POV: Petruchio
— Ocê tá braba? — Não pude evitar, é muito melhor perguntar do que tentar adivinhar. Catarina é muito expressiva, sei pelo tom de sua voz o quanto a notícia a pegou desprevenida, não que tivéssemos imaginado que tudo seria às mil maravilhas, apenas não esperávamos a participação de Marcela e seus planos em desvendar o "desaparecimento" da noiva no dia mais especial para a sua família.
Tudo bem que "especial" é um termo um tanto quanto inapropriado para se descrever a arapuca que seu pai havia armado, os pedidos que na verdade foram exigidos e o sacrifício que estaria disposta, o preço muito mais alto do que deve-se considerar mínimo. Ainda me pego pensando como tudo teria acontecido, e se eu não tivesse descoberto? Ela se casaria, fugiria e eu nunca mais a veria? Teríamos um filho do qual eu ao menos sonharia?
— Não, eu não estou brava, nem atirei nada — brincou e me arrancou uma risada.
Nunca vou conseguir descrever a leveza que sinto ao seu lado, a força que me transmitem os seus olhos, o quanto sou imensamente grato por ter lhe provocado, por ter me aproximado e não desistido apesar de todos os vasos, gritos e obstáculos. Ela está muito além do imaginado. Gosto de pensar que sou um dos homens, o mais felizardo — apenas se ela continuar ao meu lado, sorrindo e me olhando com seus expressivos olhos (talvez eles brilhem como os dos gatos).
— Que bom — suspirei e alcancei sua mão. Nossos dedos se tocaram e foi inevitável o prazer quase anestesiado, a sensação de calor, o simples toque, por menor que seja o espaço, o entrelaço.
— Sabe, Petruchio, eu deveria ter aceitado fugir com você, me casar escondido... não sei, faria tudo para não ter que passar por isso. Não sabemos o que eles podem fazer.
— Eu num vou deixar ninguém me afastar d'ocê, favinho, pensei que já soubesse disso — acariciei o dorso da sua mão, a trazendo até meus lábios, onde depositei o que costumo chamar de selinho. Nossos olhares se encontraram e esse momento se tornou infinito, cheio de promessas e desejos que serão cumpridos.
— Você deve estar com fome — neguei com a cabeça, mas como se esperasse a deixa (pronto para me desmentir), ouvimos o barulho que ela mesma classificou como "rugido" e adivinhem, não tive como conter ou manter o rosto sem um sorriso após ouvir o seu riso. Meu estômago roncou, mas não sei se quero deixá-la, muito menos enfrentar a tortura que será a refeição em sua casa. — Vamos, já passou da hora.
Antes de se levantar, depositou um beijo rápido em minha bochecha, não quis contrariá-la. A acompanhei até a porta. Que não haja briga com a nossa chegada.
...
POV: Catarina
Não sei descrever a sensação que me toma, tudo parece distante, distante e real, tão real que me questiono se todos aqueles dias na fazenda não passaram de um sonho. Apenas sonhos.
Por mais que eu tente evitar a todo custo me encontrar com "aquele" que não deve ser nomeado, não posso me trancar no quarto, mas também não posso fingir que não me sinto desconfortável. Olhar para ele vai ser mais difícil do que o planejado, não sei como disfarçar o incômodo e o quanto tem me magoado. A conversa que iniciamos, bom, não sei como vai se dar por encerrado. O que mais tem a ser conversado?
Descemos de braços dados, já nos esperavam. Papai levantou, mas não se aproximou tanto quanto o planejado, Bianca tomou a frente e antes que pudesse falar, a calei com um abraço. Sinto os olhares cravados, talvez se pergunte o que fez de errado.
— Conversamos mais tarde, está bem? — Sussurrei e senti quando confirmou, ainda em meus braços. A abracei mais forte quando tentou se afastar, sei que as lágrimas turvam seu olhar.
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Além da Verdade e da Paixão
FanficSegunda Temporada de Entre o Amor e a Desilusão. Existem várias verdades e várias versões? Ou uma única verdade com várias versões? Acreditamos mesmo em tudo o que nos dizem ou apenas nos iludimos com o que nos convém? Tem como algo que realmente...