Momentos da Vida - Harry Potter

Palavras venenosas

Gina deu um suspiro cansado e olhou a sua volta. Estava em um salão de festas no Ministério da Magia cheio de gente, todos em trajes a rigor e parecendo dispostos acercar o seu marido e enche-lo de perguntas, principalmente sobre como ele tinha dado um fim em Voldemort. Como sempre, Harry dava respostas vagas e fugia o mais rápido possível do assédio, mas sem muito sucesso. Pensara seriamente em não ir àquela festa, mas fora convencida pela mãe e Hermione de que seria bom sair e se distrair um pouco, já que passara os últimos três meses cuidando quase que exclusivamente de Tiago e seria bom ela e Harry terem um tempo pra se divertirem. Como se ficar a noite toda num vestido apertado e fugindo de pessoas inconvenientes fosse divertido. 

Pediu licença às mulheres com quem conversava banalidades e rumou para o banheiro, não sem antes tentar encontrar Hermione, mas sem sucesso. Com certeza, ela e Rone estavam escondidos em uma sala qualquer se agarrando feito dois adolescentes. Entrou no banheiro sorrindo, lembrando que ela e Harry já tinham feito isso mais de uma vez. Talvez pudessem fazer isso de novo essa noite. Já estava quase de saída quando viu pelo espelho Cho Chang entrar, deslumbrante num vestido vermelho, os longos cabelos negros presos num penteado elaborado, a maquiagem impecável. Sem querer, acabou se comparando a chinesa ao seu lado. Escolhera um vestido preto bem elegante, é verdade, mas bastante simples, prendera os cabelos num coque frouxo na altura da nuca e fizera uma maquiagem discreta. O único item chamativo em sua produção era o colar de esmeraldas que ganharado marido no último aniversário. Sem saber bem por que se sentiu desconfortável.

- Olá Weasley. A quanto tempo não nos vemos, não é? - cumprimentou a outra, fazendo questão de usar o sobrenome de solteira da ruiva, o que a irritou profundamente.

- Olá Chang. - Gina cumprimentou de forma doce, algo que quem a conhecia sabia não ser bom sinal. - Não sabia que tinha voltado a Londres. Pensei que ficaria de vez no Canadá.

- Pois é! Voltei a pouco tempo. - a chinesa respondeu, retocando o batom vermelho. - Soube que teve um filho.

- Sim, tive. - Gina respondeu altiva, sem querer se deixar abalar pela outra. - Eu e Harry estamos muito felizes com nosso bebê.

- Posso imaginar. - a outra comentou com desdém. Fez silêncio por um momento, então fitou a ruiva pelo espelho. - A questão é quanto tempo essa felicidade vai durar.

- O que quer dizer? - Gina perguntou, a paciência por um fio.

- Nada demais, só a verdade. Essa coisa de família feliz, filho pequeno, deve acabar cansando. Não deve ser nada bom ser trocado por um monte de carne rosada que só sabe chorar e sujar fraldas. Aposto como Harry logo se cansará disso. E levando-se em conta que você não está tão atraente quanto antes, logo logo ele irá procurar uma companhia mais interessante. Aí queridinha, seu tempo como senhora Potter já era. 

Sem esperar que a ruiva se recuperasse do choque daquelas palavras maldosas, Cho deu lhe as costas e saiu do banheiro. Por vários minutos, Gina ficou paralisada, sem ação, tremendo de raiva, louca para ir atrás daquela vaca chinesa e azará-la com alguma maldição. Respirou fundo várias vezes, lavou o rosto com água fria, retocou a maquiagem e saiu do banheiro. Assim que voltou ao salão, avistou Harry conversando com uma moça loira muito bonita e sentiu o estômago afundar. Percebeu Cho do outro lado do salão e ao encará-la a chinesa sorriu triunfante. 

Aproximou-se do marido com passos duros e sem nenhuma cerimônia, interrompeu a conversa.

- Será que podemos ir embora, Harry? - perguntou fitando a loira de esquela. - Eu não estou me sentindo muito bem.

- Claro, amor. - ele falou, a olhando preocupado, sem nem notar que a loira saíra defininho. 

Abriram caminho entre os vários convidados e logo entraram em uma das lareiras do átrio. Logo que saíram no Largo Grimaldo, Gina foi para o andar de cima, sem dizer uma palavra e foi para o quarto do filho. Ele não estava, claro. O tinham deixado na Toca no inicio da noite e só iriam buscá-lo no dia seguinte. Sem poder mais se segurar, sentou-se na poltrona que usava para amamentar Tiago e deixou que lágrimas lhe corressem pelo rosto.