Cap 4 - Traseiro de um elefante

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Magnus tomou um banho de chuveiro por longos quarenta e cinco minutos, gastou meio vidro de sabonete líquido, e quase derreteu o papel de parede barato do banheiro por ter escolhido deixar a água tão quente. Secou-se, vestiu o roupão de banho e evitou olhar novamente para seu reflexo no espelho. Seu lábio estava com um aspecto horrível.

Saiu do banheiro. O restante de seu pequeno apartamento consistia em um único cômodo. O ar condicionado quebrara há duas semanas e o ambiente ali estava quase tão sufocante quanto o banheiro. Olhou para as duas janelas e a porta corrediça que dava para um pátio traseiro sem atrativos. Desejou abri-las todas, mas, em vez disso, conferiu se estavam bem trancadas.

Embora seus nervos estivessem em frangalhos, ao menos seu corpo se recuperava rapidamente. Sua fome retornara com força redobrada, numa espécie de protesto pelo jantar pulado, e ele se dirigiu à cozinha do tipo americana. As sobras de frango de quatro noites atrás até pareciam apetitosas, mas, quando abriu o papel alumínio, o que sentiu foi o odor de meias suadas. Jogou no lixo todo o pacote e colocou um recipiente de comida congelada no micro-ondas. Comeu, de pé mesmo, o macarrão com queijo, sustentando a pequena bandeja de plástico na mão com um pegador de panelas. Não foi suficiente. Sequer deu para encher um buraquinho de dente, preparou outra porção.

A ideia de engordar dez quilos em uma só noite era tremendamente atraente, ora, se ele não podia mudar seu rosto, mas era capaz de apostar que o homem das cavernas misógino que o atacara preferia que suas vítimas não tivessem o traseiro de um elefante.

Piscou, tentando tirar da cabeça a imagem do rosto dele, ainda podia sentir aquelas mãos, ásperas e brutas machucando seus mamilos que eram sensíveis de mais para um ômega masculino.

Precisava prestar queixa. Tinha de ir a uma delegacia. Só que agora não queria sair do apartamento. Pelo menos não até de manhã. Dirigiu-se até o futon que usava tanto como sofá quanto como cama e aninhou-se em posição fetal. Seu estômago tinha dificuldades para digerir o macarrão com queijo e foi tomado por ondas de náusea seguidas de calafrios que percorriam todo seu corpo.

Um suave miado o fez levantar a cabeça. Olá, presidente miau- disse, estalando os dedos apaticamente. O pobre animal havia fugido apavorado quando ele entrará como um furacão pela porta arrancando as roupas e atirando-as por toda a sala.

Miando outra vez, o gato se aproximou. Seus grandes olhos verdes pareciam preocupados enquanto saltava com elegância para seu colo. - Desculpe-me por todo esse drama murmurou ele, fazendo-lhe carinho.

O animalzinho esfregou a cabeça contra o seu ombro, ronronando. Seu corpo era morno e muito leve. Não saberia dizer o tempo que permaneceu ali sentada acariciando seu pelo fino e macio, mas, quando o telefone tocou, sobressaltou-se.

Enquanto tentava alcançar o aparelho, ajeitou-se para continuar acariciando o animal de estimação. Anos de convivência haviam aprimorado sua coordenação gato/telefone à beira da perfeição.

- Olá? - disse, pensando que passava de meia-noite, o que descartava telemarketing e sugeria um assunto de trabalho ou algum psicopata ofegante.

Olá, senhor Bane Calce suas sapatilhas de dança. O carro de um sujeito saltou pelos ares ao lado do Screamer's. Ele estava dentro.

Magnus fechou os olhos com vontade de chorar. Jose de la Cruz era um dos detetives da polícia da cidade e, praticamente, um amigo. Mas, pensando bem, o mesmo podia dizer da maioria dos homens e mulheres de uniforme azul. Por passar tanto tempo na delegacia, acabara por conhece-los todos bastante bem, embora Jose fosse um de seus favoritos.

- Aló, está aí? -Conte a ele. Conte a ele o que aconteceu. E só abrir a boca e falar. A vergonha e o horror do ocorrido estrangulavam-lhe as cordas vocais.

Anjo Sombrio (MALEC)Onde histórias criam vida. Descubra agora