Cap 2 - Legitimo produto americano

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Magnus Bane ergueu a vista quando seu editor apoiou o quadril sobre a mesa, olhos fixos na pele exposta pelo "V" da camisa de Magnus.

- Trabalhando até tarde de novo? -murmurou.

-Ola, Dick. -Já não devia estar em casa com sua esposa e os dois filhotes, acrescentou mentalmente.

-O que está fazendo?

-Escrevendo um artigo para o Tony

-Sabe, há outras maneiras de me impressionar.

Sim, já imaginava. -Você leu o meu e-mail, Dick? Fui à delegacia esta tarde e conversei com Jose e Ricky Eles juram que um traficante de armas se mudou para esta cidade. Encontraram duas Magnum modificadas nas mãos de traficantes de drogas.

Dick estendeu a mão para lhe dar um tapinha no ombro, acariciando-o antes de retirar a mão.

-Continue a trabalhar em coisas pequenas. Deixe os alfas cobrirem os crimes violentos. Não queremos que aconteça alguma coisa com esse seu rostinho tão bonito.

Ele sorriu, semicerrando os olhos enquanto o seu olhar se demorava nos lábios do ômega. Essa rotina de encaradas já era uma chatice três anos atrás, pensou Magnus, desde que começara a trabalhar para ele.

Um saco de papel. O que precisava era de um saco de papel para enfiar a cabeça toda vez que falasse com ele. Talvez com a fotografia da sra. Dick colada na frente.

-Quer uma carona até sua casa? - ele perguntou.

Só se estivesse chovendo caco de vidro, palhaço.

- Não, obrigado - Magnus se virou para a tela do computador com a esperança de ele entender a indireta. Afinal, ele se afastou, provavelmente em direção ao bar do outro lado da rua, onde a maior parte dos repórteres se reunia para um happy hour antes de ir para casa. Caldwell, Nova York, não era exatamente um mar de oportunidades para um jornalista, mas os "Alfas" de Dick gostavam de manter as aparências de uma vida social muito agitada. Curtiam se reunir no Charlie's para sonhar com o dia em que trabalhariam para jornais maiores e mais importantes. A maioria era como Dick, homens de meia-idade, comuns, competentes, mas nada de extraordinário. Caldwell era grande o suficiente e bem próxima da cidade de Nova York para ter sua cota de crimes violentos, drogas e prostituição, que os mantinha ocupados. Mas o Correio de Caldwell não era o Times, e nenhum deles jamais ganharia um Pulitzer.

Era deprimente.

Bem, olhe-se no espelho, pensou Bane. Era apenas um repórter local. Sequer chegara a trabalhar para um jornal de distribuição nacional. Então, quando fosse cinquentão, a menos que as coisas mudassem muito, precisaria estar trabalhando em um jornalzinho independente, preparando os anúncios de classificados para poder olhar com saudade para os seus dias de glória no Correio de Caldwell.

Estendeu a mão para alcançar o saquinho de M&M's. O maldito estava vazio, de novo talvez devesse ir para casa e comprar comida chinesa no caminho.

Enquanto se encaminhava para a saída da redação, que era um espaço aberto dividido em baias por frágeis divisórias cinzentas, deparou-se com o estoque de bolinhos recheados de seu amigo Tony.

Tony comia o tempo todo, para ele não existia café da manhã, almoço e jantar, consumir era como respirar, se estivesse acordado, tinha de levar algo à boca, e para se manter abastecido, uma verdadeira orgia de guloseimas altamente calóricas enchia sua segunda gaveta.

Abriu a embalagem do bolinho e mal podia acreditar que estava cravando os dentes naquela delícia artificial, enquanto apagava as luzes e descia a escada que dava para a rua Trade. Lá fora, o calor de julho era uma barreira física entre ele e seu apartamento. Doze quarteirões inteiros de calor úmido. Felizmente, o restaurante chinês ficava a meio caminho de sua casa e poderia refrescar-se um pouco no forte ar condicionado do estabelecimento. Com sorte, estariam muito ocupados naquela noite, e ele teria oportunidade de aguardar um pouco aproveitando a trégua refrescante.

Anjo Sombrio (MALEC)Onde histórias criam vida. Descubra agora