Capítulo 3

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POV: Petruchio

  — Catarina? Ocê tá bem? — empurrei Marcela e corri de encontro à mulher que me encara sem saber o que dizer, levemente paralisada e completamente pálida. E eu não sei o que fazer.

  Encaro seus movimentos e vejo sua mão se mover, a pousa suavemente sobre a barriga e fecha os olhos como se não estivesse acreditando no que seus olhos são capazes de ver. Me aproximo mais dela, deixando uma de minhas mãos sobre a sua, sinto sua respiração acelerar em conjunto com a minha. Ainda desacreditado com o fato dela estar aqui, seguro suas costas, com medo que ela possa cair. Ainda de olhos fechados, vejo quando suas lágrimas começam a cair. Isso fez algo quebrar dentro de mim, porque sei que não deveria estar aqui e que a cena poderia muito bem ser evitada se eu não me deixasse ser puxado até aqui.

  Era para eu ter esperado ela sair e não que ela me encontrasse aqui, era para eu pedir desculpas e dizer o quanto ela é importante pra mim e estarmos felizes, na fazenda ou em qualquer outro lugar que ela estivesse disposta a ir.

  Arri égua, mas como que eu ia saber que ela ia aparecer, ou pior ainda, como que eu ia imaginar que Marcela me traria até aqui pra me beijar e ela fosse assistir? Arri égua, mas tá pra nascer alguém mais azarado que eu nessa vida.

  — Ocê vai desmaiar? — perguntei baixo, para que só ela fosse capaz de escutar.

  Nossos olhos se encontraram e o que vi dentro deles não me deixou mais aliviado, muito pelo contrário.

  Eu já havia presenciado raiva e até mesmo ódio em seus olhos, mas nada como isso, nada tão frio e dolorido, nada como se um buraco estivesse engolindo todo o brilho, mesmo que as lágrimas ainda escorressem como um rio.

  — Você a trouxe até aqui? — perguntou tão baixo que eu mesmo quase não consegui ouvir — O lugar do qual — não conseguiu concluir.

  — Ocê senta aqui — a segurei tão firme, sem dar chance para que corresse de mim, nos encaminhei até a beira da fonte, onde repeti — Por favor, Catarina, senta aqui, respira e tenta me ouvir.

  Me sentei ao seu lado e ainda muito assustado, levei minha mão até a fonte, a molhando e a trazendo de encontro a sua testa e depois até sua nuca, quase feliz por ela não ter se afastado de mim. Mas evita encarar os meus olhos e sei que não está nada feliz com o que viu aqui.

  Quase me esqueci que Marcela ainda está aqui, nos observando e provavelmente rindo do que causou, mas sua voz não me deixou concluir a fantasia de que éramos só eu e Catarina, aqui, como sempre foi e como eu sempre quis.

  — Petruchio, nos vemos por ai — saiu, mas não sem sorrir e piscar um olho pra mim.

  Catarina respirou fundo e assim, reuni coragem para dizer o que realmente aconteceu aqui:

  — Eu fui até a sua casa — esperei que falasse alguma coisa, mas como não se pronunciou, continuei de onde estava — Mimosa me disse que estaria na revista e eu fui te esperar, mas ai ela apareceu...

  — Então você desistiu e resolveu trazê-la até aqui?

  — Não — neguei, tomando sua mão pra mim — Eu não trouxe ninguém aqui, ela que chegou onde eu estava e foi me trazendo, me puxando e quando eu vi, já tava aqui.

  — E como ela te trouxe, Petruchio, no ombro? — ironizou e quanto a isso, não há o que contrapor — Eu não acredito que pense que sou tão idiota a ponto de acreditar nisso.

  — Não, não, por favor, favinho, ocê tem que acreditar, eu conheci a Marcela há muito tempo atrás.

  — Não me fale o nome dela — soltou minha mão, antes de me encarar.

Além da Verdade e da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora