Capítulo 14

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POV: Petruchio

  Só eu sei o quanto foi doloroso concordar com o que ele disse e ver a dor surgindo em seus olhos, agora sem brilho, sem ânimo. Ela havia desmaiado, o que eu poderia fazer, deixar que chacoalhasse durante o caminho inteiro?

  Seus olhos não me encaram e não soube distinguir se sentia raiva ou medo, talvez um misto dos dois, misturado com desalento. Eu vi o esforço que fazia para não expressar seus sentimentos, ela só esquece que eu a conheço.

  Num impulso, a abracei e prometi que tudo vai ficar bem. Abalada desse jeito, seu corpo se tornou ainda menor, mais frágil. Tentei manter meus olhos fechados e focar no cheiro de seus cabelos, agora iluminados pelo sol intenso.

  A acompanhei até a porta do carro, Dr. Batista já estava acomodado, esperando impacientemente por ela ao seu lado. Catarina se sentou o mais longe, evitando ao máximo tocá-lo. Eu entendo seu desconforto e isso não ajuda em nada o meu descompasso. Fechei a porta e sussurrei baixo:

  — Eu vou estar ao seu lado!

  O carro foi ligado e mais rápido do que eu havia imaginado, nossos olhos não estavam mais conectados.

  Me assustei com o som da carroça ao meu lado, Calixto estava mais que preparado e me encara com o rosto levemente irritado. Sei que de cavalo seria muito mais rápido, mas o olhar que me dirigiu, me garantiu que não seguiria sozinho sem começar uma briga, então, subi e permiti que guiasse a nossa ida.

  — Eu avisei pro senhor que isso aconteceria — resmungou.

  — E você achou o quê? Que eu já num sabia? Mas o que que eu podia fazer? Sumir com ela da cidade?

  — Não ter começado...

  — Com o que? Com a alegria que ela trouxe pra minha vida? Desistir assim? Como se fosse fácil viver aqui...

  — Seu Petruchio, ela sempre foi demais pra ti, eu sempre disse e o senhor nunca que quis me ouvir. Agora o pai dela é dono da fazenda e pode despejar todo mundo, já parou para pensar no que vai fazer longe daqui?

  — Nós não vamos nos separar porque ele decidiu me ameaçar. Nós vamos nos casar.

  — E o senhor acha que ele vai aceitar?

  — Catarina está grávida, Calixto, ele não tem como nos afastar.

  — Arri égua, ele vai querer te matar!!!

...

POV: Catarina

  — Eu ainda não acredito nisso, Catarina — sua voz está baixa e me transmite agonia — Fugir da festa de noivado, sumir por uma semana e ainda...

  — Eu não quero conversar, eu não quero te ouvir falar — minha cabeça parece prestes a estourar — Se sou motivo de tanta vergonha, poderia ter me deixado lá.

  — Eu não vou levar a fama de pai que nem sabe onde a filha foi parar. Eu estou farto das vergonhas que você me faz passar.

  — Eu já disse que pode me deserdar. Não vou me importar. Você deixou de ser o meu pai, quando começou a me ameaçar.

  — Eu só quero o melhor para a sua vida.

  — Não, nós já tivemos essa conversa e tudo o que você sempre quis foi salvar a sua carreira política.

  — Eu não quero brigar. Catarina, você não sabe a agonia que me fez passar, o quanto eu desejei te encontrar, o quanto minha gastrite me fez pensar, até do banco eu tive que me afastar, sua irmã não parava de chorar...

Além da Verdade e da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora