A traidora

173 22 4
                                    

Quando Akaza começa, ele sabe, a presença em sua mente parece desaparecer quase completamente, está mais distante do que jamais estivera, não é perfeito ou o ideal, mas teria que servir. Pela primeira vez desde seu despertar, seu tempo é limitado e ele não hesite em se mover. Deste momento em diante, cada segundo contaria, não há espaço para deslizes, ele preferia não contar com terceiras chances, uma segunda já havia sido surpreendente por si mesmo.

Rasgando o envelope, ele puxa o pequeno papel dobrado, o endereço é escrito com tinta preta em traços firmes. Sua sorte é desconcertante, ela está perto, meros quilômetros, em minutos ele a alcançaria. A sensação de certo é desconcertante, ele espera mais desafios, uma pressão e perseguição constante, a falta de falhas até então o deixa desconfiado, em antecipação, ele não sabe se gosta. Com olhos comprimidos, ele amassa o papel e o descarta. Ele se move rápido, o mundo é um borrão, um galho estoura quando ele pousa, antes que se lance mais uma vez, ele não está sendo cuidadoso, não com isso.

É apenas meia hora depois que ele a alcança, não há nada além de terreno aberto, a grama avermelhada e uma árvore caída. Ele sabe que ela está ali, ele sente, assim como supõem que ela esteja oculta por alguma arte demoníaca. Não demora para que ele note, a habilidade é interessante, mas inútil contra sua percepção. O oni avança, mesmo que não haja nada lá, ele segue em frente, buscando o limiar, é apenas uma pressão sutil, ainda fraca, jovem e não um desafio real, seu próprio poder dominante o dissolve fazendo o ambiente mudar. Logo há uma mansão há frente, a pintura é discreta, a estrutura é nova, ao todo parece bem cuidada, lanternas estão acesas e ele pode sentir duas presenças demoníacas lá, há alerta e Kokushibou sabe que um deles deseja fugir, enquanto que a outra está mais calma ainda que temerosa, mas não se move, talvez por saber que é inútil tentar sair agora.

Kokushibo não é um bárbaro, ele não coloca abaixo a estrutura, ainda não, basta que permaneçam comportados. Deslizando a porta de papel, ele observa a sala iluminada, cheira a ervas, produtos de limpeza e há algo mais, ele para por um segundo, algo está errado. Sua mente parece se embaralhar, é estranho, estrangeiro. Mais um truque, outro que brinca com seus sentidos. Um pouco irritado, ele foca sua atenção nas únicas presenças na sala. Dois onis, um menino e uma mulher, ele descarta o menino, seu olhar caindo sobre o sangue que pinga do braço cortado, a traidora tentava usar sua técnica de sangue contra um superior. Ousada ou tola, ele não sabe qual o pior, ela tem sorte que seja necessária.

—︎ Não vai funcionar.—︎ Ele não se preocupa com trocas fúteis, apresentações são desnecessárias, ambos sabem quem são de certa forma.

Ela tem sua fama entre o alto escalão, ele próprio tem aquelas marcas amaldiçoadas clara em seus olhos.

—︎ Eu precisava tentar.—︎ Seu tom é suave, não há tremor ou hesitação.

O menino ao seu lado se agita, Kokushibo o nota abrir sua boca, uma veia estourada em sua testa, com um toque a traidora o detém de sua estupidez, ela não o solta, o menino se mantém parado, esperto o suficiente para respeitar seu aviso.

—︎ Você veio para me capturar ou matar?—︎ A traidora pergunta.

—︎ Nenhum dos dois. O que quero é diferente, preciso de seus conhecimentos.—︎ E eles o terá.

Olhos violetas se mantém firmes, há inteligência lá, ele sabe o que ela vê, ela é rápida para entender o motivo pelo qual ela e o seu bichinho ainda vivem. Se ele estivesse ali pelo progenitor, nenhum diálogo o deteria por tanto tempo.

—︎ Ele está presente?

—︎ Não agora.—︎  Mas logo estará, ele não esqueceu e sabe que as amenidades tem durado demais.—︎ Não diga seu nome, isso terá sua atenção.

Antes e Depois (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora