Não importa

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Não há espaço para piedade. A realidade é brutal, sacrifícios são uma constante, é apenas que alguns são maiores que outros. Ele não mudou, não realmente. Ainda que não mantenha uma lealdade cega, ele não é bom, nunca será. Assim, quando o progenitor o comanda para que mate os caçadores e todos naquela cidade, ele o faz.

Sua mente é vazia, ele não sente nada, não pode sentir nada. Ele não deixa qualquer corpo, seria um desperdício e ele faz uso daquele poder adquirido pelo sangue. Naquela noite, ele não retorna aquela lápide sem nome, nem no seguinte, nem no próximo. Levará meses antes que ele retorne, silenciosamente limpando as ervas daninhas que crescem, removendo a sujeira acumulada, garantindo que a flauta ainda está lá. Ele não diz nada, não há desculpas, não há lamúrias.

Como demônio, os anos vem e vão, o tempo parece insignificante, seu corpo não envelhece, seu poder não é diminui. Ele não se preocupa em seguir com precisão as datas, mas gosta de saber em qual período estão, é uma necessidade.

Nesses anos, ele não procrastina, não lhe convém. Assim, mais uma vez, ele refina sua técnica. Ele cumpre suas ordens. É como entes, até que não seja.

Nakime responde a Muzan, mas também seguirá aos comandos de seus superiores, por tanto que seus pedidos não desviem dá vontade de seu mestre. Quando Kokushibo a chama, o castelo do infinito se abre a frente, em uma plataforma a parte, a oni está sentada, seu biwa em seu colo, seu olho escondido pelos grossos fios negros.

—︎ Kokushibo-sama.—︎ Ela o cumprimenta, breve e direta.

Ele aprecia sua eficiência.

—︎ Preciso que me abra uma porta para Akaza.—︎ Como ela, ele não é dado a rodeios.

Um segundo segue em silêncio, antes que o instrumento seja tocado, o chão sob seus pés muda, uma porta desliza e ele cai para uma floresta ou o que resta dela. A presença de Nakime some antes que ele toque o chão.

O chão é revirado, as árvores estão caídas, madeira lascada em pedaços afiados. Mesmo um civil notaria a névoa de fúria mal contida, a intenção assassina que permea o ar. Um ruído alto reverberou pela noite, então o estrondo de uma explosão. Nada daquilo o surpreendeu, Akaza podia ser temperamental, tendo em vista os acontecimentos mais recentes, era esperado a demonstração feroz de raiva e frustação.

Ele adiou aquele encontro por décadas, esperando o melhor momento para começar a se mover e plantas as sementes. Antes de Akaza lembrar, ele foi leal, ele repudiou a fraqueza, assim, servir a alguém tão poderoso quanto Muzan, foi esperado. Muzan lhe dava poder, graças a sua condição como oni, ele pode continuar a nutrir sua força, treinando seu corpo além dos limites humanos. Ele não trairia seu mestre e Kokushibo não ousou contemplar aquelas lembranças de outra vida, não quando ele mesmo tinha um parasita em sua mente e sangue, mas ele sabia, do que? Não importa, ele apenas sabia. Akaza devia ser levado, um aliado, para o que? Nada que importasse, ainda não.

O caminho de destruição não o impediu de avançar. Em meio a fumaça e detritos, a figura do outro oni levou sua atenção. Akaza tinha pontencial, com seu temperamento a parte, ele era útil. Não lhe faltava dedicação, sua técnica era polida, ainda que fosse divergente das suas, seria interessante juntar aquelas duas vertentes. A percepção do outro demônio também era boa, ainda que perdido em seu frenesi, ele o notou, virando-se em sua direção quase que imediatamente, sua postura firme para atacar e receber qualquer potencial ameaça, mesmo o reconhecendo, ele ainda não abandonou sua posição.

Suas olhos brilhavam mesmo na noite, os kanjis para três superior se destacando e também a razão para tudo aquilo. Menos de um mês antes, Douma o desafiou e Akaza perdeu, sendo deposto de sua posição.

Antes e Depois (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora