Capítulo 11

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Esta é uma obra de ficção, feita por fã e sem qualquer relação com a realidade.

Quando acordou no domingo, exatamente às sete da manhã, o primeiro pensamento que veio à mente de Soraya foi que ela e Simone estavam ambas na mesma cidade.

"Tão perto, mas tão longe". Piegas, eu sei, mas foi precisamente essa a sua conclusão.

Conclusão pensada, mas não verbalizada, embora ela tenha querido dizê-la em voz alta e clara.

Mas não pôde, afinal seu marido estava sentado na outra ponta da mesa.

Tão distante que os anos de casamento pareciam ter se reduzido a nada em comparação com meia hora da companhia de Simone.

No dia seguinte à despedida, Soraya tinha acordado com um gosto amargo na boca. Era a vergonha pela traição, pelo desejo de um outro que não seu marido. Era cristão devota, tinha princípios e, no entanto, estava querendo consumar algo perigoso com Simone.

Já à noite, quando voltou para o Mato Grosso do Sul, Soraya esperava reencontrar seu marido e, dado o longo tempo de separação por conta da campanha, perceber que o que ela e Simone estavam fazendo era uma sandice causada pela carência.

Porém, seu marido não estava apático, seu estado mais que natural; ele estava irritado, e isso Soraya notou quando ele se desviou de um beijo seu.

— Que papelão, Soraya — ele dissera, sem nem ao menos cumprimentá-la devidamente. — Você não tem vergonha, não?

— Do que está falando? — O choque da recepção abrupta foi tanto que Soraya imaginou que, de algum modo inexplicável, ele sabia a respeito de Simone.

Todavia, ele falava do último confronto entre os candidatos. Disse estar com vergonha do modo como ela tinha falado, que não sabia ser incisiva, que tinha virado piada na internet.

— Desde o início era óbvio que eu não tinha chances de ganhar! — disse de seu modo duro, não se deixando abater, embora as palavras do marido a tivessem machucado. — Toda a campanha foi pensada para me dar projeção nacional e depois, aí sim, pensar em projetos futuros. E o que para você é piada, para mim é um trabalho bem pensado, e bem executado!, de toda a minha equipe.

— Você ainda tem orgulho de...

— Tenho! — o interrompeu, aumentando um pouco o tom de voz. — Porque senão eu, quem teria? Você?

E adentrou sua residência, indo para o quarto de hóspedes.

Foi inevitável, sozinha, não pensar em Simone que, embora fosse sua opositora, a apoiava mais que seu marido.

E nela pensou até conseguir dormir. E tornou a pensar no exato momento em que acordou.

Agora, no café da manhã, engolia sua vontade de verbalizar o pensamento junto com grandes goles de café amargo.

Foi com irritação que, mais tarde, por volta das dez horas, se viu obrigada a ser acompanhada por ele, além dos assessores, até a sua zona eleitoral.

Forçou o sorriso, fez o que tinha que fazer, e quando pensou que poderia só voltar para casa e respirar um pouco, alguém deliberadamente a vaiou.

— Traidora do Mato Grosso do Sul! — gritou uma mulher quando Soraya estava deixando o colégio.

Tinha sido eleita graças ao apoio de Jair, mas, indo agora contra ele, não era bem vista pela população que a elegera.

Ao chegar em casa, foi logo para o quarto de hóspedes, querendo se isolar até quando pudesse.

Neste exato momento, Simone registrava seu voto no colégio em que votava.

Dispensada a imprensa, Simone e Fairte, sua mãe, entraram no carro com um sorriso no rosto.

— Está quase acabando, mãe.

— Sabe, Simone, estou orgulhosa de você. — Simone ficou emocionada ao receber o abraço carinhoso. Mas gargalhou quando sua mãe acrescentou: — De você e da sua mulher.

— Também estou orgulhosa de nós duas. Fizemos um bom trabalho. E ela foi tão esperta, mãe! A estratégia dela foi perfeita. Queria eu que a minha equipe tivesse pensado em algo do gênero para mim.

— E falou isso para ela?

— Ela sabe — garantiu com um sorriso confiante no rosto.

— Mas amor exige manutenção, Simone.

O automóvel foi parado bruscamente. Após respirar e ligar novamente o carro, Simone a alertou:

— Calma, Fairte. Não vamos colocar o carro na frente dos bois.

— Tudo bem. Mas como fica agora? — começou Fairte, um tanto confusa. — Vocês têm se falado? Ela vai se separar? Ou você vai ser amante? Não te criei para isso, Simone! Se liga, hein? Vocês vão assumir o namoro? Isso pode dar problema nos partidos de vocês, esse negócio de ser bissexual e tal? — De novo aquela palavra. Não gostava dela. — Fala alguma coisa, filha.

— Impossível responder tantas perguntas. Já esqueci metade delas. — Buscou parecer calma, mas ficou nervosa com aquele questionário.

— Vocês têm se falado? — recomeçou Fairte, fingindo estar irritada.

— Ontem de manhã, só. Por mensagem.

— E quando vocês vão se ver novamente?

Simone sorriu discretamente. Estavam na mesma cidade. Se veriam em breve. Se possível, naquele mesmo domingo.

Pela Nossa Nação - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora