Entendo que foi rude da minha parte sair do quarto sem uma palavra, mas eu precisei, não aguentaria mais um segundo dela me olhando daquela forma. Apesar de estar aliviado por ela ter ficado, não sei o que fazer. Não menti ao dizer que não dormiria bem sabendo que aquele imbecil poderia fazer algo com ela durante a noite.
Agora estou na cozinha, o frio do mármore da bancada em contato com a palma da minha mão. Respiro fundo. Uma, duas, trezes vezes. Vou em direção à sala para procurar o kit de emergência no rack. Cassian o deixou lá a última vez que veio aqui depois de ter se machucado em um exercício na academia.
— Tudo bem, querido? — sobressalto-me com a voz da minha mãe.
— Ahn? Ah, está sim, estava procurando o kit de emergência — balanço a bolsa no ar. — Já achei.
— Não esqueça de passar antisséptico para não infeccionar. — minha mãe não precisou especificar de que estava falando.
Respirei fundo e caminhei em direção ao quarto, mas me detive.
— Por que não perguntou se fui eu quem fez aquilo? — pergunto.
Minha mãe me observa com cautela e finalmente diz:
— Sei que não foi você. Conheço o filho que tenho, mesmo tendo passado pouquíssimo tempo com você na infância. Você sentiu a violência na pele, não faria isso com ninguém. E ainda mais ela. Além disso, quando eu perguntei o que houve, ela procurou abrigo em você, procurou seu olhar e uma pessoa que violentada não procuraria socorro no agressor.
Suas palavras foram como um soco no estômago. Lembranças da infância ameaçaram surgir e lágrimas ameaçaram cair, mas empurrei o sentimento o mais profundo que pude.
— Durma bem, mãe. — digo.
— Boa noite, querido. — virei-me para retornar ao quarto, mas minha mãe chamou minha atenção novamente: — e filho, cuide da sua garota.
O fôlego pareceu preso na garganta. Minha garota. Ela não era minha garota. Não havia sido em muito tempo e não era agora. Mas infelizmente a senhora Illyrian não sabia disso. Caminhei novamente pelo corredor com o peso de suas palavras ameaçando me esmagar.
Ao chegar no cômodo que Gwyneth estava, não a encontrei em lugar nenhum. Meu coração se apertou ao pensar que ela poderia ter ido embora, porém senti um vento frio tocar minha pele e vi a porta para a varanda do meu quarto aberta. Me direcionei até lá e encontrei a ruiva. Estava pensativa. Seus braços estavam em torno do corpo esguio, sua pele se arrepiava a cada lufada de vento. Seus fios vermelhos voavam desesperadamente, ela parecia ter desistido de evitar que a brisa noturna o bagunçasse.
Senti uma faísca no peito se acender. Ela realmente estava ali. A situação era a das mais infelizes, mas era ela ali. A luz da lua iluminava seu rosto, deixando aquelas sardas adoráveis mais visíveis, seus olhos azuis como o oceano admiravam a cidade a diante. Tudo pareceu estar em câmera lenta por um momento. Ela inspirava o ar da noite devagar. Era apenas ela, a lua e a cidade iluminada abaixo.
Se Feyre estivesse aqui pediria a ela que pintasse esse momento para mim. Pensei.
Então mais uma brisa e o cheiro dela chegou às minhas narinas. Cereja. É possível engarrafar o perfume de uma pessoa? Inspiro o máximo que posso aquele aroma único. Fecho os olhos e aprecio aquele instante.
— Azriel? — a voz de Gwyneth me traz de volta ao presente. Ela agora está bem na minha frente, tão perto, mas tão longe. — Alô? Por que está abraçando o kit de primeiros socorros assim?
Pigarreio e indico com a cabeça para que ela entre novamente no quarto. Tiro 10 segundos para me recuperar e ao entrar no quarto percebo Gwyneth hesitante e olhando para os lados.
— Pode sentar na cama. — digo.
