Seleção final

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O menino sorrir sem jeito, rosa manchando suas bochechas de constrangimento e culpa, o demônio decapitado se desfazia não muito longe, amedrontado pela aura sombria de Kokushibo, se resignou a morrer em silêncio. Sob o luar, o que restou da lâmina brilhou quando o menino a moveu, tentando esconde-la do olhar afiado do mais velho.

Sem uma palavra, Kokusibou se virou, seus passos silenciosos. Foi sua ideia levar o menino para caçar, o fazendo ter uma experiência prévia do que viria. A espada quebrada não o surpreendia e logo não seria mais uma preocupação sua, quando o menino passasse pela seleção do corpo de extermínio, caberia a eles esse inconveniente. De acordo com o azarado caçador de baixa patente que atravessou seu caminho na noite anterior, logo haveria uma oportunidade. Em três dias, uma nova seleção seria realizada, e o infeliz foi atencioso em lhe detalhar a localização e funcionalidade da prova em troca de sua vida. Por despeito, Kokushibo ainda quebrou alguns ossos, mas cumpriu o acordado.

Quando se aproximam da cabana, o demônio segura o menino pela gola de suas vestes, para um adolescente o mesmo ainda é muito baixo, ele chuta o ar um pouco e se contorce como um verme. Kokushibo o larga em frente ao poço, esse é recente, um esforço conjunto de Akaza e Tanjiro para garantir água sem a necessidade de um percurso até o riacho.

- Se limpe, então entre, você deve partir em breve.

O menino esfrega a gola com uma careta e o olha confuso, antes de jogar o balde para colher água.

- Estou sendo expulso?- O menino diz esganiçado.

- A seleção final se aproxima, você deve ir para se juntar aos caçadores.

- Ah, entendo... tudo bem, sensei...- Apos um minuto ele fala devagar, parecendo pensar algo.

Ainda que o menino concorde, Kokushibo nota seus ombros curvando, seu olhar fixo ao balde cheio. É claro que o menino ainda está em um dilema, para alguém como ele enganação é tabu, a culpa irá crescer inevitavelmente, em especial quando o menino iniciar suas interações com os membros do corpo, Kokushibo está bem ciente disso, mas ainda prosseguirá como o planejado, afinal, ainda que esses sentimentos persistam, o demônio sabe que o menino voltará para a irmã e ela não está indo a lugar algum.

Deixando o menino para se limpar, Kokushibo segue para a cabana. Ao entrar, ele nota que Akaza está arrolado em um canto, adormecido. Aparentemente a operação de Tamayo acarretou em mais mudanças que o esperado, não era uma necessidade, mas o outro oni pareceu aderir ao hábito. Deixando essas contemplações de lado, em silêncio, Kokushibo recolhe a katana do caçador azarado da noite anterior, foi uma precaução, com o menino como aluno tal cuidado nunca era o suficiente.

O sol já está despontando no horizonte quando o menino entra, seus olhos correndo pelo pouco espaço antes de pousar no mais velho. Com um gesto, Kokushibo o chama e o menino vem prontamente, aceitando a espada quando oferecida. Tanjiro segura a nova arma com cuidado, antes de falar:

- Sensei, você cuidará de Nezuko? Quero dizer, se eu não voltar...

- Você voltará.- O demônio o corta antes que o menino fale mais. É tolice, tal prova não o matará, não foi antes, não será agora sob sua tutela.

O menino o fita com surpresa, seus olhos brilhantes e molhados, formando suas próprias conclusões.

- Obrigado, sensei, farei o meu melhor!

Kokushibo pisca desinteressado, o menino é sempre tão exuberante, tendendo a encontrar significados onde não há, mas o demônio não tenta o refutar dessa vez. Não é por preocupação ou confiança, é apenas um fato, o menino não iria falhar.

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Tanjiro parte naquele mesmo dia. Antes o menino acaricia a bochecha da irmã, puxa seus cobertores em um ajuste melhor e se ergue. Lá fora, ele se curva para os dois demônios, um grande sorriso fácil em sua face, só então, ele acena em despedida.

Antes e Depois (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora