois:
— Comece pelo começo.
Foi tudo o que ele me disse se escorando na grade e enfim, não era como se eu não entendesse o que ele dizia, até porque tínhamos realmente deixado a fase da incompreensão lá atrás nos nossos primeiros dias juntos.
Então eu realmente comecei do começo e contei tudo, retomei a minha queda com meu encontro com a antepassada dele e vim de lá falando tudo, com todos os detalhes, de todas as minhas memórias e do quanto eu também não sabia muito do que eu era, mas detalhando o que eu era até onde eu sabia. Falei da gravidez, da minha habilidade de falar com mortos, ou como Aurea disse, com mortos específicos, e até mesmo que Channy era um irmão de alma, um dos nove e que era o único que podia fazer meu parto. Falei de espíritos, da mulher da árvore coração que eu não sabia se existia também ou se era outra morta...
Falei dos meus medos, mas também da minha felicidade em ter alguém que me entendia e que poderia me ajudar nas áreas cinzas de quem eu era e que pouco ainda sabia...
— Sei que tudo isso parece fantasioso e inexplicável, Cai – Terminei me sentindo exausto com todo aquele longo monólogo enquanto ele apenas me olhava paciente e sem demonstrar nenhuma emoção – Mas essa é toda a verdade. Eu não disse nada antes porque ainda não sabia como dizer, ou o que dizer, enfim, não é algo que dá para sair falando sem alguma espécie de rascunho nas mãos.
— Eu soube no segundo que olhei em seus olhos lá na ilha da família do Jeff que a tempestade que vinha junto de você não era algo a se tomar de ânimo leve – Ele disse por fim vindo para mim que agora estava sentado em uma das espreguiçadeiras e se sentando ao meu lado enquanto me encarava fixamente – Mas eu não duvido de nada do que disse, Temps, porque isso explica muito do seu comportamento dos últimos dias. Mas ouça com atenção, sei que teme ver algum médico por causa de todas as peculiaridades da sua situação, contudo não é seguro seguir as cegas em uma gravidez como essa, então sobre isso acredito que precisamos sim de um médico confiável para fazer os exames e...
— Sem médicos.
Disse firme, ele estreitou os olhos:
— Como seu surto de antes sobre sem remédios!?
— Exatamente.
Falei firme porque se tinha algo que eu tinha absoluta certeza era que nada nem ninguém poderia saber da minha gravidez. E não havia médico confiável o suficiente.
— Esse rapaz que está conosco, você nem tem certeza se ele...?
— Tenho. Ele é meu parteiro e só ele vai tocar na minha barriga para qualquer tipo de análise.
Cai suspirou e desviou os olhos para as águas escuras do mar em meio a madrugada silenciosa:
— Sabe o quão arriscado esse seu comportamento é?
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Cobiçado
Roman d'amourEle caiu do céu direto para uma terra desconhecida e se tornou alvo dos três melhores partidos da cidade. Ele não sabe quem é, mas na cama dos três demônios ele nem vai precisar pensar nisso por muito tempo... A caçada ao anjo começou e quem ganhará...