Ela concorda e senta-se. Ajoelho em sua frente e pego todos os materiais que irei necessitar. Primeiro tiro o curativo já feito, avisando que doerá um pouco. A ruiva aperta os olhos e se encolhe. Limpo a extensão do machucado e Gwyneth aperta as mãos uma na outra. Diferente da outra vez, ela não se apoiou em mim e senti falta daquilo. Antes de passar um remédio a aviso que irá arder e para a minha surpresa recebi um "apenas ande logo com isso", sorrio com sua bravura. Por fim, um band-aid.
— Prefere o normal ou o rosinha? — brinco. Gwyneth revira os olhos e me empurra de leve. O toque envia uma onda eletrizante por todo meu corpo. — O rosa então.
— Estou surpresa que o seríssimo Azriel Illyrian usa um band-aid rosa. Muito fofo. — provoca — Bom, pelo menos algo na sua vida tem cor.
Sorrio novamente.
— Eu e Rhysand compramos para zoar Cassian. — respondo.
Gwyneth se afasta com uma expressão de descrença e então diz:
— Espere, Rhysand? Rhysand nosso chefe, Rhysand? Esse Rhysand? — pergunta tentando se levantar da cama, mas institivamente minhas mãos seguram suas coxas no lugar. Ambos prendemos a respiração e a ruiva me olha assustada.
— Desculpe. — digo soltando-a. — E sim, Rhysand nosso chefe. Somos muito amigos. — esclareço.
— Isso não é nem um pouco justo. — reclama baixinho que quase não escuto.
— Do que está falando?
— Disso. Você ser melhor amigo do chefe, isso quer dizer que ele vai sempre te dar os melhores trabalhos e nós, os demais arquitetos, apenas empregados, seremos desprezados. Tudo bem que você é um profissional do caralho — apontou para o closet — mas isso é injusto.
— Por favor, Gwyneth, Rhysand é bem mais profissional do que isso. E fala sério, só estou naquela empresa porque sou amigo dele e ele me contratou assim que a herdou. Já você, entrou lá por puro mérito e trabalho duro. Se tem alguém aqui que é um profissional do caralho é você. — explico.
A ruiva imediatamente cora e desvia o olhar. Incrivelmente adorável, penso.
— Onde aprendeu essa a ter essa boca suja, Gwyneth Berdara? — ergo a sobrancelha.
— Com meu colega de trabalho. — se aproxima mais um pouco. Ainda estou ajoelhado e estamos quase na mesma altura. Consigo sentir sua respiração contra minha pele e um arrepio sobe pela minha coluna. Não consigo evitar que meu olhar desça até sua boca. E como um teste feita pela Mãe, Gwyneth a entreabre.
O mundo para de girar. Tudo é silenciado. Ainda encarando aqueles lábios rosados e cheios sinto meus sentidos se perderem. Não consigo encontrar meu bom senso, meu autocontrole. Subo o olhar aos olhos dela e vejo que suas pupilam parecem um pouco dilatadas. Libero o fôlego pesadamente. Nego com a cabeça me repreendendo e a ruiva parece voltar ao presente também. Nos levantamos bruscamente e olhamos para qualquer lugar do quarto que não seja um para o outro.
— Bom... — Gwyneth quebra o silêncio. — Já que vou ficar, onde dormirei?
Então voltamos nossos olhares um ao outro, o desviamos para a cama e nos encaramos de novo com as sobrancelhas erguidas...
✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎✎
Olá, leitores!
MAIS UM POV DO AZRIEL, FOI AQUI QUE PEDIRAM?
A mãe do Azriel é um anjo não é mesmo? Eu a amo.
Cada vez mais interações desses dois gostosos, amaram?
O que acharam do capítulo de hoje?
Não esqueçam de comentar e votar!
E também chequem a nova au gwynriel "irreplaceable" aqui no wattpad.
Com carinho, Autora GW.
VOCÊ ESTÁ LENDO
we are rivals | AU GWYNRIEL
FanfictionAquele em que Gwyneth é funcionária de uma firma de arquitetura e odeia seu colega de trabalho. Eles são como ying e yang, totalmente opostos, mas uma oportunidade irrecusável surge e ambos precisam tocar um projeto juntos. Ideias vêm e vão. Gwyn e...