Cobiçado

Segundo oceano

  Para dar tempo e espaço a Daniel e Cai, eu e Jeff acabamos passando o resto do dia no andar inferior vendo o mar, dormindo no sofazinho do canto da cozinha ou beliscando bobagens. Consegui fazer Jeff prometer que não ia dizer nada a ninguém por enquanto e só quando Bárbara acordou que nos demos conta de que já escurecia.

— Por que vocês dois estão aqui embaixo?

— Mudando de ares.

Respondi sorrindo com todos os dentes, o que ela respondeu resmungando que eu era um grande pé no saco e depois de pegar um pote de sorvete ela voltou para o quarto dela.

— Ela é tão mal-humorada né?

Disse ao Jeff que rolou os olhos:

— Ela gostava de um cara uma vez e a coisa terminou bem mal. Bárbara é muito dominadora e ditadora, mas isso você já percebeu – Jeff se esticou e abaixou mais a voz - E ficar grudada no Daniel não ajuda muito. Ambos compartilham da cara de maus e de infelizes com certeza pela prática de anos...

— Tenho certeza de que depois de hoje, infeliz é que Dani não vai ser.

Disse começando a rir mesmo que baixo e Jeff me acompanhou até que Bianca desceu e nos olhou de canto de olho:

— Subam os dois e vão se trocar, vocês dois estão parecendo crianças largadas em um parquinho sem supervisão.

— Um momento, senhora Campone, um momento! – Jeff interveio cruzando os braços e mexendo de leve os cabelos como se fosse um modelo de revista posando, o que ele poderia se passar super – Primeiro, veja bem meu estilo e repita isso!? Eu não fico desalinhado mesmo tentando!

— Você está uma bagunça, Mercin. Só aceite.

Bianca zero afetada disse monocórdia e Jeff bufou saindo dali e subindo as escadas. Eu ri de novo e olhei para Bianca de canto:

— Você arranhou a vaidade dele, Bi.

— Ele supera.

— Hummm o Daniel assumiu o leme?

Foi a vez de Bianca sorrir de canto:

— Ele está ensinando o Balkit.

Abri a boca chocado. OI?

— Mas...

— Seu sugar daddy leu todo o manual, o guia e até mesmo um tratado sobre esse iate, navegação em mares profundos e mais guias de navegação avançada. Tenho que admitir, ele é um gênio.

— Ele é, de verdade. Nada para o Cai.

Respondi naturalmente, ela acabou rindo:

— Sério, vocês são o casal mais bizarro que eu já vi. Daniel nunca teve a menor chance mesmo...

Ela abriu a geladeira e eu rolei os olhos. Mas acabei não rebatendo, eu realmente queria ver aquilo, por isso subi os andares, cheguei no pátio da cabine e realmente vi Daniel instruindo Cai que ouvia tudo de maneira concentrada. A nossa frente o sol de punha e o mar permanecia tranquilo e agradável. A brisa era fresca e deliciosa e tudo convidava para um banho de mar, claro, se esse mar não fosse tão profundo como era na realidade...

Sorri. Eu estava feliz, realmente feliz. Era como se finalmente, finalmente todo aquele impulso que me governava de sair, explorar e descobrir outros lugares e mundos tinha se acalmado.

Eu não sabia o que queria antes, tudo o que me movia, mas agora que eu sabia e ter encontrado as respostas era como colocar a última peça que faltava no meu imenso quebra cabeça interior e me satisfazer com o resultado. E Cai tinha realmente razão, se tivéssemos um casamento feliz e realizado, mesmo com os percalços e tudo o que vinha com a convivência, ainda assim quebraríamos a maldição e permitiríamos que os que ainda estavam presos àquela sina, ficassem livres e libertos.