Capítulo 4

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POV: Catarina

  Não me importa o que ela diz, eu não quero brigar com alguém que ao menos sabe o motivo que me deixa tão infeliz. Me senti fraca por não controlar as lágrimas diante da cena que vi, de todas as cenas do mundo, aquela era a única que eu nunca estaria preparada para admitir.

  Mimosa me acompanhou até o quarto e rapidamente separou uma roupa seca para que eu pudesse me vestir, só que o choro se tornou tão incontrolável que até mesmo isso se tornou impossível pra mim.

  — O que aconteceu? — seu desespero é quase tanto quanto o meu, acho que ninguém nunca teve um vislumbre tão vulnerável de um eu.

  — Ah, Mimosa... — não havia palavras, apenas lágrimas, soluços e memórias, as felizes, as tristes e as de agora, que são pura derrota.

  Mimosa se aproximou o suficiente para que seus braços me envolvessem. E por um momento, tudo em mim se tornou consciente, presente, intenso e mesmo que pouco contente, ela está presente e isso é quase suficiente.

  — Você não pode ficar com essa roupa molhada, por favor, se acalme.

  — Por que todos acham que eu estou nervosa? — Com a dor, veio também a raiva, por mais que eu não quisesse expressá-la.

  — Não estou dizendo que está nervosa, apenas descompensada, pode não fazer sentido, mas durante todos os anos que eu te conheço, Catarina, essa é uma das primeiras vezes que não te vejo rugindo.

  — Até mesmo você, Mimosa? — Me afasto do abraço, pego as roupas e vou para o banheiro, onde me troco.

  Não faço questão de ser rápida, só saio quando Mimosa bate na porta preocupada, talvez com medo de me encontrar afogada, é só o que realmente me falta.

  — Por favor, não fique brava, só não estou habituada — me estendeu a mão e quando vi que não teria outra opção, aceitei. Caminhamos até minha cama, nos sentamos e foi mais tempo do que eu suportei.

  — Eu vi o Petruchio beijando outra.

...

POV: Petruchio

  Perdi a noção de quanto tempo fiquei sentado de frente para a janela sentindo o vento gelado que entra no quarto, abraçado ao travesseiro compartilhado, do qual proíbo Neca de trocar a fronha que Catarina tinha usado. Seu cheiro ainda é notável.

  Fecho os olhos ainda preso aos pensamentos e aos desejos que não foram realizados. Eu não faço ideia do que fazer, como encontrá-la, como manter Marcela afastada, como resolver essa bolha da qual não faz parte da história que imaginei ter depois de lhe conhecer.

  É inacreditável o poder que as lembranças podem ter, o quanto somos afetados pelos dias que nunca voltarão a acontecer, as idealizações e os medos que me fizeram crescer não são o suficiente para o que eu preciso e quero conhecer.

  E eu só consigo me perguntar: por que?

  Por que as coisas não podem ser como eu quero, como estavam ou como eu imaginei que poderiam ser?

  Por que nossas escolhas afetam tanto o que a gente mais gostaria de ter? Por que nos deixamos levar quando tudo o que mais precisamos é nos afastar — sim, isso tem toda e completa relação com a aproximação de Marcela e a cena com a Catarina.

  Eu sei que ela é a mulher da minha vida. Mas o que adianta se ela não acredita? Ou prefere não acreditar. Será que as palavras que eu digo não refletem verdadeiramente o que eu sinto?

Além da Verdade e da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora