A carta

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Sírius caminhou lentamente pelos corredores escuros e empoeirados do Largo Grimmauldnº 12 com um misto de revolta e desespero. Passara 12 anos da sua vida trancafiado injustamente em Askaban e agora se vira obrigado a ficar escondido, novamente trancado, naquele mausoléu que um dia fora sua casa. Não entendia como Dumbledore conseguira convencê-lo a voltar àquele lugar em vez de deixá-lo participar ativamente dos esforços para manter Voldemort longe do poder. A única coisa que salvava era a perspectiva de passar algum tempo com Harry no final do verão e a presença quase constante de seu amigo Remo Lupin. As visitas dele lhe davam ânimo e, ao mesmo tempo, saudade do tempo emque a única preocupação dos dois era escapar de uma detenção na escola. Mas a presençado amigo também o fazia se lembrar de Tiago e de Lilian e o peso da culpa de não ter conseguido protegê-los era infinitamente maior, imensamente mais doloroso. 

Lembrou-se daquela noite maldita, onde a agonia o acompanhara o dia todo, de como não conseguira encontrar Pedro Pettigrew e se assegurar que o segredo do paradeiro dos Potter estava guardado, e principalmente, lembrou-se da dor de chegar a Godric Hollows e encontrar acasa de seu amigo destruída e Tiago, seu irmão de coração, morto junto com sua adorada Lily, e no berço aos prantos, o pequeno Harry, milagrosamente salvo apenas com uma cicatriz na testa.

Balançou a cabeça para afastar aquelas imagens e subiu as escadas. Aquela casa sempre fora horrível e os anos de sujeira e abandono apenas deixaram as coisas piores. Sem saber exatamente porque, parou de frente ao quarto do irmão e leu a inscrição na porta.

- Idiota. - disse para o pequeno aviso. 

Ele e Régulo nunca tinham se dado bem. Eram diferentes como a água e o vinho, e a predileção da mãe pelo filho mais novo sempremagoara Sirius. Como vingança, ele passara a contrariar todas as vontades dos pais e praticamente morrera para a mãe no dia que fora para Hogwarts e fora escolhido para a Grifinória. Aquilo e a fé cega de Régulo que os pais estavam certos afastaram cada dia mais os irmãos. Mesmo se sentindo distante do irmão, ficara preocupado com as companhias dele nas escola, e influenciado por Lilian, ainda tentara lhe falar, convencê-lo do mal caminho que estava tomando. Mas Regulo não lhe dera ouvidos e lhe dissera em alto e bom tom não tinha irmão. 

Mesmo magoado com ele, ficara extremamente preocupado quando o irmão simplesmente desaparecera aos dezessete anos. Sabia que ele era um Comensal da Morte e acreditava piamente nas idéias de Voldemort, mas nem mesmo ele merecia ser traído pelos seus supostos amigos. 

Forçou a maçaneta mas a porta estava trancada. Sacou a varinha e com um simples "Alorromora" abriu a porta. Entrou no quarto e parou alguns instantes no meio do aposento, olhando a sua volta. Mais sonserino, impossível. Caminhou até uma parede onde uma foto do time de quadribol da Sonserina estava. Fitou o irmão na foto. A tanto tempo não via a imagem dele que até já tinha se esquecido de suas feições. Ele era apanhador, e Sírius tinha que admitir, que dos bons. Se não tivesse se aliado a Voldemort poderia ter jogado profissionalmente. 

Caminhou a esmo e aleatoriamente, pegou um livro escolar. O folheou rapidamente, e ao fazer isso, viu um envelope entre suas páginas. Teria ignorado se nele não estivesse escrito o seu nome. Intrigado com aquele achado, abandonou o livro e abriu o envelope, desdobrando o pergaminho. Reconheceu a letra caprichada do irmão.

" Meu querido irmão Sirius.

Sei que talvez você nunca leia esta carta mas não pude deixá-la de escrever antes de sair para esta que, certamente, será minha última missão.

Quero, meu irmão, lhe pedir perdão. Perdão por ter sido tão cego, por ter sido tão idiota, por não ter te ouvido quando tentou me avisar sobre o caminho errado que eu estava tomando. Nesse momento, percebo que fiz tudo que fiz apenas por inveja de você. 

Sim, inveja. Inveja da maneira como você desafiava nossos pais, inveja dos seus amigos, inveja das suas brincadeiras, da forma como você sempre se dava bem com as garotas, inveja da sua liberdade, inveja da sua alegria. Também tive inveja de Tiago, e raiva também, por ele ter se metido em nossas vidas e roubado o amor de irmão que deveria ser meu.

Sinto muito por tudo. 

Sei que é tarde para nos acertarmos, mas saiba que sempre o amei. Espero que meu ato de hoje possa ajudar na sua luta contra Voldemort. Não posso entrar em detalhes, mas acredite, os planos dele são terríveis. 

Não confie em Pedro Pettigrew. Sei que ele é seu amigo, mas ele os traiu, é um Comensal da Morte. 

Espero que um dia você possa ter orgulho de mim. Eu te amo meu irmão.

Adeus para sempre. 

Regulo Arturo Black"

Sirius sentiu um aperto na garganta e lagrimas lhe turvaram os olhos.

- Regulo, seu idiota, o que você fez? - falou mais para si mesmo, o remorso lhe apertando o coração. Ele tentara avisá-lo, tentara contar-lhe sobre Pedro. Se ao menos tivesse encontrado aquela carta no tempo certo, se não tivesse dado ouvidos a louca da sua mãe e invadido o quarto do irmão quando soube do seu desaparecimento e procurado pistas do seu paradeiro, talvez tivesse conseguido salvar os amigos. 

Deixou que grossas lágrimas lhe corressem pelo rosto, lágrimas de saudade, de culpa, de remorso. Agora, mas do que nunca, sabia que deveria ter ouvido Lilian e ter tentado quantas vezes fossem necessárias de mover o irmão daquela idéia de ser Comensal da Morte, mas fora orgulhoso demais, estúpido demais. Seu único consolo era saber que o irmão enxergara a verdade a tempo epelo visto, tentara impedir algum plano maquiavélico de Voldemort. Mas pelo jeito, foramal sucedido. 

Seu corpo nunca fora encontrado. Dobrou a carta com cuidado e a colocou no bolso. Era tarde para se reconciliar com o irmão, mas não era tarde demais para vingar a sua morte. Voldemort pagaria por todos os entes e amigos queridos que tinham morrido por sua causa. Fitou pela última vez a foto do irmão, saiu do quarto e trancou-o novamente. 

Mais angustiado que antes, saiu da casa pelos fundos e se transformou num grande cachorro negro, a sua forma animaga, e saiu correndo pelas ruas de Londres, aspirado o arquente da noite, tentado imaginar o que acontecera com seu irmão e quais eram os planosde Voldemort que ele tentara impedir. Fosse qual fosse esse plano, Sírius o impediria de se concretizar, nem que para isso tivesse que morrer. A morte de Regulo Black não seria em vão, ele completaria a sua missão. 

Momentos da Vida - Harry PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora