Capítulo 24

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Esta é uma obra de ficção, feita por fã e sem qualquer relação com a realidade.

Soraya estava em Campo Grande, o que Simone sabia porque havia xeretando o Instagram dela, então se perguntava por que ela, viva, com celular e acesso à internet, não respondia às suas ligações e mensagens.

Havia se passado duas semanas desde sua festa de aniversário e o máximo que fizeram foi trocar mensagens que Simone julgou frias e impessoais.

A decisão de simplesmente ir procurá-la em sua casa foi natural à Simone que, mesmo não compreendendo o que se passava, sentia falta da companhia de Soraya.

No instante em que estava para descer do carro, estacionado do outro lado da rua, viu a amante dobrar a esquina. Decidiu então telefonar para que, o marido estando em casa, Soraya apenas entrasse no carro e saíssem por alguns minutos. Mas o telefone tocou, Soraya conferiu quem era e então o desligou, causando em Simone um desconforto inesperado. Desconforto, no entanto, que não permitiu que se prolongasse. Se havia um problema, que lhe dissesse. Não eram crianças.

Saiu do carro e, a passos duros e rápidos, alcançou Soraya quando esta estava para entrar em casa.

Ao toque familiar em seu ombro, Soraya não precisou de muito para saber de quem se tratava. Virou-se, confirmando o óbvio, e então disse um vamos entrar desanimado que preocupou Simone.

Com Soraya mentira contra si não se criava. Ela confrontava o outro. Nunca foi de recuar, de abaixar a cabeça. Porém, ao saber que Simone omitia algo — e nem mesmo sentia peso algum na consciência ao fazê-lo —, a decisão de se afastar surgiu de modo espontâneo.

A simples ideia de confrontar Simone a incomodava. Elas sempre se deram bem, desde a época da faculdade. E haviam superado o apoio dela ao Lula e a amizade com Janja, coisas que Soraya abertamente condenava. Portanto, não seria por aquilo que brigaria, ainda que aquilo a estivesse corroendo. Estava ambiguamente dilacerada e furiosa, então julgava ainda precisar de um período sozinha, o que, no entanto, a outra a impedia de ter.

— Seu marido está em casa? — perguntou, séria, enquanto Soraya segurava a porta para ela entrar.

Soraya fez que não com a cabeça; Simone entrou e, indo em direção à sala, notou como a outra havia decidido ficar próximo à porta, então parou e se virou para ela, cruzando os braços de modo severo e fechando de vez a cara.

— O que está acontecendo, Soraya? Não nos vemos já faz um tempo. Você ignora meus telefonemas e mensagens e agora nem consegue chegar perto de mim!

A alguns metros de si, Soraya não pôde evitar pensar em como Simone era linda. Como aquela era a postura que muitas vezes ela havia adotado para defendê-la no Senado. Como ela ficava muito bem naquele vestido azul. Como havia, dolorosamente, sentido sua falta. Quis correr e jogar-se em seus braços, como sempre fazia, mas se forçou ao contrário.

Ela se aproximou e foram ambas para a sala, sentando-se lado a lado no sofá.

— Então? — Simone insistiu, não escondendo a irritação.

— O Paulo saiu de casa — disse com pesar. — Uma decisão unilateral.

Simone arregalou os olhos, jamais havia imaginado que eles se separariam. Além disso, também jamais havia imaginado que perceber Soraya dilacerada com aquilo a faria ser tão facilmente fisgada pelo ciúme.

— Eu... sinto muito, minha querida — falou, no entanto, com sinceridade. Doía em si ver Soraya naquele estado. Ainda sentadas, Simone se aproximou e a abraçou forte. — Apesar de tudo, é seu casamento, seu marido... sei que gosta dele.

Ao contato tépido de suas peles e ao cheiro dela invadindo seus pulmões, Soraya sentiu-se arrepiar e sentiu também o aconchego familiar que só Simone lhe proporcionava. Seu peito doeu, e ela começou a chorar compulsivamente, apertando ainda mais Simone contra si, que correspondia sem saber exatamente o que dizer.

Quando a percebeu relativamente mais calma, ao menos não soluçava mais, Simone desfez o abraço e tocou com delicadeza sua bochecha. Com um sorriso triste por ver Soraya tão indefesa e abatida, beijou o outro lado da face. Uma, duas, três, quatro vezes. Beijos sutis, cheios de carinho e cuidado.

— Eu estou aqui, sempre estive. Você não precisa passar por isso sozinha.

A mão que estava na bochecha escorregou para o queixo, e Simone levantou o rosto de Soraya, fazendo-a mirar em seus olhos.

— E me desculpa ter sido tão dura quando cheguei. Não ter notícias suas estava me matando — confessou, aproximando-se mais, encostando delicadamente seus narizes, quase capturando a boca doce e saudosa de Soraya.

Mas Soraya virou o rosto, desconcertando Simone.

— Na verdade, eu preciso ficar sozinha — explicou ao ficar de pé. — Eu falava sério sobre tirar um tempo para mim.

— Não me quer por perto? — questionou, enrugando a testa ao também se levantar.

— Com todo respeito, Simone, você não é exatamente uma prioridade para mim nesse momento.

Seu ciúme, já tão perceptível para si, ficou de repente lancinante. Sabia que Soraya, apesar da relação extraconjugal, tinha apreço por Paulo, mas nunca poderia ter suposto que fosse assim tão grande a ponto de decidir enfrentar aquilo sozinha, sofrendo.

— Eu não sou uma prioridade? Que conversa é essa, Soraya?

— Simone, eu acho que devemos parar com esse... caso. Eu não quero mais.

Pela Nossa Nação - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora