Capítulo 18

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POV: Petruchio

  Encontramos a mesa posta e farta. Bianca está sentada, acompanhada por Mimosa. As duas cochichavam, mas pararam assim que passamos pela porta. Não é preciso ser mágico para imaginar o contexto falado, claro. Se me arrependo de algo, certamente foi não ter lhe socado, imagine a audácia dessa salsicha em se atrever a cobrar alguma explicação, ainda mais quando se acha cheio da razão. Arri égua, eu devia ter lhe dado uma lição.

  — Que isso? — Bianca se pronunciou, não sei se por interesse ou para disfarçar o rubor causado pela interrupção.

  — Broa de milho que a Neca fez pra mim — Catarina respondeu animada, desmanchando a pequena trouxa que fiz para trazer o pedido, espero que tenha sobrevivido a "caminhada" pela estrada esburacada.

  — Neca? — Questionou Mimosa.

  — Sim, a senhora que trabalha na fazenda comigo. Tenho Neca como da família, cuida de mim desde que eu era criancinha.

  — Ah, então você está comendo a broa que a Neca fez? — Pronunciou o nome com certo desdém.

  — Não precisa ficar com ciúmes, Mimosa, eu amo a comida das duas, igualmente! — Antes de se sentar, já estava com uma broa na boca. Se me contassem, nunca que eu iria acreditar. A vida tende mesmo a se transformar. Me sento ao seu lado, completamente impressionado.

  — É mesmo? Pois ontem não comeu nada do que eu fiz.

  — É porque ontem eu não queria estar aqui — deu de ombros, o que me fez sorrir.

  — Não pode ficar sem comer, favinho — intervir, mas não sem notar o prazer que parece sentir ao devorar a primeira broa, como se a mesma pudesse fugir.

  — Ora, não vai nos oferecer, Catarina? — Insistiu a menina.

  — Não, são minhas!!

  Tentei não rir, mas falhei quando vi que segurou a trouxa com mais força. Aproveitando a visita, me servi uma xícara, o cheiro de café fresco estava atiçando minhas lombrigas e como Catarina não pretendia dividir as broas, me contentei em assisti-la.

...

POV: Catarina

  Neca tem mãos de fada, assim como Mimosa. Não me sinto culpada por não dividir minhas broas, poxa, são minhas e estão tão gostosas! As melhores broas que eu já comi na vida!!! Estava mesmo com vontade, fiquei feliz por Petruchio ter trago pra mim, por Neca ter se lembrado e pelo gosto incomparável, se pudesse, comeria tudo de uma única vez...

  — Eu só queria experimentar — resmungou ainda sem conseguir desviar, sinto os seus olhos me observando e tento não me importar.

  — Não pensei que fosse querer, mas da próxima vez, eu trago pr'ocê.

  — É que ela está comendo com tanta vontade... não consigo me conter — sorriu, mas finalmente parou de me aborrecer.

  — Vai trazer só pra mim — resmunguei para que só ele conseguisse me ouvir.

  Petruchio sorriu e depositou um beijo em mim, seus lábios estão mornos e imagino que seja pelo café, senti o cheiro em mim, mas não me importei, gosto de tê-lo próximo, de sentir o seu cheiro, o calor do seu corpo, mesmo que minha bochecha esteja provavelmente colando... exagero, admito, Petruchio raramente adoça o café, sei disso, pois passamos alguns cafés da manhã juntos, é claro que o observei.

Além da Verdade e da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora