Capítulo 29

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Esta é uma obra de ficção, feita por fã e sem qualquer relação com a realidade.

O celular sobre a mesa de cabeceira despertou às seis, mas Simone tardou para abrir os olhos, embora já estivesse acordada de fato há pelo menos meia hora.

Deitada de bruços, com a cabeça no travesseiro, ela correu a mão esquerda pelo lado vazio da cama. Cravando as unhas vermelhas no lençol branco, apertou os olhos com força, bufando de raiva, odiando-se pela ausência em sua cama, em sua vida.

Sabia o que tinha feito de errado e se consumia em culpa por um descuido que poderia ter sido evitado, por palavras mal ditas e mal colocadas que deveriam ter sido reformuladas antes que ousassem chegar à sua boca, escapar de seus lábios e ferir a única pessoa, além das filhas, por quem seria capaz enfrentar Deus e o mundo.

Quando já não havia como postergar sua estada preguiçosa entre os lençóis, decidiu por bem se levantar e se aprontar para um dia cheio, como normalmente já eram desde que assumiu o cargo como ministra, mas que vinham ficando cada vez mais, como se ocupar sua mente com os deveres da vida pública fosse evitar que as questões privadas a invadissem por inteiro, sem arrego ao seu peito cansado.

"Senhora Ministra, por gentileza, não se esqueça de me confirmar os compromissos da sua agenda para a semana que vem", dizia a mensagem de um de seus assessores, recebida assim que pôs os pés no chão.

Simone estava tão cansada na noite anterior que mal conseguiu abrir sua agenda, quem dirá revisar compromissos da próxima semana. Além disso, a reunião que tinha naquela sexta-feira já ocupava demais sua mente para que qualquer outra coisa fosse digna de sua atenção.

Além da própria Simone, estariam na reunião do meio-dia, marcada havia umas semanas, a Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, instituições de controle, ambientalistas, empresários e políticos ligados ao agronegócios e representantes de partidos apoiadores do governo. Entre eles, Soraya Thronicke.

Não se viam havia algum tempo, mas não o suficiente para que Simone tivesse esquecido seu sorriso, sua gargalhada, seu cheiro, sua pele quente, sua voz rouca quando estava nervosa, seu vício em estar sempre impecável; o tempo que passaram juntas, as trocas, as confidências, as declarações.

Chacoalhou a cabeça.

— Foco, Simone — disse a si mesma.

Mas bastou sair do banho e pegar as peças que tinha separado no dia anterior para que sua mente a levasse novamente à Soraya.

Sobre a cama já arrumada: calça, blazer e colete pretos, sendo o colete o tipo de peça que Soraya adorava vê-la usando; uma camisa social cor-de-rosa, que combinava perfeitamente com o tom de pele de Thronicke; e um par de saltos, que inevitavelmente trouxe a imagem de que, lado a lado, Soraya, com os seus um metro e cinquenta e três, que ela insistia em mentir dizendo ser cinquenta e nove, ficaria ainda mais baixinha.

Mordeu o lábio enquanto sorria e, mentalmente, torceu para que dentro de algumas horas a imagem se concretizasse.

Cumpridas as atividades da manhã, uma entrevista, uma coletiva de imprensa e um café no Palácio da Alvorada, Tebet foi levada pelo motorista, agora não mais prescindível como quando tinha seus encontros furtivos com Soraya, até o hotel em Brasília que fora reservado para seu último compromisso coletivo da semana; depois dele, pegaria um avião para São Paulo e, pelos próximos dois dias, passaria horas trancada em sua nova residência, revisando e controlando documentos que não eram urgentes, mas com os quais ela se obrigava a se dedicar o quanto antes para evitar os pensamentos nocivos de uma mente ociosa.

À porta do hotel, havia alguns jornalistas, cientes da reunião que estava para acontecer. Seu motorista foi o primeiro a notá-los, questionando em seguida se prefeririam, Simone e o assessor que a acompanhava, que ele estacionasse nos fundos.

Pela Nossa Nação - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora