we are rivals | AU GWYNRIEL

dezesseis | azriel

Não digo uma palavra desde que Gwyneth percebeu que eu havia guardado a garrafa. Não só percebeu, como lembrou que eu disse que era a minha favorita. Como pode se lembrar? Ela estava bêbada. Tudo o que eu queria fazer era enterrar minha cabeça no centro da Terra e sumir. Você corou, Azriel! Penso. Corei feito um maldito tomate porque tudo o que ela disse era a mais pura verdade. Havia guardado aquela garrafa com tamanho apreço, ao ponto de não emprestá-la a ninguém. Apenas a ela. 

As palavras de Gwyneth ecoam na minha cabeça. "Não mereceu me chamar pelo apelido". E aquilo pesou no meu estômago. Não fazia ideia do quão rude eu tinha sido naquele dia. Talvez as coisas seriam diferentes agora se eu tivesse ouvido toda a sua apresentação e não tivesse sido o maior idiota do mundo me afastando. 

"Então não me considera merecedor de chamá-la de Gwyn?". Eu perguntei. 

"Exatamente". Foi a resposta dela. 

Como posso ter nascido uma vez e ter vindo imbecil a esse ponto? 

Gwyneth está quieta há um tempo, parece ter desistido de me convencer a falar. Ouço sua respiração calma e um ronco leve, o que faz brotar um pequeno sorriso em meus lábios. Ergo a cabeça para olhá-la. Ela parece tão relaxada dormindo, longe de ser aquela mulher que me desafia e tira do sério o tempo inteiro. Aquela mulher que preenche qualquer ambiente com sua beleza e postura. Que rouba o ar dos meus pulmões cada vez que chega perto demais. Que me faz perder os sentidos. 

Meu olhar percorre o quarto e repousa na garrafa novamente, trazendo então lembranças daquele dia. 

Ela estava andando de um lado para o outro com uma caixinha na mão. Parecia ansiosa e eu me perguntava o motivo. Naquele dia ela usava um vestido verde de manga longa que ia até seus joelhos, suas bochechas atingiam um tom de avermelhado cada vez que olhava na minha direção e notava que eu já estava olhando, então ela virava o rosto rapidamente. Seus cabelos acobreados estavam em um penteado que os deixava metade solto e metade em rabo de cavalo, os fios caíam ondulados pelas costas. Estava radiante. Lembro de ter pensado. 

Depois de voltar a atenção ao meu computador, a ouço pigarrear. Observo a caixa que ela depositou em minha mesa e então ergo o olhar franzindo o cenho. Não imaginei que ela me daria um presente, sequer passou pela minha cabeça receber algo dela. Afinal, não havia recebido nada há anos. Gwyneth ficava cada vez mais corada com o peso do meu olhar sobre ela. Então enfim disse:

— Me disseram que o seu aniversário estava chegando, então eu gostaria de te dar essa garrafa. Com ela você não irá precisar se incomodar em ter várias garrafas de água descartáveis por aí. — Ela estampou um sorriso no rosto.

Busquei no meu cérebro a quantidade de garrafas de água descartáveis eu comprava por dia e o quão cheio delas era o meu lixeiro. 

— Eu não me incomodo. — respondi. E realmente não me incomodava, não ao ponto de eu fazer algo para mudar. O sorriso sumiu de seu rosto e eu me amaldiçoei por ter sido arrogante. 

— Bom, aceite o presente. — a voz dela estava firme: — Será rude de sua parte recusar. 

Recosto-me em minha cadeira e puxo a caixa para perto. Gwyneth me observa o  tempo inteiro, cada movimento, o que faz com que meu corpo enrijeça com tanta atenção vinda dela. Ao abrir a caixa, avalio o objeto e olho novamente para ela. Seu olhar comunicava que não havia acabado, então esperei que prosseguisse. Mas ela não disse mais nada ao se virar e caminhar até sua mesa. 

— Passar bem. — praticamente cuspiu as palavras. 

Fiquei admirando aquele presente o resto do dia. A ruiva não olhou em minha direção nenhuma vez durante o resto do dia e eu me senti o maior cretino de todos por não ter nem ao menos agradecido. Talvez fosse isso que ela estava esperando. Eu agradeceria, haveriam outras oportunidades, quem sabe no aniversário dela. Uma pena eu não saber que dia era.