Cap 54 - Presente ou o sacrifício?

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CAPÍTULO 54

Asmodeus olhou à sua volta. A tranquila neblina do Fade havia se dissolvido, revelando um pátio de mámore branco. Na parte central, a água cristalina de uma fonte jorrava numa dança faiscante, captando a luz difusa para refleti-la de forma mais intensa. Os pássaros cantavam melodiosamente, como se lhe dessem boas-vindas e anunciassem sua chegada. Então, esse lugar realmente existe, pensou.

- Bom dia, Asmodeus, filho de Marklon. 

Ele se deixou cair de joelhos sem se virar e baixou a cabeça.

 -Virgem Escriba. Muito me honra com essa audiência. 

Ela sorriu. Apesar de ter a cabeça baixa, quando ela se colocou diante dele pôde ver a barra de seu traje negro. A luminosidade que se fitrava por baixo da seda era tão intensa como a luz do sol.

-Asmodeus, Como eu poderia recusar? é a primeira que solicitou em toda sua vida - ele sentiu que algo roçava seu ombro, e que o cabelo da nuca formigava. – Levante-se. Quero ver seu rosto.

Ele ficou de pé, muito mais alto do que aquela figura diminuta. Mantinha as mãos entrelaçadas diante de seu corpo.

-Então, quer dizer que o Fade não lhe agrada, princepst? - perguntou ela. -E deseja que eu o mande de volta? 

-Manifesto humildemente tal pedido, se o mesmo não constituir afronta. Esperei o período requerido. Gostaria de ver meu filho, mesmo que só uma vez. Se não constituir afronta.

A Virgem Escriba sorriu de novo.

-Devo dizer que a maneira como se apresentou a mim foi melhor que a de seu rei. Seu modo de falar não condiz com a de um guerreiro.

Houve um silêncio.

Naquele momento, pensou em seus irmãos. Como sentia falta de Alexander. Sentia falta de todos. Mas quem desejava ver era Magnus.

- Ele se casou. -disse a Virgem Escriba bruscamente, -seu filho se casou com um macho de valor.

Ele fechou os olhos, sabendo que não devia perguntar. Entretanto,morria de vontade de saber. Esperava que Magnus fosse feliz com o parceiro que escolhera, fosse quem fosse.

A Virgem Escriba parecia se deleitar com o seu silêncio. 

-Olhe para você, nenhuma pergunta. Que autocontrole! E já que foi extremamente educado, direi o que deseja saber. Casou-se com Alexander, que assumiu o trono. Seu filho é rainha.

Asmodeus deixou a cabeça pender, sem querer revelar suas emoções, desejando que ela não visse as suas lágrimas. Não queria que pensasse que era um fraco.

- Oh, princeps – disse a Virgem Escriba com brandura – há tanta alegria e tristeza em seu peito... Diga-me, a companhia de seus filhos no Fade não é suficiente para contentar seu coração?

-Tenho a sensação de que o abandonei.

- Ele já não está só.

- Isso é bom.

Houve uma pausa.

-E ainda deseja vê-lo?

Ele assentiu. A Virgem Escriba se afastou, dirigindo-se para o bando de aves que trilhavam felizes sobre uma árvore branca coberta de flores brancas.

-O que você deseja, princeps? Pensa em lhe fazer uma visita? Algo rápido? Em seus sonhos?

- Se não constituir afronta – mantinha a linguagem formal porque ela merecia tal deferência. E porque esperava que isso convencesse. A negra veste se moveu, e entre eles surgiu uma luminosa mão. Uma das aves, um tordo, pousou em um de seus dedos. 

-Foi assassinado de forma desonrosa – disse, acariciando o minúsculo peito do pássaro , e após ter servido à raça por séculos. Foi um princeps honrado e um extraordinário guerreiro.

-Causa-me grande alegria saber que meus atos lhe agradam. 

-Verdadeiramente - ela assobiou para a ave. A ave assobiou de volta, como uma resposta –O que diria, princeps, se eu lhe oferecesse mais do que solicitou?

O coração de Asmodeus começou a bater com força.

- Diria que sim.

- Sem saber qual é o presente ou o sacrifício?

-Confio em você.

- E por que não poderia ser rei? - perguntou ela ironicamente, enquanto soltava o pássaro e voltava a encará-lo. - Ofereço-lhe de novo a vida, um encontro com seu filho e a oportunidade de lutar uma vez mais.

-Virgem Escriba...– deixou-se cair de joelhos novamente – Aceito, mesmo sabendo que não mereço tamanhos favores.

- Não o recriminarei por essa resposta. Mas terá de se sacrificar. Não terá uma lembrança consciente dele, porque não será como é agora. E exijo uma amostra de sua habilidade.

Ele não compreendeu suas últimas palavras, mas não tinha intenção de perguntar.

- Aceito.

-Tlem certeza? Não precisa de certo tempo para refletir sobre isso?

-Obrigado, Virgem Escriba. Mas minha decisão está tomada.

- Então, que assim seja. Aproximou-se dele. As fantasmagóricas mãos surgiram das negras pregas de sua túnica ao mesmo tempo em que o véu que cobria seu rosto se ergueu sozinho. A luz era tão ofuscante que ele não conseguiu divisar-lhe os traços. equanto ela segurava-o pelo queixo e a nuca, ele estremeceu ao Sentir sua tremenda forca. Seria capaz de esmaga-lo em um segundo.

- Dou a você a vida outra vez, Asmodeus, filho de Marklon. Que encontre o que procura nessa encarnação. Pressionou seus lábios contra os dele e Asmodeus sentiu o mesmo choque que tivera quando morreu. Todas as suas moléculas explodindo no ar, a fragmentação de seu corpo. A libertação e ascensão de sua alma.


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Anjo Sombrio (MALEC)Onde histórias criam vida. Descubra agora