Capítulo 9

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Saudade.

Por longos meses eu passei sentindo como se todo o meu mundo houvesse desabado em cima de mim, os dias foram difíceis e arrastado. Todos pareciam uma eternidade quando ela nao estava aqui.

Aprender a se acostumar com o vazio que se instalou no lugar onde costumávamos chamar de nosso lar, hoje é apenas meu.

Nas primeiras semanas depois de sua partida, tudo aqui ainda tinha o cheiro dela. Da mesma forma que aquilo me maltratava me trazia de alguma forma conforto, era como me enganar que em algum momento do dia ela voltaria e tudo não passaria de apenas um pesadelos.

Mas não foi assim, os dias passaram e em nenhum deles até hoje eu não a vi passar por aquela porta novamente. E isso levou cada dia mais uma parte do meu coração.

Não posso negar que depois de seis meses eu ainda sinto, sinto muito mas menos do que o dia em que ela realmente saiu por aquela porta. 

Hoje diferente dos outros dias eu consigo falar sem sentir os meus olhos pesarem com as lágrimas que se acumulam antes de escorrerem pelo meu rosto. Não estou dizendo que hoje não doa, pelo contrária, ainda dói e muito. Mas tenho lidado melhor com isso agora.

A amizade que tínhamos antes de sermos um casal nem essa se quer prevaleceu, nosso contato é apenas profissional, isso quando não tem mesmo como deixar que outra pessoa resolva por nós, pra que assim nosso contato realmente seja zero.

Não é que eu não queira estar perto dela e vê-la. Se tem uma coisa que quero é sentir o seu cheiro, o seu toque.. mas, se ela escolheu viver uma vida onde nitidamente já não me cabe, eu não irei ficar me machucando criando uma falsa esperança de que em algum momento as coisas darão certo novamente.

— Filha, que tanto você pensa aí? - Ela diz se sentindo ao meu lado.

— Na vida!

— Essa vida tem nome? - Ela me olha.

— Não, apenas nos projetos futuros. - Menti.

— Eu te conheço, e sei bem quando esses olhinhos brilham. - Ela faz um carinho em meu rosto. — Por que vocês complicam tanto a vida de vocês? Já se passaram seis meses, minha filha. Por que vocês não conversam agora?

— Mãe, ela tá vivendo a vida dela, e ela tem todo direito de fazer isso. Não acho que tenha o que conversar, ela parece bem. - Faço uma pausa. — Não estávamos nos fazendo bem antes, tava desgastando demais as nossas brigas.

— Eu não entendo. - Ela me olha. — Como o relacionamento e o amor lindo que vocês sentiam uma pela outra se foi assim. Como escapou pelos dedos assim?

— Mãe, junção de várias coisa pequenas que acabou se acumulando e chegou uma hora que não deu mais. - Olho pro nada me lembrando da briga pós show. — Desde a nossa briga daquele show que a menina agarrou ela, nunca mais voltamos a ser a mesma. Mesmo ela se esforçando demais pra que as coisas ficassem bem. Eu realmente fui idiota em deixar ela acreditar em algo que eu só pensei quando estava com ciúmes.

— Ouvi uma vez que o que é realmente nosso sempre encontra um jeito de voltar. - Ela segura em minha mão. — O tempo se encarregará de tudo...

— Entendo mãe. Mas não ficarei aqui esperando que as coisas se ajeitem. Preciso sair, ver pessoas, me divertir. Já fiquei longos seis meses me lamentando por tudo isso.

Ela me olha e da um sorriso, eu entendo que pra ela deve ser complicado ainda assimilar tudo isso, pois viveu nosso relacionamento de perto, e sempre nos aconselhava quando as coisas ficava ruim e dessa vez foi diferente.

— Você sabe o que faz, filha! - Ela diz se levantando. — Eu sempre estarei aqui se precisar. - Ela da um beijo em minha testa e sai.

Me levanto do sofá e vou pro quarto, entro em meu quarto e fecho a porta avisto meu violão então o pego e começo a dedilhar algumas músicas e então tenho a ideia de fazer uma pequena live pra interagir com meus fãs. Faz um tempinho que não faço, e sei o quanto eles adoram.

Pego meu celular e abro o Instagram já abrindo a live. Assim que entro vejo os números de pessoas só subirem.

Live on.

Oi pessoal! Como vocês estão hein? - Faço uma pausa lendo algumas mensagens que eles estão enviando. — Eu estou bem. - Dou um sorriso.

De dez perguntar que apareciam seis em média era sobre eu e a Maiara. Eu apenas sorria quando lia e tentava ignorar. Mas eles não se davam por vencido, sempre insistiam na mesma pergunta.

— Gente, eu e a Maiara estamos bem. Seguindo caminhos diferentes agora. Mas estamos bem. Eu torço demais pela felicidade dela e acredito que pra ela não seja diferente. Mas vamos deixar isso pra lá. Me diz o que vocês querem ouvir.

Leio e vejo que a maioria já havia feito um repertório de músicas pra que eu pudesse cantar. Se cantasse todas ficaríamos por horas ali.

— Vou cantar uma que acredito que vocês conheçam, mas não é minha.

Começo a tocar o violão até encontrar a nota e então começo a cantar.

— A cama amanheceu vazia
A noite foi escura e fria
Playlist que a gente ouvia
O silêncio da minha companhia
A gente briga todo dia
Enquanto a vida acontecia
O amor saiu pela porta afora
E se eu te ligar, cê vai atender?
Diz que vai voltar só pra vir me ver
E se eu te disser que a vida tá bem
Sei que vou mentir se tem outro alguém.

"Marília e essas músicas sofridas?"

Paro de cantar assim que leio esse comentário que acaba me fazendo rir ao me lembrar de uma antiga live.

— Vocês são ridículos. - Falo rindo. — Então vamos pra essa.

— É que do copo eu vim
Pro copo voltarei
Tava com o pé no amor
Bebi, escorreguei
É que do copo eu vim
Pro copo voltarei
Em terra de balada
Quem tá solteiro é rei.

— Melhorou agora? - Falo rindo. — É incrível passar um momento com vocês, mas preciso ir agora. Sempre que der eu retornarei. Amo vocês, obrigada pela companhia.

Finalizo a live e continuo tocando e cantando algumas músicas, pois é a forma de conforto e de colocar pra fora o que tem me consumido por dentro.

Questão de tempo. - Mailila. Onde histórias criam vida. Descubra agora